Para ambos, a mente de um indivíduo é determinada por sua classe social
ou por sua etnia. Artigo de Ludwig von Mises, publicado pelo Mises Brasil:
O marxismo afirma que a forma de pensar de uma pessoa é determinada
pela classe a que pertence. Toda classe social tem sua lógica própria.
Logo, o produto do pensamento de um determinado indivíduo não pode ser
nada além de um "disfarce ideológico" dos interesses egoístas da classe à
qual ele pertence.
A tarefa de uma "sociologia do conhecimento", segundo os marxistas, é
desmascarar filosofias e teorias científicas e expor o seu vazio
"ideológico". A economia seria um expediente "burguês" e os economistas
são sicofantas do capital. Somente a sociedade sem classes da utopia
socialista substituirá as mentiras "ideológicas" pela verdade.
Este polilogismo, posteriormente, assumiu várias outras formas. O
historicismo afirma que a estrutura lógica da ação e do pensamento
humano está sujeita a mudanças no curso da evolução histórica.O
polilogismo racial atribui a cada raça uma lógica própria.
O polilogismo, portanto, é a crença de que há uma multiplicidade de
irreconciliáveis formas de lógica dentro da população humana, e estas
formas estão subdivididas em algumas características grupais.
Os nazistas fizeram amplo uso do polilogismo. Mas os nazistas não
inventaram o polilogismo. Eles apenas criaram seu próprio estilo de
polilogismo.
A lógica da mente
Até a metade do século XIX, ninguém se atrevia a questionar o fato de
que a estrutura lógica da mente era imutável e comum a todos os seres
humanos. Todas as interrelações humanas são baseadas nesta premissa de
que há uma estrutura lógica uniforme. Podemos dialogar uns com os outros
apenas porque podemos recorrer a algo em comum a todos nós: a estrutura
lógica da razão.
Alguns homens têm a capacidade de pensar de forma mais profunda e
refinada do que outros. Há homens que infelizmente não conseguem
compreender um processo de inferência em cadeias lógicas de pensamento
dedutivo. Mas, considerando-se que um homem seja capaz de pensar e
trilhar um processo de pensamento discursivo, ele sempre aderirá aos
mesmos princípios fundamentais de raciocínio que são utilizados por
todos os outros homens.
Há pessoas que não conseguem contar além de três; mas sua contagem,
até onde ele consegue ir, não difere da contagem de Gauss ou de Laplace.
Nenhum historiador ou viajante jamais nos trouxe nenhuma informação
sobre povos para quem A e não-A fossem idênticos, ou sobre povos que não
conseguissem perceber a diferença entre afirmação e negação.
Diariamente, é verdade, as pessoas violam os princípios lógicos da
razão. Mas qualquer um que se puser a examinar suas deduções de forma
competente será capaz de descobrir seus erros.
Uma vez que todos consideram tais fatos inquestionáveis, os homens
são capazes de entrar em discussões e argumentações. Eles conversam
entre si, escrevem cartas e livros, tentam provar ou refutar. A
cooperação social e intelectual entre os homens seria impossível se a
realidade não fosse essa. Nossas mentes simplesmente não são capazes de
imaginar um mundo povoado por homens com estruturas lógicas distintas
entre si ou com estruturas lógicas diferentes da nossa.
Surge Marx
Mesmo assim, durante o século XIX, este fato inquestionável foi
contestado. Marx e os marxistas, entre eles o "filósofo proletário" Dietzgen, ensinaram que o pensamento é determinado pela classe social do pensador.
O que o pensamento produz não é a verdade, mas apenas "ideologias".
Esta palavra significa, no contexto da filosofia marxista, um disfarce
dos interesses egoístas da classe social à qual pertence o pensador. Por
conseguinte, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de outra
classe social.
Não seria necessário refutar ideologias por meio do raciocínio
discursivo; ideologias devem apenas ser desmascaradas, denunciando a
classe e a origem social de seus autores. Assim, os marxistas não
discutem os méritos das teorias científicas; eles simplesmente revelam a
origem "burguesa" dos cientistas.
Os marxistas se refugiam no polilogismo porque não conseguem refutar
com métodos lógicos as teorias desenvolvidas pela ciência econômica
"burguesa"; tampouco conseguem responder às inferências derivadas destas
teorias, como as que demonstram a impossibilidade prática do socialismo.
Dado que não conseguiram demonstrar racionalmente a validade de suas
idéias e nem a invalidade das idéias de seus adversários, eles
simplesmente passaram a condenar os métodos lógicos. O sucesso deste
estratagema marxista foi sem precedentes. Ele se tornou uma blindagem
contra qualquer crítica racional à pseudo-economia e à pseudo-sociologia
marxistas. Ele fez com que todas as críticas racionais ao marxismo
fossem inócuas.
Foi justamente por causa dos truques do polilogismo que o estatismo conseguiu ganhar força no pensamento moderno.
O polilogismo é incoerente
O polilogismo é tão inerentemente sem sentido, que é impossível
levá-lo consistentemente às suas últimas consequências lógicas. Nenhum
marxista foi corajoso o suficiente para derivar todas as conclusões que
seu ponto de vista epistemológico exige. O princípio do polilogismo
levaria à inferência de que os ensinamentos marxistas também não são
objetivamente verdadeiros, mas sim apenas afirmações "ideológicas". Mas
isso os marxistas negam. Eles reivindicam para suas próprias doutrinas o
caráter de verdade absoluta.
Dietzgen ensina que "as idéias da lógica proletária não são idéias
partidárias, mas sim o resultado da mais pura e simples lógica". Ou
seja, a lógica proletária não é "ideologia", mas sim lógica absoluta. Os
atuais marxistas, que rotulam seus ensinamentos de sociologia do
conhecimento, dão provas de sofrerem desta mesma inconsistência.
Um de seus defensores, o professor Mannheim,
procura demonstrar que há certos homens, os "intelectuais
não-engajados", que possuem o dom de apreender a verdade sem serem
vítimas de erros ideológicos. Claro, o professor Mannheim está
convencido de que ele mesmo é o maior dos "intelectuais não-engajados".
Você simplesmente não pode refutá-lo. Se você discorda dele, você estará
apenas provando que não pertence à elite dos "intelectuais
não-engajados", e que seus pensamentos são meras tolices ideológicas.
Os nazistas copiaram a lógica
Os nacional-socialistas alemães tiveram de enfrentar o mesmo problema dos marxistas.
Eles também não foram capazes nem de demonstrar a veracidade de suas
próprias declarações e nem de refutar as teorias da economia e da
praxeologia. Consequentemente, eles foram buscar abrigo no polilogismo,
já preparado para eles pelos marxistas.
Sim, eles criaram sua própria marca de polilogismo. A estrutura
lógica da mente, diziam eles, é diferente para cada nação e para cada
raça. Cada raça ou nação possui sua própria lógica e, portanto, sua
própria economia, matemática, física etc. Porém, não menos inconsistente
do que o Professor Mannheim, o professor Tirala,
seu congênere defensor da epistemologia ariana, declara que as únicas
lógica e ciência verdadeiras, corretas e perenes são as arianas.
Aos olhos dos marxistas, Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estão
errados porque são burgueses; aos olhos dos nazistas, estão errados
porque são judeus. Um dos maiores objetivos dos nazistas é libertar a
alma ariana da poluição das filosofias ocidentais de Descartes, Hume e
John Stuart Mill. Eles estão em busca da ciência alemã arteigen, ou
seja, da ciência adequada às características raciais dos alemães.
Como hipótese, suponhamos que as capacidades mentais do homem sejam
resultado de suas características corporais. Sim, não podemos demonstrar
a veracidade desta hipótese, mas também não é possível demonstrar a
veracidade da hipótese oposta, conforme expressada pela hipótese
teológica. Somos forçados a admitir que não sabemos como os pensamentos
surgem dos processos fisiológicos. Temos vagas noções dos danos causados
por traumatismos ou por outras lesões infligidas em certos órgãos do
copo; sabemos que tais danos podem restringir ou destruir por completo
as capacidades e funções mentais dos homens. Mas isso é tudo.
Seria uma enorme insolência afirmar que as ciências naturais nos
fornecem informações a respeito da suposta diversidade da estrutura
lógica da mente. O polilogismo não pode ser derivado da fisiologia ou da
anatomia, e nem de nenhuma outra ciência natural.
Nazistas e marxistas têm o mesmo problema
Nem o polilogismo marxista e nem o nazista conseguiram ir além de
declarar que a estrutura lógica da mente é diferente entre as várias
classes ou raças. Eles nunca se atreveram a demonstrar precisamente no
quê a lógica do proletariado difere da lógica da burguesia, ou no quê a
lógica ariana difere da lógica dos judeus ou dos ingleses.
Rejeitar a teoria das vantagens comparativas de Ricardo ou a teoria
da relatividade de Einstein por causa das origens raciais de seus
autores é inócuo. Primeiro, seria necessário desenvolver um sistema de
lógica ariana que fosse diferente da lógica não-ariana. Depois, seria
necessário examinar, ponto a ponto, estas duas teorias concorrentes, e
mostrar onde, em cada raciocínio, são feitas inferências que são
inválidas do ponto de vista da lógica ariana mas corretas do ponto de
vista não-ariano. E, finalmente, seria necessário explicar a que tipo de
conclusão a substituição das erradas inferências não-arianas pelas
corretas inferências arianas deve chegar.
Mas isso jamais foi e jamais será tentado por ninguém. O professor
Tirala, um loquaz defensor do racismo e do polilogismo ariano, não diz
uma palavra sobre a diferença entre a lógica ariana e a lógica
não-ariana. O polilogismo, seja ele marxista ou nazista, jamais entrou
em detalhes.
O polilogismo possui um método peculiar de lidar com opiniões
divergentes. Se seus defensores não forem capazes de descobrir as
origens e o histórico de um oponente, eles simplesmente o rotulam de
"traidor". Tanto marxistas quanto nazistas conhecem apenas duas
categorias de adversários: os alienados — sejam eles membros de uma
classe não-proletária ou de uma raça não-ariana — estão errados porque
são alienados; e os opositores que são de origem proletária ou ariana
estão errados porque são traidores.
Assim, eles levianamente descartam o incômodo fato de que há
divergências entre os membros daquela que dizem ser sua classe ou sua
raça.
Contradições nazistas
Os nazistas gostam de contrastar a economia alemã com as economias
judaicas e anglo-saxônicas. Mas o que chamam de economia alemã não
difere em nada de algumas tendências observadas em outras economias. A
economia nacional-socialista foi moldada tendo por base os ensinamentos
do genovês Sismondi e dos socialistas franceses e ingleses. Alguns dos
mais velhos representantes desta suposta economia alemã apenas
importaram idéias estrangeiras para a Alemanha. Frederick List trouxe as
idéias de Alexander Hamilton à Alemanha; Hildebrand e Brentano
trouxeram as idéias dos primeiros socialistas ingleses. A economia alemã
arteigen é praticamente igual às tendências contemporâneas observadas
em outros países, como, por exemplo, o institucionalismo americano.
Por outro lado, o que os nazistas chamam de economia ocidental — e,
portanto, artfremd [estranho à raça] — é em grande medida uma conquista
de homens a quem nem mesmo os nazistas podem negar o termo 'alemão'. Os
economistas nazistas gastaram muito tempo pesquisando a árvore
genealógica de Carl Menger
à procura de antepassados judeus; não conseguiram. É um despautério
querer explicar o conflito que há entre, de um lado, a genuína teoria
econômica e, de outro, o institucionalismo e o empiricismo histórico
como se fosse um conflito racial ou nacional.
Conclusão
O polilogismo não é uma filosofia ou uma teoria epistemológica. É
apenas uma postura de fanáticos de mentalidade estreita que não
conseguem conceber que haja pessoas mais sensatas ou mais inteligentes
que eles próprios.
Tampouco é o polilogismo algo científico. Trata-se da substituição da
razão e da ciência pela superstição. É a mentalidade característica de
uma era caótica.
Artigo extraído do livro Omnipotent Government: The Rise of Total State and Total War, originalmente publicado em 1944.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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