Quem disse que meus pensamentos precisam ser compartilhados com o mundo, o tempo todo? Que tipo de egocentrismo é esse, que me faz achar necessário comunicar ao mundo cada pequena ideia que cruza meus neurônios? Flavio Quintela para a Gazeta do Povo:
Faz
uma semana que abandonei meu perfil no Twitter e saí de todos os grupos
no WhatsApp. Minha decisão foi tomada por causa da censura explícita
que Twitter e Facebook impuseram a Donald Trump e diversos outros
influenciadores de direita. Não vejo lugar para mim nessas redes sociais
com políticas seletivas de cerceamento da liberdade de expressão em que
ditadores como Kim Jong-Un tenham seus perfis intactos e o presidente
dos Estados Unidos seja impedido de falar porque, na opinião dos que
comandam essas plataformas, incitou o ataque ao Capitólio (ainda que, de
fato, ele não o tenha feito).
Durante
essa semana, o único perfil que usei foi o da rede Gab, cuja promessa
desde seu início é de liberdade total de expressão, independentemente da
orientação ideológica do usuário. Por ser uma rede que só funciona via
navegador de internet – foi planejada assim para não se tornar refém dos
donos das plataformas móveis, leia-se Apple e Google –, o acesso não é
tão fácil como os tradicionais Twitter e Facebook. E, para piorar, a
rede ficou sobrecarregada com a chegada de uma multidão vinda do Parler e
das plataformas da censura, tornando a tarefa de postar um simples
texto em uma atividade demorada e repetitiva. Resultado: fiquei uma
semana sem postar um oi sequer.
Hoje
pela manhã, enquanto fazia a barba, pensei num negócio engraçado. Na
mesma hora, me veio a vontade de postar o pensamento, algo que eu faria
de imediato de estivesse usando as redes sociais como sempre usei. Como
não as uso mais, pensei logo em seguida: esse pensamento morrerá comigo,
no máximo comigo e com minha esposa. E, em seguida, me veio o insight:
ora, e quem disse que meus pensamentos precisam ser compartilhados com o
mundo, o tempo todo? Que tipo de egocentrismo é esse, que me faz achar
necessário comunicar ao mundo cada pequena ideia que cruza meus
neurônios? Pior que isso, que necessidade é essa que temos de ver o
número de curtidas e encaminhamentos crescendo, inflando nosso ego por
algo banal e sem nenhum benefício real para nossas vidas?
Eu
não sei se você, leitor ou leitora, concorda comigo, mas o fato é que
as redes sociais, com exceção de algumas poucas utilidades – entre elas,
conectar-se com amigos antigos, lançar campanhas filantrópicas,
denunciar crimes, vender serviços e produtos –, fazem do mundo um lugar
pior. É nelas que as polarizações de nossa era se alimentam e crescem. É
nelas que as pessoas dão vazão ao seu lado mais escuro, xingando e
amaldiçoando como jamais fariam pessoalmente. É nelas que a vaidade se
desenrola, seja nas pequenas tiradas do Twitter, nos textões do Facebook
ou nas selfies do Instagram. E é nelas que a mentira impera, desde o
sujeito que inventa algo para atacar alguém até o que disfarça a
tragédia de sua vida com fotos e legendas montadas para deixar qualquer
um com inveja.
O
meu pensamento é meu e meu apenas. Minhas ideias são minhas e minhas
apenas. Até pouco tempo atrás, tornar o que se passava em nossas mentes
em algo público requeria muito esforço. Era necessário galgar uma
posição nos órgãos de imprensa, ou escrever um livro e conseguir alguém
que o publicasse, ou ainda trabalhar para atingir o status de professor
e, assim, ter uma plateia constante para difundir sua visão de mundo (de
um pedaço dele, para ser mais preciso). Hoje, bastam um acesso à
internet, uma conta de e-mail e um telefone celular.
Não
é à toa que vivemos na era dos coaches e dos gurus, especialmente
aqueles que prometem transformar nossa vida através da organização do
nosso tempo e dos nossos talentos. Afinal, nós os desperdiçamos
diuturnamente nas redes sociais, gastando momentos preciosos de
concentração em incontáveis espiadas para ler as últimas atualizações ou
ver os stories mais recentes. Quem consegue ter foco com tamanha
distração? Quem consegue ser produtivo num ambiente tão poluído para a
mente? Poucos. Pouquíssimos, na verdade.
Obviamente,
pelo alcance que tenho nesta coluna e pelas minhas limitações, não
almejo revolucionar o mundo moderno com este texto. Mas, se você me
permitir, quero deixar um desafio. Tente ficar uma semana sem elas. Uma
semana sem redes sociais. Apague os aplicativos do seu celular.
Delicie-se com seus pensamentos, sem achar que mais alguém precisa saber
deles. Leia coisas centenárias em vez de bobagens repetidas por
centenas de milhares de pessoas, a ponto de serem classificadas como
“Encaminhada muitas vezes”. Passe mais tempo com seus filhos e com seu
cônjuge. Veja mais televisão. Medite mais. Converse mais com o Criador. E
tire menos fotos, porque ninguém mais aguenta ver seu rosto ou os
pratos que você come. Resumindo, como diria Voltaire, cuide do seu
jardim, tanto literal como metaforicamente. Deus cuidará do que for
importante, mas que você não puder cuidar. E de todo o resto não lhe
cabe cuidar e nem sequer se preocupar. Se aceitar o desafio, volte aqui e
deixe um comentário contando como foi.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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