Perguntei
a uma garotinha na faixa dos 8 anos se estava com saudade da escola.
Muita, resumiu. Do que sente falta? De brincar e conversar com os
colegas. O que acha das aulas à distância. "Não gosto", diz a aluna do
colégio particular da capital paulista. Naquele dia, ela teria de fazer
cinco lições, informou com cara de choro. Não faça, sugeri. "Prometi pra
minha mãe", informou. "Se não faço, fico sem sorvete".
Perguntei
à mãe da garotinha por que, segundo o DataFolha, tanta gente rejeita a
volta à normalidade. "No grupo de WhatsApp da escola, todos os pais e
mães apoiam a retomada das aulas presenciais", ela respondeu. "O
DataFolha deve ter entrevistado só casais sem filhos. Só estão contra a
reabertura muitos professores, que prometem revidar com a decretação de
uma greve".
De
acordo com o instituto de pesquisa, 75% dos moradores do município de
São Paulo defendem a prorrogação da quarentena escolar. Obedientes ao
manual da malandragem, prefeitos e governadores querem garantir o voto
desse eleitorado com o assassinato do ano letivo de 2020.
Somados,
o cinismo dos políticos, a pusilanimidade dos pais e o oportunismo dos
professores— todos amparados no jornalismo necrófilo da velha imprensa —
têm prevalecido sobre as lições ministradas por países civilizados.
Nenhuma nação europeia, por exemplo, manteve as escolas fechadas por
mais de cinco semanas. Algumas não suspenderam as aulas presenciais
sequer por um dia. E em nenhuma ocorreram alterações significativas nas
curvas desenhadas pelas taxas de óbitos decorrentes da covid-19 e de
casos confirmados de coronavírus.
No
Brasil, essas curvas já entraram na fase de desaceleração. O problema
são as carências dos governantes. A quase todos faltam coragem,
sabedoria e lucidez. Falta-lhes, sobretudo, disposição para pensar no
que dizem as crianças do Brasil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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