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A história, um suspense crescente com desfecho eletrizante, é centrada em Iman, um juiz investigador do Tribunal Revolucionário em Teerã, que entra em paranoia quando sua arma desaparece misteriosamente, e ele passa a fazer pressão psicológica contra a esposa e as duas filhas adolescentes, suas principais suspeitas. A tensão é intensificada por protestos que começam a sair de controle em todo o país, com imagens reais da repressão violenta sobre manifestantes que foram às ruas pela morte suspeita da jovem Mahsa Amini, após ela ser presa por uso de um "hijabe impróprio e inadequado".
O diretor filmou “O Semente do Fruto Sagrado” em máximo segredo, durante 70 dias, entre dezembro de 2023 a março de 2024, produzido com financiamento de diversas empresas da França e da Alemanha. No meio das filmagens, Rasoulof soube de uma nova sentença que o levaria a oito anos de prisão, além de açoites, multa e confisco de sua propriedade. Depois que o tribunal de apelações confirmou o veredicto, o cineasta, já com a filmagem concluída, teve duas horas para decidir se permaneceria no Irã e se renderia à prisão ou fugiria. Decisão tomada, ele deixou todos os seus dispositivos eletrônicos em casa e fugiu a pé entre as aldeias da fronteira, chegando finalmente a uma cidade onde havia um consulado alemão que o identificou usando suas impressões digitais e emitiu um passaporte temporário que ele usou para viajar para a Alemanha.
O material filmado foi contrabandeado do Irã para Hamburgo, onde foi editado por Andrew Bird, com quem Rasoulof havia trabalhado, e a pós-produção ocorreu na Alemanha. Em 24 de maio de 2024, finalmente, Rasouloff compareceu à estreia do filme em Cannes e no tapete vermelho ele mostrou fotos de dois dos seus atores, Soheila Golestani e Missagh Zareh, que não puderam comparecer.
Ficha técnica:
A Semente do Fruto Sagrado (Dâne-ye anjîr-e ma'âbed)
Alemanha/França, 2024, cor, 167 min., drama/suspense, idioma: persa
Direção: Mohammad Rasoulof
Elenco: Soheila Golestani, Missagh Zareh, Setareh Maleki, Mahsa Rostami e Reza Akhlaghirad
Sinopse: O juiz investigador Iman luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã. Quando a sua arma desaparece, ele suspeita da sua esposa e filhas, impondo medidas draconianas que prejudicam os laços familiares à medida que as regras sociais desmoronam.
O diretor:
O diretor, roteirista e produtor Mohammad Rasoulof nasceu em Shiraz, Irã, em 1972. Ele estudou sociologia e começou sua produção cinematográfica com documentários e curtas-metragens. Por seu primeiro longa, “O Crepúsculo” (2002), ele ganhou o prêmio de Melhor Filme no Fajr Film Festival, no Irã, porém, após seu segundo filme “Ilha de Ferro” (2005), o cineasta começou a ter problemas com o sistema de censura no país e as suas possibilidades para produção e exibição de filmes foram fortemente limitadas ou proibidas. No entanto, suas obras são apreciadas por um amplo público em cinemas e festivais internacionais. Até 2010 Rasoulof se utilizava de linguagens metafóricas em seus filmes, mas, desde então, ele adotou formas mais diretas de expressão. Em março de 2010, Rasoulof foi preso no set de filmagem junto com Jafar Panahi enquanto dirigiam um filme em parceria. Antes de “A Semente do Fruto Sagrado” levar o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Fipresci em Cannes, ele teve outros dois filmes laureados no mesmo festival: Prêmio Un Certain Regard por “Adeus” (2011) e Prêmio Fipresci por “Manuscritos Não Queimam” (2013).
Curiosidades:
O título metafórico, em alusão ao sistema opressor do Irã, se refere a uma espécie de figueira-parasita, cuja semente é transportada nos excrementos dos pássaros, uma planta que se espalha enrolando-se em outra árvore e eventualmente estrangulando-a.
Após o anúncio de que seu filme "A Semente do Fruto Sagrado" havia entrado para a Seleção Oficial do Festival de Cannes 2024, o elenco e a equipe foram interrogados pelas autoridades iranianas, proibidos de deixar o país e pressionados a convencer Rasoulof a retirar o filme da programação do festival.
A jovem atriz Setareh Maleki, que interpreta uma das duas filhas adolescentes do casal protagonista, é a mesma que tem papel de destaque em "Café Teerã", filme também disponível no À La Carte, dirigido por Navid Mihandoost, que está numa prisão em Teerã, capital do Irã, acusado e condenado injustamente por causa de um documentário seu, considerado ofensivo pelo governo iraniano.
Atualmente, a atriz Soheila Golestani, que interpreta a esposa do protagonista, enfrenta acusações de propaganda contra o governo iraniano e “promoção da imoralidade”, devido ao seu papel no filme. Em dezembro de 2022, ela foi presa após aparecer sem o véu em um vídeo de protesto contra a morte suspeita da jovem Mahsa Amini, supostamente espancada pela polícia por motivo semelhante.
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