Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, 04 de agosto:
Desemprego
de quase 15% da população? Bobagem: o ministro pôs a culpa no IBGE.
Quase 600 mil mortos na pandemia? Bobagem: o ritmo se reduziu, morrem
menos de mil por dia, no máximo o equivalente a cinco desastres do avião
da TAM em Congonhas. Preços da comida multiplicados? Bobagem: quem
comia carne nem lembra mais como era, quem comia frango come ovo, quem
comia ovo irá, um dia desses, receber a nova Bolsa Família.
O
Governo tem coisas mais importantes a fazer: por exemplo, condecorar a
primeira-dama Michelle Bolsonaro com a Medalha do Mérito Oswaldo Cruz,
destinada a pessoas com atuação destacada “no campo das atividades
científicas, educacionais, culturais e administrativas” que obtêm
“resultados benéficos à saúde física e mental dos brasileiros”. Além de
sua esposa, Bolsonaro condecorou seus ministros da Educação,
Comunicação, Turismo, Relações Exteriores. Outros beneméritos
homenageados são os presidentes da Câmara e do Senado. E que é que
fizeram para receber esta bela homenagem, com o nome de Oswaldo Cruz,
pai da vacinação no Brasil?
O
ministro do Turismo, por exemplo, levou cinco assessores para reunião
internacional, onde havia três vagas para o Brasil, incluindo a dele. Um
bom passeio é benéfico à saúde física e mental de qualquer pessoa, e os
caronas são brasileiros. Foi este ministro que, na sanfona, fazendo a
trilha sonora de Bolsonaro, destroçou a Ave Maria, alegrando quem odeia
música.
E Michelle?
A
primeira dama é um motivo de orgulho para seu marido presidente. Pois
não é que, percebendo como o frio maltratava os moradores de rua, foi à
luta e conseguiu 148 agasalhos para doar aos pobres? Como o passarinho
jogando água com o bico num dos incêndios da Amazônia, ela fez sua
parte. Foi de coração, fez o melhor que pôde. E conseguiu 148 agasalhos
(número oficial) sozinha, sem ter sequer um Queiroz para ajudá-la.
Tudo sozinha, apenas com os meios de que dispunha: carro oficial, seguranças e motorista.
A patriota
É
a terceira condecoração que a esposa de Bolsonaro recebe em seu
Governo. Já ganhou a Medalha da Vitória, que normalmente é concedida a
quem contribuiu para divulgar a coragem dos soldados que combateram o
fascismo na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, participou de
conflitos internacionais defendendo o Brasil ou integrou missões de paz.
Foi agraciada com a Ordem do Mérito da Defesa, destinada a homenagear
quem prestou “relevantes serviços ao Ministério da Defesa ou às Forças
Armadas do Brasil”. E agora recebe a Medalha do Mérito Oswaldo Cruz,
categoria Ouro, a mais alta.
O
caro leitor não sabe o que foi que Michelle fez para receber as
medalhas? Vá pesquisar, uai! Este colunista é que não vai combater sua
ignorância sobre o tema – até porque também não sabe.
A recordista
O fato é que Michelle tem mais medalhas do que a olímpica Rebecca.
O recordista
Ciro
Nogueira, o novo e todo poderoso chefe da Casa Civil de Bolsonaro,
assumiu o cargo e deixou a cadeira no Senado para sua suplente – a
própria mãe. Ciro joga o jogo: nos 26 anos em que foi deputado e
senador, nomeou o pai, a mãe e os quatro irmãos para, digamos, trabalhar
a seu lado. A família acima de tudo – que belo exemplo de amor ao lar!
Ciro merece o que vem por aí: é um superministro, como antes dele foram
Sérgio Moro e o Posto Ipiranga Paulo Guedes.
Seu único problema é, como eles, pensar que manda.
Fazendo as contas
O
senador gaúcho Luis Carlos Heinze, do PP, da tropa de choque do
presidente, se orgulha de dizer que trabalha muito e faz 300 ligações de
celular por dia. A menos que seja como o João Doria ou o José Serra,
que dormem quatro horas por noite, Heinze deve ficar acordado 16 horas
diárias, a média dos seres humanos. E vamos às contas: mesmo que seja
The Flash e consiga fazer ligações de no máximo três minutos, ficará
56,75 minutos por hora no celular.
Em
que tempo consegue realizar o restante de suas atividades básicas –
decorar o que o Gabinete do Ódio manda repetir, trabalhar em projetos
para o país, dedicar-se àquilo que o presidente chama de discursos e o
resto do país apelidou de número dois, traçar um espeto corrido, tomar
um chimarrão, vestir-se? Um fenômeno.
Inculta Flor do Lácio
O
governador João Doria inaugurou o Museu da Língua Portuguesa (uma
beleza: bem melhor do que o que pegou fogo, e que já era muito bom) e
convidou todos os ex-presidentes da República, mais os presidentes de
todos os países de língua portuguesa. Marcelo Rebelo, de Portugal, e
Jorge Fonseca, de Cabo Verde, vieram. Angola mandou o ministro da
Cultura. Temer e Fernando Henrique compareceram. Sarney teve um problema
de saúde.
Bolsonaro, Lula, Dilma, Collor? Esse negócio de cultura é chato!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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