Quem afirmou, em 21 de outubro, que “não compraria a vacina do Doria” ficou sem opção (por absoluta incúria) e agora quer tirar a primeira foto com o primeiro vacinado. Artigo do professor José J. de Espíndola para a Gazeta do Povo:
“É simples assim: um manda e outro obedece.” (Eduardo Pazuello, em 22 de outubro de 2020)
A
frase acima foi proferida por Eduardo Pazuello, após o presidente Jair
Bolsonaro tê-lo desautorizado publicamente, ao mandar cancelar o
protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina
Coronavac, anunciado no dia anterior pelo ministro, em uma reunião com
governadores.
Já
em meados de maio, tão logo tomou posse como ministro interino da
Saúde, Pazuello alterara – por determinação de Bolsonaro – o protocolo
da pasta junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) para incluir a cloroquina
no tratamento de pacientes com Covid-19, coisa que seus dois
antecessores se recusaram a fazer.
Eduardo
Pazuello, o Obediente, ministro da Saúde de Jair Bolsonaro, em
pronunciamento feito em 17 de janeiro, declarou: “Não podemos, em
hipótese alguma, relaxar as medidas preventivas: uso de máscaras, álcool
em gel na mão, distanciamento social, [evitar] aglomerações, e todas as
medidas que a gente conhece”. Esta afirmação de Pazuello surpreende,
porque ela contraria o discurso e o comportamento de Jair Bolsonaro
desde o começo da pandemia. Se tivesse feito esta afirmação 30 dias
atrás, Pazuello teria sido demitido em desgraça por Jair Bolsonaro.
Mudou
Bolsonaro? Parece que a realidade se impôs de forma avassaladora sobre o
presidente; daí a desenvoltura de Pazuello no desabalado pronunciamento
deste domingo.
“Uso
de máscaras, álcool em gel na mão, distanciamento social, evitar
aglomerações” etc. é tudo o que Jair Bolsonaro jamais respeitou. Aliás,
sempre debochou dessas cautelas e incentivou, por palavras e atos, o
contrário. Mas agora, ante o quadro assumido pela pandemia no mundo, e
principalmente no Brasil, Bolsonaro parece ter jogado a toalha: não fala
mais em “remédio” para a doença, não nega mais a vacinação ao dizer que
não se vacinará, não mais afirma que Covid-19 é só uma “gripezinha”
para a qual não será necessária a vacinação, não mais acusa de “maricas”
quem pretende se vacinar, não ameaça mais a população com mudanças
genéticas (“transformação de gente em jacaré”). Em suma, amarelou!
Amarelou e se desmoralizou. Desmoralização, mesmo sem considerar a sua
prévia desmoralização por aderir ao Centrão e pela constrangedora
convivência e conspiração com corruptos.
A
visão diária televisiva de 52 países vacinando seus cidadãos não pode
mais ser enfrentada com posturas arrogantes e frases imbecis que ofendem
a ciência e a história vencedora da vacina no mundo: sarampo, raiva,
poliomielite (o antigo flagelo norte-americano dos verões), hepatite A e
B, tétano, difteria... São 13 vacinas que toda criança deve tomar.
Quem
afirmou, em 21 de outubro, que “não compraria a vacina do Doria” ficou
sem opção (por absoluta incúria) e agora quer tirar a primeira foto com o
primeiro vacinado, mesmo que a vacina seja produzida na China, ou no
Butantan de São Paulo, sob a iniciativa de Dória. A primeira foto com o
primeiro vacinado será, se ocorrer, a mais rematada demagogia política
de Jair Bolsonaro.
Mas
há um probleminha: todo o estoque (6 milhões de unidades) de vacinas
está em São Paulo. Foram produzidas pelo Butantan ou importadas por São
Paulo, enquanto Bolsonaro dizia que não as compraria. Agora ele está
requisitando todo o estoque; uma desmoralização que a seita bolsonarista
não contará, ou arrumará uma versão para explicar.
A
grande tragédia é que, por conta da incúria bolsonarista (quem salvava
da Covid-19 era a hidroxicloroquina, lembram?), o Brasil, com uma
população de 210 milhões de habitantes, conta com apenas 6 milhões de
unidades, capazes de imunizar (hoje) somente 3 milhões de pessoas, ou
1,4% da população nacional.
Pelo
que se relatou acima, existe maior crime de responsabilidade que um
governante possa cometer? Por muito menos Dilma Rousseff foi justamente
impedida da presidência da República. Pense nisso.
José
J. de Espíndola é engenheiro mecânico, mestre em Ciências em
Engenharia, doutor (Ph.D.) pela Universidade de Southampton
(Inglaterra), doutor “honoris causa” pela UFPR e professor titular
aposentado da UFSC.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

Nenhum comentário:
Postar um comentário