O Brasil deve ser o único país do mundo onde o início da vacinação da população contra a covid-19 representou uma derrota política para o presidente da República, aponta editorial do Estadão:
O
Brasil deve ser o único país do mundo onde o início da vacinação da
população contra a covid-19 representou uma derrota política para o
presidente da República. Foi assim porque Jair Bolsonaro em nenhum
momento trabalhou com seriedade para conseguir um imunizante para os
brasileiros. Ao contrário. Do alto do cargo que ocupa, fez o que podia e
o que não podia para sabotar os esforços dos que lutaram
incansavelmente para viabilizar a única solução para uma tragédia que já
matou mais de 210 mil pessoas no País e levou milhões ao desemprego e à
extrema pobreza.
Apesar
das forças contrárias, da negação da realidade e de uma sórdida
campanha de desinformação, prevaleceram a ciência, a boa governança e o
espírito público dos agentes de Estado. E a Nação assistiu, enfim, ao
início da tão ansiada campanha de vacinação.
Dois
fatores foram decisivos para que na tarde de domingo passado a
enfermeira Mônica Calazans, que trabalha na UTI do Instituto de
Infectologia Emílio Ribas, na capital paulista, se tornasse a primeira
brasileira a ser vacinada contra o novo coronavírus, evento que permitiu
a seus concidadãos dar um suspiro de alívio e a esperança de que,
embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido, ao menos agora se
vislumbra o fim deste pesadelo.
O
primeiro fator foi o empenho do governo do Estado de São Paulo em
firmar parceria com o Instituto Butantan e uma empresa farmacêutica
internacional, a Sinovac Life Science, da China. Em meados de junho do
ano passado, o governador João Doria anunciou o acordo com o laboratório
chinês. A partir de então, organizou-se um minucioso processo para que a
Coronavac fosse testada no Brasil e, uma vez aprovada pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pudesse ser produzida aqui
pelo Butantan. Ato contínuo, teve início a campanha de Bolsonaro contra o
que chamou de “vacina chinesa do Doria”. Em outubro de 2020, convém
lembrar, o presidente chegou a afirmar que o Ministério da Saúde “não
compraria a vacina”.
Igualmente
determinante para o início da vacinação sem mais delongas foi a postura
técnica e republicana dos servidores da Anvisa, que não se dobraram a
pressões de natureza política, como se temia, e pautaram sua decisão por
critérios rigorosamente científicos. Foi o que se viu durante a
minuciosa apresentação da análise da Coronavac e da vacina da
Universidade de Oxford e do laboratório AstraZeneca, que será produzida
pela Fiocruz.
A
Anvisa foi além e negou veementemente a existência de um “tratamento
precoce” contra a covid-19, ao contrário do que o presidente e o
Ministério da Saúde preconizam aos quatro ventos. Só as vacinas hão de
pôr fim às aflições dos brasileiros, afirmou a agência.
Se
pressão houve, foi a do tempo. Em apenas nove dias, os técnicos da
Anvisa se debruçaram sobre centenas de documentos sobre ambos os
imunizantes, concluindo que, em que pesem algumas pendências de dados a
serem sanadas pelos laboratórios nas próximas semanas, os benefícios da
aplicação imediata das vacinas superam muito os riscos. A transparência
da reunião deu ao País a segurança de que nada parece ter escapado ao
olhar rigoroso dos técnicos da Anvisa. Melhor assim.
Um
importantíssimo passo foi dado com o início da vacinação dos grupos
prioritários em São Paulo, primeiramente, e em outros Estados. Mas não
se pode perder de vista que o País ainda não tem a quantidade de doses
suficiente para vacinar toda a população-alvo, qual seja, os maiores de
18 anos. Cabe ao Ministério da Saúde fazer o que lhe compete e organizar
um plano nacional de vacinação digno do nome. Urge garantir os estoques
de vacinas e insumos acessórios para que todos os brasileiros que devem
ser imunizados o sejam o quanto antes. Apenas com a Coronavac não se
atingirá a cobertura vacinal apta a garantir a imunidade necessária para
frear o espalhamento do vírus.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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