Especialistas dizem que a ausência dos gatos na cerimônia tem uma motivação simples: nos governos anteriores, os ratos eram mais abundantes nas cercanias. A crônica de Paulo Polzonoff Jr., via Gazeta:
O
presidente Jair Bolsonaro, numa cerimônia destinada a virar meme,
sancionou a Lei 1.095/19, que aumenta a pena para quem comete
maus-tratos contra os animais. Longe de mim querer ver os bichinhos
sofrendo ou abandonados, mas a sanção da lei torna o Brasil um país sui
generis, onde maltratar um cão é considerado jurídica e simbolicamente
mais danoso do que maltratar uma criança.
Mas
não vou entrar na discussão moral da lei de autoria do deputado Fred
Costa (Patriotas), que também esteve presente à cerimônia e, segundo
fontes ouvidas pela reportagem, se comportou direitinho. Acredito que o
psiquiatra Theodore Dalrymple já tenha escrito exaustivamente sobre o
sentimentalismo, a antropomorfização dos animais e suas consequências.
E,
antes que venham me acusar de ser insensível ou um monstro que odeia
animais, gostaria de deixar claro que a Catota, a gatinha que ronrona no
meu colo enquanto escrevo este texto, discorda veementemente.
Gatos e ratos
Aliás,
na cerimônia de sanção da Lei Sansão, muitos analistas políticos
repararam numa ausência política importante: os gatos. Enquanto um
vira-latas caramelo (Caramelo brasiliensis) se exibia todo para as
câmeras, merecendo até mesmo um cumprimento presidenciau-au, os gatos
preferiram se ausentar. Mais do que um racha no governo, os tais
analistas políticos viram isso como um alinhamento claro dos gatos à
esquerda.
“Gato
é tudo comunista”, declarou um deputado que preferiu se manter anônimo
para não gerar antipatia das gateiras. “Gato é arrogante. Acha que sabe
tudo, que sempre está com a razão. E acha que tudo lhe pertence. Gatos
são obviamente de extrema-esquerda”, observou o sociólogo Dóguila
Aumarino. Perguntando sobre a ausência de felinos na cerimônia
presidencial, um gato que andava ali por perto do Palácio do Planalto
olhou, pensou, revirou os olhos, deu as costas e foi embora com seu
passo tranquilo.
Especialistas,
contudo, especulam que a ausência dos gatos na cerimônia tenha uma
motivação muito mais simples: nos governos anteriores, os ratos eram
mais abundantes nas cercanias palacianas.
Cãomissão Parlamentar de Inquérito
Nem
todos os cães, cãotudo, ficaram felizes com o uso político do Camarelo
brasiliensis por Jair Bolsonaro. Rex Totó, presidente do Sindicanis e do
Clube dos Cínicos do Brasil, disse, babando, que O Vira-latas Mais
Querido do País não representa o posicionamento de toda a categoria.
“Vamos inclusive entrar com uma ação no Superior Tribunal Canino para
que o Caramelo revele quantos ossos recebeu por essa ação de marketing”,
disse.
Desafetos
do deputado Fred Costa sugerem também que seja aberta uma Cãomissão
Parlamentar de Inquérito para investigar os privilégios concedidos aos
vira-latas durante o ato de sanção da lei. “Não havia nenhum
Lulu-da-Pomerânia. Nenhum Golden Retriever. Se isso não é racismo, não
sei o que é”, provocou um tucano – que justificou a própria ausência na
cerimônia dizendo que é animal silvestre, não um petizinho qualquer.
Outros
animais também reclamaram que a lei não é clara para casos específicos
de suas espécies. “Jogar um peixinho-dourado falecido no vaso sanitário
configura ocultação de cadáver?”, questiona o sr. Cágado, que saiu
diretamente de uma fábula de Esopo só para encerrar este texto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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