A premissa de que a maioria dos homicídios é devida a ódio racial está errada. A maior parte dos assassinatos nos EUA são entre pessoas da mesma raça/etnia, seja ela qual for. Eduardo Fangueiro para o Observador:
Fazendo
nós parte da sociedade mais pragmática, educada, lúcida, informada,
inteligente e onde a partilha e discussão é resultado do mais longo
período democrático da humanidade, é importante entender antes de mais a
razão da permanência de falácias ou narrativas desviantes para perceber
a razão de existência das mesmas.
Parece
um contrassenso que numa altura onde a abundância de conhecimento
galopa e o secularismo parece singrar se continue a preservar
religiosamente tantos dogmas como verdades absolutas e inquestionáveis,
as quais denominamos vulgarmente como narrativas.
É
precisamente algumas dessas ideias que pretendo rebater com um
ceticismo saudável e necessário para não tropeçar nas falácias
contemporâneas. Neste seguimento, venho-vos falar hoje de um tema que
tem tanto de controverso como de emocional: o racismo, ou, mais atual
ainda, o racismo sistémico, sistemático, estrutural ou qualquer outro
adjetivo que pretendam anexar, tentando trazer um pouco de objetividade
com factos a um tema que é fundado na compaixão mais do que na
racionalidade conquistada com os valores ocidentais do iluminismo.
Não
obstante a importância das intenções é crucial entender os efeitos das
ações pois só essa visão pragmática permite conhecer a verdade e tirar
daí as ilações certas para melhorar a vida de todos na sociedade.
O que é o racismo sistémico?
É
importante acertar nas definições não estejamos todos a discutir
conceitos diferentes para a mesma terminologia. A forma como o defino é:
o preconceito generalizado com base na cor ou etnicidade das pessoas
que as impede recorrentemente de proliferar na sociedade somente devido
às suas características inatas. As premissas para aceitar esta definição
são a existência de barreiras legais ou barreiras enraizadas na cultura
da sociedade que as impeçam desproporcionalmente de singrar na vida.
Vamos então por partes.
Felizmente
no século XXI, no mundo ocidental, já não existem barreiras legais
“racistas”, isto é, ninguém tem impedimentos legais consoante a sua cor
ou etnia de exercer a sua cidadania, de entrar em determinados lugares
ou de participar na vida da comunidade. Continua, no entanto, a haver
entraves por parte de alguns membros da comunidade em aceitar esse facto
consumado do século XXI, a igualdade perante a lei. Mas se não existem
leis racistas não significa que não exista uma cultura racista que
recorrentemente discrimine e impeça as pessoas de certa etnia de viver a
sua vida. Vamos então a factos onde estes mais abundam nesta
nomenclatura étnica/racial e onde as tensões raciais sempre foram foco
crucial da vida em quotidiano, os Estados Unidos da América (EUA).
Vamos
então desmontar algumas ideias feitas, comecemos pela ideia de que é o
ódio racial que provoca a maioria dos homicídios nos EUA. Estes dados
são especificamente interessantes uma vez que é difícil estarem
enviesados, visto tratar-se de um crime de gravidade extrema e como tal
os registos são especialmente minuciosos.
Most murders were intraracial – According to the U.S. Department of Justice. From 1980 through 2008
84% of white victims were killed by whites
93% of black victims were killed by blacks
Conforme
podemos observar na imagem acima, segundo o Departamento de Justiça
norte-americano, com dados desde 1980 até 2008, a grande maioria dos
assassinatos são entre pessoas da mesma raça, isto é, em que a vítima e o
agressor são da mesma cor/etnia, independentemente da cor dos mesmos.
Também de acordo com o Federal Bureau of Investigation (FBI) a tendência mantém-se e podemos observar no gráfico seguinte (Expanded Homicide Data Table 6) a distribuição dos homicídios pelos mesmos parâmetros étnicos.
Podemos
assim coerentemente concluir que a premissa de que a maioria dos
homicídios é devida a ódio racial não só está errada como a informação
nos leva logicamente para premissa oposta. A maior parte dos
assassinatos nos EUA são entre pessoas da mesma raça/etnia, seja ela
qual for.
Podemos
assim coerentemente concluir que a premissa de que a maioria dos
homicídios é devida a ódio racial não só está errada como a informação
nos leva logicamente para premissa oposta. A maior parte dos
assassinatos nos EUA são entre pessoas da mesma raça/etnia, seja ela
qual for.
É importante realçar a distribuição étnica
no país por uma questão de idoneidade na análise, como demonstra o
gráfico em baixo, Racial categories, baseado nos census de 2020 e
cruzá-lo com estes mesmos dados relativos aos homicídios. Anúncio desde
já que apenas faço esta análise porque um dos principais argumentos
utilizados pela narrativa que se diz anti-racista é precisamente de que
existe um número desproporcional de presos de raça negra nas prisões dos
EUA e que tal é uma demonstração per si de racismo sistémico.
Tendo
em conta os dados do FBI devemos questionar-nos se será razoável que
uma população que se estima representar 12% da população geral ser
responsável por 55.9% de todos os homicídios e em que medida estes dados
coabitam com o racismo sistémico que tentamos abordar objetivamente.
Realçando novamente que cerca de 90% destes crimes são cometidos por um
agressor da mesma raça/etnia.
Será
portanto instintivo, na minha opinião, presumir que se trata sobretudo
de problemas culturais mais do que de discriminação. O facto agrava-se
quando destes 12% a grande maioria são homens, isto é, falamos de cerca
de 7% da população geral responsável por 55.9% dos crimes de homicídio
nos EUA. Contra estes factos podemos argumentar, e bem, que os problemas
são do foro cultural, sejam eles a violência entre gangs ou a falta de
uma figura paternal para cerca de 65% dos jovens afro-americanos.
Não devemos desvalorizar este problema mas antes enaltecê-lo, uma vez
que é obrigando as mães a criar filhos em condições menos desejáveis,
sozinhas e sem ajuda, que os filhos ficam à mercê dos gangs, da “vida de
rua” e de uma cultura muitas vezes violenta que só os prejudica no
futuro, como relata e personifica a cultura machista ainda hoje
enraizada no hip-hop.
Quem
o diz felizmente não sou só eu e os dados, nem nenhum membro do partido
republicano, é o ex-presidente dos EUA Barack Obama no seu discurso do dia do pai em 2008:
“But if we are honest with ourselves, we’ll admit that what too many
fathers also are is missing — missing from too many lives and too many
homes. They have abandoned their responsibilities, acting like boys
instead of men. And the foundations of our families are weaker because
of it.
You
and I know how true this is in the African-American community. We know
that more than half of all black children live in single-parent
households, a number that has doubled — doubled — since we were
children. We know the statistics — that children who grow up without a
father are five times more likely to live in poverty and commit crime;
nine times more likely to drop out of schools and 20 times more likely
to end up in prison. They are more likely to have behavioral problems,
or run away from home or become teenage parents themselves. And the
foundations of our community are weaker because of it.”
Obama
reflete na importância da família, em como os pais fora do ambiente
familiar e longe dos seus filhos aumentam estatisticamente a propensão
para o fracasso na vida dos jovens afro-americanos, tendo estes 5 vezes
mais probabilidade de viver na pobreza e cometer crimes, uma
probabilidade 9 vezes superior de desistir da escola e uma probabilidade
20 vezes maior de serem presos. Diz também que têm maior probabilidade
de ter problemas comportamentais, de fugir de casa ou tornarem-se pais
adolescentes e que com isto toda a comunidade afro-americana perde.
A violência policial é também outro dos temas quentes deste debate mas afinal o que dizem os números?
Embora
haja um grande número de homicídios por parte da polícia nos EUA, os
números não parecem fugir da tendência de que falámos. Se há mais de 50%
de homicídios por parte de afro-americanos é normal que seja
proporcional ou semelhante os número quando falamos de encontros com a
polícia.
Por
exemplo, em 2018 houve 209 mortes de afro-americanos por parte da
polícia, segundo mostra o gráfico anterior, sendo que a etnia do polícia
não vem especificada no mesmo. No entanto, nesse mesmo ano houve 2925
mortes por homicídio. Isto é, 7,4% do total das mortes terão sido
cometidas por polícias, dos quais alguns serão afro-americanos, outros
brancos, hispânicos e por aí adiante. Torna-se infelizmente risível a
forma como este tema é representado na comunicação social e a
disparidade entre o que realmente são os factos versus o que pretendemos
que sejam.
Há vários estudos que confirmam
que tendencialmente um polícia tem maior probabilidade de disparar
quando o criminoso é da mesma etnia, como demonstra a tabela 14 do U.S. Department of Justice
(abaixo). Isto acontece pelo medo de ser acusado de racismo mas também
porque os polícias normalmente são destacados para perto da sua zona de
residência, o que faz com que a distribuição racial/étnica dos polícias
seja semelhante à da comunidade onde estão inseridos.
É
importante relembrar depois disto que nem toda a discriminação é
violenta e que muitas vezes acontece no dia-a-dia mas é vital combatê-la
com uma narrativa verdadeira de melhoria em vez de constante
vitimização e ou através de uma postura auto-indulgente. É crucial
combater casos específicos que podemos provar em vez de optar por
mudanças estruturais que na maioria das vezes não são mais do que areia
para os olhos de quem defende genuinamente as causas.
Com isto reforço que há muitas injustiças, que deve haver reformas como o First Step Act ou FUTURE Act,
e muitas outras, mas reitero que estas não serão a solução para a maior
parte dos problemas ou tensões raciais. Não é através de protestos onde
morrem dezenas de pessoas (muitas delas afro-americanas), com as
melhores intenções mas com consequência nefastas, que vamos mudar o
paradigma. O mundo não é perfeito, nem igual para todos e com certeza
teremos impedimentos nas nossas vidas que as tornam pouco justas e
difíceis, sejam elas discriminações com base na nossa altura, peso,
beleza, idade, etnia, sexo, rendimentos e uma infinitude de outros
fatores que nos rodeiam mas não nos definem. O importante é como o
encaramos e o que fazemos dessas situações/injustiças, visto que elas
certamente existem.
O
mito da igualdade não é procurar que todas as raças e etnias sejam
tratadas de igual forma na comunidade mas esperar que, sendo-o, não haja
diferenças nos resultados. É simplesmente impossível essa igualdade,
porque antes de sermos pertencentes a qualquer grupo somos indivíduos e,
como tal, dadas as mesmas oportunidades teremos escolhas que nos irão
projetar para resultados distintos. Nomear essas diferenças como
preconceito é perpetuar a falta de autoavaliação que não nos permite
melhorar como indivíduos, povo e sociedade.
Alguns dos nomes mais proeminentes na vertente contra-narrativa do racismo sistémico são os afro-americanos Thomas Sowell, Clarence Thomas, Larry Elder, Coleman Hughes, Candace Owens, David Webb, Tommy Sotomayor e Brandon Tatum. Outros escolhem não tomar parte nestas “guerras culturais” mas também partilham das ideias contra narrativa como Denzel Washington e Morgan Freeman
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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