O fato é que Rodrigo Maia ensaiou um "Viva Zapata!" - uma covardia calculada, escreve Fernão Lara Mesquita no Vespeiro:
Bancar
“Renda Cidadã” com calote nos precatórios seria a rendição final de
Paulo Guedes. Na verdade a sorte dele e a nossa estão seladas desde que o
torneio de egos Rodrigo Maia x Jair Bolsonaro colocou em R$ 600 reais
por mês a ajuda de emergência do governo aos paralisados pela pandemia e
à legião dos seus caronas.
Tentar
Jair Bolsonaro com esse “Viva Zapata!” (“Imprima-se o dinheiro, oras!“)
foi de uma covardia calculada que entrará para os anais da História das
Grandes Traições ao Povo Brasileiro, este que os rodrigos maias
reduziram à condição de colher uma onda de inflação nos alimentos
básicos e nos materiais de construções miseráveis pela injeção de R$ 600
por família. 67 milhões delas, contando 64% da “força de trabalho”,
passaram a comer algum arroz por causa disso. O varejo “internetavel”
saltou em semanas para níveis pré-pandemia e os “likes” das vaidades a
arder no Planalto foram à lua, como o autor da façanha previu … até
quando dezembro viesse.
Foi naquele preciso momento que o futuro discernível do Brasil foi, mais uma vez, fulminado.
Paulo
Guedes, como único representante do Brasil Real nessa novela da qual o
povo brasileiro é apenas espectador, seria finalmente expelido como o
corpo estranho que ameaça o organismo dentro do qual foi plantado.
Barrado em todos e em cada um dos caminhos que tentou – o da
racionalidade com justiça cortando privilégios da privilegiatura e
privatizando seus feudos estatais chupados até o bagaço, o da implosão
do labirinto tributário com todas as máfias que ele sustenta mediante a
instituição de um imposto mínimo sobre transações e, finalmente, na
ultima e desesperada tentativa de desamarrar o país coletivamente
estuprado, pela via indireta dos 3D’s (desindexação, desvinculação,
desobrigação) – vê-se agora enredado nesse calote dos calotes do estado
anulados por via judicial, que é a tradução exata de “precatório”, mais a
mão avançada sobre os caraminguás da educação básica que tem aquele
cheiro característico dos bodes que se enfia na sala para ser retirado
logo adiante. O clima no enclave do Ministério da Economia era,
anteontem, de consternação. Bruno Funchal, secretário do Tesouro,
praticamente declarou em “on” ao Valor que não são mais eles, é a “ala
política” que dá as cartas pela economia.
Todos
os outros personagens desse enredo sinistro se equivalem. Rodrigo Maia é
um Bolsonaro com bons modos à mesa. E dele para baixo, até o limite do
País Real, ou para cima, até o decano do STF com suas avalanches de
prosopopéia sem sentido nos píncaros do Oficial, tudo exala o mesmo
cheiro, só varia a hierarquia.
Caindo
de podres como estavam, bastou um governo ameaçando mudar de conversa,
desviando-a levemente do discurso da férrea hegemonia das corporações, e
os cacos das “instituições brasileiras” vieram ruidosamente abaixo.
Eleja o povo o que eleger, tudo que vai colher, na melhor hipótese, é o
que disserem os 11 monocratas. “Estado democrático de direito” é o
antônimo de “privilégio”. A “democracia brasileira” é uma fraude de que
dá flagrantes diários o fato de não haver dois brasileiros portadores do
mesmo conjunto de “direitos”, estes que, entre nós, pode-se “adquirir”,
nominalmente ou a granel, por unção ou por atos de vassalagem aos
“excelentes”, e de estar o país inteiro “na justiça” que tem entre nós a
função de garantir o “especial” que eles houverem por bem conceder a
cada um.
Houve
esperança num Brasil democrático enquanto houve uma imprensa que
acreditava na democracia. O “clima político” que se requer para fazer
reformas e/ou obrigar o congresso dos “representantes do povo” a votar a
favor do povo é sempre ela quem cria, mesmo nas que de fato existem. E
esta que sobrou aqui, de herdeiros, eunuca e submissa, afirmo-o agora
com o meu testemunho pessoal, joga para o adversário e expulsa
sumariamente, com ou sem o auxílio direto do Grande Censor do STF,
Alexandre de Moraes, quem ousar denunciar sua ditadura. Não foi, é
verdade, necessário o empenho de doses excessivas de musculatura, como
seria para aproveitar a deixa e empurrá-lo na direção que afirmava
querer seguir, mas é dela mais que de qualquer outro agente a
responsabilidade por jogar Jair Bolsonaro de volta ao colo do Centrão.
O
golpe esboçado dos precatórios tem a cara desse Brasil falsificado. Em
31/12/2019 o estoque dessas dívidas era de R$ 183,6 bi, quase 3% do PIB.
Mas, pela mesma razão que bem mais que a metade dos salários que os
“nossos servidores” embolsam não se chama “salário”, esse valor não é
contabilizado como “dívida pública”. Os precatórios só entram na
estatística oficial quando são pagos. Daí não pagar precatórios, que na
língua portuguesa significa dar calote no calote, na da antropofagia
política macunaímica quer dizer “cortar despesas”, embora vá aumentar
ano a ano a dívida transferida pelos palácios ao favelão nacional na lei
irrevogável da aritmética.
Tudo
isso nos empurra de novo para a conclusão tantas vezes avançada neste
Vespeiro. Não ha a menor esperança de fugir a este cativeiro enquanto
não se fizer a reforma política capaz de desmontar o esquema espúrio que
nos põe em regime de escravidão. Os “negacionistas” do valor dos
remédios da democracia na imprensa e fora dela escolheram a doença
porque é dela que vivem. Vão resistir à cura até depois da descida da
lâmina da guilhotina.
Mas
para a força irresistível do povo, querer é poder. Com o voto distrital
puro, o recall, o referendo e a iniciativa de propor e recusar as leis
que quer seguir, esse poder materializa-se e viram fumaça todos os
“tigres de papel” que nos reduziram a essa pobreza asiática surfando a
mesma onda que resgatou o resto do mundo dela. O que falta agudamente ao
favelão nacional é conhecê-lo. Se ele souber que o remédio existe, nada
o impedirá de toma-lo.
BLG RODRIGO TAMBOSI
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