Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 27 de março:
A
guerra já passa de um mês, os dois lados comemoram as mortes que impõem
ao inimigo, a destruição sem sentido prossegue, aumenta os preços no
mundo inteiro, reduz a produção agrícola, leva à fome populações que
nada têm com a luta. A propósito: por que a guerra entre Rússia e
Ucrânia?
Lembremos
que Vladimir Putin foi criado como agente secreto, com treino e licença
para matar. Mata há muito tempo, e agora em larga escala. Não
precisaria demonstrar sua barbárie: pode ter saído do serviço secreto,
mas o serviço secreto não saiu dele. E o Ocidente lhe ofertou as
desculpas.
O
fim da União Soviética, com Mikhail Gorbatchev, poderia ter levado à
cooperação econômica. Prometeu-se à Rússia que a OTAN, o tratado militar
ocidental, ficaria onde estava (mas a OTAN se expandiu, assustando
Putin). Dois dos maiores especialistas dos EUA se manifestaram contra a
expansão da OTAN: Henry Kissinger e George F. Kennan (este o ideólogo da
doutrina de contenção do comunismo, na Guerra Fria). A OTAN trouxe de
sua criação em 1949 um lema claro: “Manter os americanos dentro da
Europa, os russos fora e os alemães em baixo”. Com o tempo, a Alemanha
se tornou membro importante da OTAN, mas os russos foram mantidos fora. E
por que a OTAN se expandiu? Porque outros países quiseram se sentir
seguros: houve 14 que entraram, fora Bósnia-Herzegovina, Georgia e
Ucrânia, que estão na fila.
A
propósito, na dissolução da URSS, a Ucrânia entregou aos russos suas
armas atômicas, com garantia de paz. Em troca, enfrenta 190 mil
invasores.
Prevendo o passado
E
se as opiniões de Kennan e Kissinger tivessem sido levadas em conta?
Talvez nada fosse diferente: Putin já disse que a dissolução da URSS foi
uma das maiores tragédias da História. Ele não tem nada de comunista:
seu sonho é a volta do império que existia antes dos comunistas, tendo
vizinhos bem obedientes. Isso consta nos textos de seu guru Aleksandr
Durgin, uma espécie de Olavo de Carvalho que fala menos palavrões. Putin
já invadiu a Georgia e a Ucrânia. Que faria com a pequena Letônia, que
fechou seus portos, se os letões não tivessem entrado na OTAN? Olhando
para trás, é fácil ver que as promessas não foram cumpridas. Se fossem,
seria tudo igual.
Visão curta
Enquanto
os líderes fazem besteiras que levam gente à morte, liderados se
esmeram nas bobagens. Um restaurante se recusa a servir estrogonofe, os
maestros russos Valery Gergiev e Pavel Sorokin ficam fora da programação
em Paris e Londres. Imagine se os EUA, em guerra com Alemanha e Itália,
tivessem afastado de suas universidades o professor alemão Albert
Einstein e o físico italiano Enrico Fermi? Mas essas bobagens têm
precedente: 1964, no Brasil, logo após a tomada de poder pelos
militares. O Ballet Bolshoi não pôde se apresentar, nem a Seleção
soviética. Parece que era tudo comunista!
Lendo pesquisas
Lula
continua favorito, com 43% das intenções de voto, seguido por Jair
Bolsonaro, com 26%. Os bolsonaristas ficaram eufóricos com o resultado
do Datafolha, porque não indica vitória de Lula no primeiro turno. O
resultado ainda pode mudar: em 1989, Collor estava disparado na frente,
seguido por Lula e Brizola, praticamente empatados (Lula venceu Brizola e
foi para o segundo turno, onde perdeu para Collor). Mas tudo poderia
ter mudado: no meio da campanha, Sílvio Santos lançou sua candidatura, e
em dois dias já estava disputando o primeiro lugar. Se não dessem um
jeito de vetá-lo, Sílvio tinha boas probabilidades de ganhar. O problema
é que, hoje, quem seria o Sílvio Santos?
Nenhum dos candidatos da “terceira via” alcançou a casa dos 10%. Todos, somados, não chegam à magra marca de Bolsonaro.
Belo futuro por trás
A
situação do Brasil é complexa: o que há de opções é tão fraquinho que
Bolsonaro quer que Damares seja candidata à Câmara, mas não sabe por
qual Estado; e quer porque quer lançar seu ministro Tarcísio (sim, o que
era autoridade na presidência de Dilma) para o Governo paulista. Lançou
a confusão na cabeça do ministro: ele já cansou de circular pela
Rodovia dos Bandeirantes e ainda não descobriu onde fica o tal Palácio
dos Bandeirantes.
A coisa está tão pra trás que a grande novidade das eleições é o Alckmin.
Tico x Teco
De
um lado, um cavalheiro inocente, acossado por denúncias de pessoas que
confessaram crimes que certamente não cometeram, devolveram um dinheirão
que não tinham roubado e até cumpriram pena, tudo pelo simples prazer
de mentir. De outro lado, um cavalheiro que dedicou sua carreira à
formação de famiglia, investigado (a contragosto) por manter fantasmas
em sua folha de pagamento, para pegar a maior parte dos salários;
criticadíssimo por enfiar a mão em rachadinhas; deixou pra lá o pessoal
da propina na vacina, acha que não tem problema liberar pastores amigos
para distribuir verbas na Educação. Este combate tanto a corrupção que
até infiltrou gente sua entre os milicianos, certamente para apurar
melhor o modus operandi.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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