Até 2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o 462 entre 500 nadadores. Ana Paula Henkel para a revista Oeste:
Há
mais de cinco anos venho escrevendo e falando sobre o que jamais
poderíamos imaginar, principalmente nós mulheres: ver homens biológicos
competindo no esporte feminino. Já escrevi uma carta aberta ao Comitê
Olímpico Internacional e uma dúzia de artigos detalhando todos os pontos
absurdos dessa política nefasta de identidade de gênero que vem
prejudicando meninas e mulheres em todo o mundo e em quase todos os
esportes.
Não
é preciso repetir neste artigo todas as informações óbvias das aulas de
biologia da 5ª série, basta ter mais de dois neurônios para entender
que homens têm corações e pulmões maiores, maior capacidade
cardiorrespiratória, maior oxigenação sanguínea devido à maior produção
de glóbulos vermelhos, fibras mais rápidas, densidade óssea superior…
Homens são biologicamente diferentes de mulheres. E não há nada de
controverso ou polêmico nisso. Simples assim. Mas parece que o mundo,
depois de passar por duas grandes guerras, decidiu entrar de vez numa
guerra contra a ciência. E, nesta semana, mais uma vez aplaudindo um
homem biológico batendo recordes e vencendo títulos em uma competição
feminina. Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com
quase uma piscina de vantagem e sagrou-se “campeã” (com aspas mesmo) da
liga universitária norte-americana (NCAA) foi o assunto da semana. Até
2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a
número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o número 462
entre 500 nadadores.
Durante
esses anos, venho tentando trazer um pouco de racionalidade para o
debate público. Essa invasão de homens biológicos nos esportes femininos
não é apenas errada, é um ataque e um desrespeito inaceitável às
mulheres que seguem à risca as políticas antidoping pela proteção do
esporte limpo. A própria discussão é, em si, ultrajante e humilhante. O
debate honesto sobre esse assunto não pode ser embasado na identidade
social de um indivíduo, que, obviamente, deve sempre ser respeitada.
Como as pessoas decidem viver suas vidas é uma questão de foro privado.
Mas decisões sociais e particulares não criam direitos automáticos e
imaginários. Esse assunto é sobre a clara exclusão de meninas e mulheres
no esporte feminino, é sobre ciência e sobre identidade biológica,
pilar sagrado e justo nos esportes. Esse assunto é sobre honestidade.
Hoje,
no entanto, não focarei na parte física desse debate que engloba, entre
tantas verdades chatas ao politicamente correto, políticas antidoping.
Atletas trans, hoje competindo com mulheres, como Lia Thomas, Tiffany
Abreu, Fallon Fox ou Alana McLaughlin, um ex-soldado das Forças
Especiais do Exército norte-americano, não sabem o que acontece no
universo feminino do esporte. Mulheres são muito mais policiadas dentro e
fora de competições do que homens. Uma pequena gota a mais de
testosterona em um corpo feminino pode significar uma enorme diferença, o
caminho que separa o ouro da prata, a classificação da eliminação ou a
glória do fracasso. As diversas vantagens que as mulheres trans possuem
devido aos anos de exposição à testosterona desde a infância não são
amenizadas ao manter a quantidade hormonal recomendada pelo Comitê
Olímpico Internacional de até 10 nanomols/litro por 12 meses (mulheres
têm em média entre 2,8 e 3,2 nanomols/litro). Não existe nenhuma
pesquisa que possa comprovar que a supressão hormonal nesse período
possa reverter todas as características físicas superiores da genética
masculina depois de passar 20 ou 30 anos de exposição a altas doses de
testosterona. Ou se é possível, sequer, reverter isso com anos sem o
hormônio masculino.
A
guerra, no entanto, não foi declarada apenas à ciência ou às mulheres
no esporte. O objetivo de toda essa agenda nefasta que inclui
revisionismos históricos, derrubada de estátuas e a vida baseada em
“construções sociais” não é “proteger” as minorias ou sequer as pessoas
trans, mas destruir a própria ideia de conhecimento objetivo. Se até a
natureza biológica do ser humano é negada, tudo, e absolutamente tudo
pode ser negado. Esse é o maior objetivo desse “movimento
revolucionário”. Todo e qualquer processo revolucionário apresenta
inicialmente uma fase de desestabilização da sociedade, para em seguida
impor uma nova ordem despótica. Se hoje os revolucionários prometem mais
“direitos” às “minorias”, na sequência das páginas deste enredo as
mesmas minorias serão descartadas, como mostra a própria história. E
essa guerra foi declarada de vários frontes.
Nesta
semana, aqui nos Estados Unidos, no Comitê Judiciário do Senado
norte-americano, aconteceu a sabatina de Ketanji Jackson, a indicada de
Joe Biden à Suprema Corte. A senadora Marsha Blackburn, do Tennessee,
perguntou a Jackson o que deveria ter sido a pergunta mais fácil já
feita em uma sabatina para uma das cadeiras da famosa SCOTUS: “Você pode
definir o que é uma mulher?”. Nomeada publicamente por Biden por ser
negra e mulher, imagine como Jackson deve ter ficado aliviada ao ouvir
uma pergunta tão banal. Nada de casos históricos ou jurisprudências
obscuras e precedentes do século passado da Corte. Tudo o que os
republicanos querem é uma recapitulação de um dos primeiros capítulos de
Biologia: O que é uma mulher.
Ketanji
Jackson, uma juíza de Cortes inferiores famosa por aplicar penas bem
menores a criminosos, inclusive pedófilos, poderia ter dito com
incredulidade: “Senadora, essa é uma pergunta simples que qualquer
estudante do ensino médio pode responder. Uma mulher é um ser humano com
dois cromossomos X e isso é facilmente detectável em um exame de
sangue. As mulheres têm pélvis mais largas, estruturas ósseas diferentes
das dos homens e genitália muito diferente. Geralmente, é bastante
óbvio que são mulheres, só de olhar para elas. As mulheres têm genética
diferente porque somos projetadas para fazer coisas diferentes. A
natureza é real. As mulheres menstruam, engravidam, dão à luz e depois
amamentam. Os homens não fazem essas coisas porque eles não podem. Joe
Biden me nomeou para a Suprema Corte porque sou mulher. O presidente
sabe exatamente o que é uma mulher. Se ele não soubesse, não teria me
escolhido.”
Teria
sido fantástico se ela tivesse dito isso. No entanto, Ketanji Jackson
disse que não poderia fornecer uma definição sobre o que era uma mulher
porque “não era bióloga”. Jackson, uma indicada à Corte mais importante
dos Estados Unidos da América, respondeu sem o menor constrangimento
que, por não ser bióloga, não poderia dizer o que é uma mulher. Mas a
verdade é que não faria a menor diferença se ela fosse bióloga (ou
qualquer pessoa que queira enfiar em nossa goela abaixo que atletas
femininas trans não são homens), porque ninguém no Partido Democrata, no
Psol, PT ou na cega militância LGBT se importa de verdade com o que os
biólogos pensam sobre sexo biológico. Os biólogos foram banidos junto
com os Pais Fundadores da América, com todas as estátuas de heróis do
passado e com a liberdade de expressão.
Em 2022, depois de ouvirmos por dois anos “Ciência, ciência, ciência!”, o poder da ciência e da literatura humana desmorona à luz do dia diante do lobby trans. Até uma indicada para a Suprema Corte norte-americana, mesmo com todas as suas credenciais acadêmicas, tem a cara de pau de mostrar seu pedágio lobista e diz, sem o menor constrangimento, que não sabe o que é uma mulher porque não é bióloga. O mais curioso e surreal disso tudo é que, se voltarmos na sabatina de Brett Kavanaugh, uma das nomeações de Donald Trump para a Suprema Corte e acusado de última hora de um suposto assédio sexual quando ainda estava no High School, lembramos que fomos bombardeados com o mantra de que devemos acreditar cegamente em todas as mulheres, independentemente de estarem ou não dizendo a verdade. Elas são mulheres, portanto, em nome da justiça social, devemos simplesmente aceitar o que elas dizem. Como Kamala Harris afirmou certa vez: “A palavra de uma mulher é como uma declaração juramentada”.
Joe
Biden, ainda nas primárias democratas em 2020, rechaçou que há
diferenças entre homens e mulheres: “Nós, de fato, temos de mudar
fundamentalmente a cultura, a cultura de como as mulheres são tratadas.
Nenhum homem tem o direito de levantar a mão para uma mulher com raiva, a
não ser em autodefesa, e isso raramente ocorre. Por isso, temos de
mudar a cultura”. Até o estranho e inepto Joe Biden sabe que homens e
mulheres não são iguais. Não estamos dizendo que um é moralmente melhor
que o outro. Somos moralmente iguais, mas somos diferentes nos níveis
mais profundos, começando pela biologia. Todos nós crescemos sabendo
disso, mas agora a turba alimentada pelos jacobinos
LGBTQTVBGRTYWXCFRET+++++ está mandando fingir o contrário, negar a
natureza e suprimir seus instintos mais básicos e valiosos de proteção
às mulheres. Estão nos dizendo que não temos o direito de ficar
chateadas quando um homem biológico apanha de uma mulher trans, seja num
bar, seja num ringue ou numa competição desleal na piscina. Estamos
prontos para suprimir esses instintos? Estamos prontos para viver em uma
sociedade que não reconhecerá as mulheres? Estamos prontos para sermos
colocados em mais uma — depois de dois eternos anos na pandemia! —
espiral de silêncio? Não fale, não questione, não pergunte — ou terá a
cabeça degolada pela turma “love is love”.
O
esporte feminino está sendo desfigurado a passos largos. Por mais que
eu tenha me impressionado com tamanha repercussão positiva por parte do
público nesta semana com o caso de Lia Thomas, a lei do silêncio
continua imperando entre jogadoras, nadadoras e atletas femininas. Mas o
perigo dessa agenda vai além das fraudes no esporte feminino: o que
acontecerá com os sistemas judiciários se fingirmos que homens e
mulheres são exatamente iguais, que são meras “construções sociais”? A
afirmação da indicada de Biden à Suprema Corte de que não podemos dizer
quem é homem e quem é mulher é um sintoma da transformação da sociedade
pela perigosa agenda identitária. Em um futuro não muito distante, a
maneira como administramos a Justiça também será transformada, começando
com as leis antidiscriminação. Se não podemos dizer com certeza quem é
uma mulher, como vamos aplicar a Lei Maria da Penha ou todas as medidas
de proteção contra violência doméstica, estupros e assédios? Nos Estados
Unidos, o Título IX, uma lei dos anos 1970 que proíbe a discriminação
sexual em escolas e universidades, está sendo usado hoje por meninos
biológicos que “se sentem” como meninas. Se não usamos o sexo biológico
como um aferidor justo, como podemos evitar a discriminação com base no
sexo biológico?
O
objetivo do movimento trans não é convencer ninguém de que a biologia
não é real. Isso seria impossível de ser realizado. Qualquer um soaria
ridículo se tentasse articular isso, muito menos explicar. O objetivo
desse movimento é muito diferente. A questão central é fazer com que
todos nós repitamos uma mentira, algo que sabemos perfeitamente que não é
verdade, fitando assustados a guilhotina acima de nossos pescoços.
“Sim, Lia Thomas é uma mulher que ganhou a competição de natação porque
treinou mais do que as outras garotas. Lia Thomas mereceu vencer. Lia
Thomas é incrível e sua vitória não foi trapaça. Não notamos também que
seu corpo de homem continua com todas as características intactas.”
Pronto. Ufa… Dessa vez não perdemos o pescoço.
E
é esse mantra que exigem que repitamos, não porque eles se importam com
Lia Thomas, com Tiffany, Fallon Fox ou qualquer outra pessoa trans.
Eles não se importam, porque, se importassem, pensariam duas vezes antes
de expor essas mulheres trans e a própria comunidade ao ridículo. Fazer
com que todos nós finjamos acreditar em algo que não acreditamos é o
único objetivo, porque, se eles podem fazer com que acreditemos em algo
que sabemos que é falso, eles venceram. Eles controlam o seu e o meu
cérebro.
Então,
toda essa insanidade negacionista não é sobre pessoas trans. É sobre
todos nós, e eles apostaram alto. E é exatamente por isso que a censura é
tão intensa. O “debate” sobre transgenerismo é definido pela censura,
fazendo você calar a boca e não permitindo que você perceba o óbvio.
Quando você menos perceber, você já entrou na espiral de silêncio
imposta por eles. Não há nenhuma tentativa de persuadir nenhum de nós
por argumentos válidos em uma discussão com o mínimo de honestidade. Não
há nenhuma ideia baseada em fatos. Você não pode responder: “Mas então
os homens podem se tornar mulheres apenas desejando ser mulheres?”. Isso
não é permitido e, se fosse, jamais responderiam. Só nosso silêncio e
as boquinhas fechadas importam. O primeiro movimento sempre é a censura e
o segundo movimento, inevitavelmente, é a punição. Resolveu falar?
Cabeças no chão, contas de redes sociais suspensas, perseguição virtual,
cancelamentos…
Mas
ainda há enorme esperança nesse novo mundo orwelliano em pessoas como
Caitlyn Jenner, ex-atleta e campeão olímpico de decatlo masculino como
Bruce Jenner. Jenner se identificou como mulher trans em 2015 e é
veementemente contra homens biológicos competindo com mulheres no
esporte feminino. Recentemente, ela disse em um vídeo que esse assunto é
apenas uma questão de justiça: “Sou contra meninos biológicos que são
trans poderem competir com garotas. Simplesmente não é justo e nós temos
de proteger o esporte feminino nas escolas”. Essa semana, Caitlyn
declarou que a vitória de Lia Thomas não é justa, que o corpo da
nadadora é claramente o corpo de um homem que passou por toda a
puberdade envolto em testosterona. Claro que Jenner foi devorada pelo
tal feminismo que jura por todos os santos proteger e lutar pelas
mulheres.
Há
uma frase atribuída a Voltaire que diz que quem pode fazer você
acreditar em absurdos pode fazer você cometer atrocidades. Um homem não
pode se tornar uma mulher diminuindo sua testosterona. Nossos direitos
não devem — e não vão — terminar onde os sentimentos de alguns começam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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