Como candidato que está atrás nas pesquisas, o presidente tinha mais a ganhar no primeiro confronto, mas tática da areia nos olhos foi discutível. Vilma Gryzinski:
Joe Biden não trocou fatos e números (“Sou senador há 180 anos”, foi um de seus últimos foras antes do debate).
Só
isso bastou para que fosse declarado o vencedor do primeiro confronto
pelos analistas e órgãos de informação que torcem entusiasticamente pelo
candidato democrata.
Donald
Trump entrou como o menino que quer usar todos os brinquedos do
parquinho, chamando para a briga quem quisesse desafiá-lo.
Para
encerrar a metáfora da disputa infantil, Biden ficou em cima do muro
fazendo “Lalalalá”, sem entrar diretamente na briga, fora as provocações
da boca para fora.
As pesquisas de opinião não foram exatamente definitivas, refletindo o que a maioria dos eleitores já acreditava antes.
Segundo
a da CBS e do YouGov, 48% acharam que Biden ganhou e 41% votaram em
Trump. Mais significativo: 69% sentiram-se incomodados. E só 17%
consideram que saíram informados pela discussão.
Com razão. Os dois candidatos estão entre os mais discutíveis da história política americana.
Trump
é Trump, uma espécie de prestidigitador que tem um prazer perverso em
aumentar as divisões na sociedade americana, expelir colaboradores
capazes e governar como se estivesse sentado no topo de um ego do
tamanho do Everest.
Biden
só foi escolhido pelos eleitores democratas nas eleições primárias
porque parecia a única alternativa eleitoralmente viável, um moderado
que ignoraria as maluquices que passam por política nas alas mais à
esquerda do Partido Democrata.
Ou seja, ganhou na base do que não é e não do que é.
E
o que Biden é? Um político aposentado que em quase 50 anos como senador
e vice-presidente, não teve nenhuma proposta de vulto, bom em se fazer
passar por amigo da classe operária – cruelmente exterminada pelas
políticas de globalização que apoiou – e cheio de discursos vazios.
Mas
a confiabilidade de Biden – ou a volatilidade de Trump – é confirmada
por um dado recente: Wall Street, a rua que corporifica o mundo
financeiro, está colocando muito mais dinheiro na campanha do candidato
democrata.
Depois
do debate, os mercados abriram em baixa na Ásia, o que foi considerado
um reflexo do temor de que Trump conteste os resultados das urnas (ou
dos envelopes dos votos por correio) e crie um impasse de longa duração.
Só
para lembrar: na campanha de 2016, Trump disse exatamente a mesma coisa
sobre sua reação ao resultado do embate com Hillary Clinton.
Como ganhou por 304 votos no Colégio Eleitoral, não falou mais no assunto.
Segundo
um mantra frequente entre a classe da assessoria política, os debates
não definem eleições, exceto quando revelam alguma fragilidade muito
grande de um dos candidatos.
O debate de ontem revelou as fragilidades dos dois candidatos e, por isso, não deve alterar radicalmente a situação atual.
Tem 33 dias para conseguir isso.
Não é uma situação boa para Trump, consistentemente de oito a nove pontos atrás de Biden.
Em
termos de Colégio Eleitoral, ele está com 230 votos considerados
garantidos. Só precisam “virar” poucos estados que já pendem a seu favor
para chegar aos 270 que garantem a eleição.
O fato de que as pesquisas erraram feio em 2016 não significa automaticamente que o mesmo erro vai se repetir agora.
Trump continua a ter o fator entusiasmo a seu favor.
Enquanto
Biden faz discursos a plateias inexistes, comícios e carreatas
demonstram como Trump é venerado pelas bases, aqueles que saem na rua
com bandeiras americanas, bonés vermelhos e a certeza de que os
“inimigos” minimizam a força da América real.
As chances de Trump estão atreladas à capacidade de contágio desse entusiasmo.
Da
mesma forma que mais pessoas sairão de casa para votar em Biden do que
fizeram na eleição passada, só para tirar Trump da Casa Branca, o
presidente precisa de mais eleitores suficientemente mobilizados para
provar que “eles”, mais uma vez, erraram feio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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