MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 4 de março de 2022

Quando o Brasil começou a ir para o brejo?

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI
Volto à questão sempre que as redes sociais, lugar insalubre no qual insisto em perder meu tempo, amplificam o habitual vazamento de chorume do Bananão. Ruy Goiaba via Crusoé:


“Em que momento o Peru tinha se ferrado?” A frase está logo no primeiro parágrafo de Conversa na Catedral, de Mario Vargas Llosa — que obviamente não usou “ferrado”, e sim uma palavra que não posso publicar nesta revista da família brasileira que é a Crusoé. Volto a ela sempre que as redes sociais, lugar insalubre no qual insisto em perder meu tempo, amplificam o habitual vazamento de chorume do Bananão até torná-lo uma torrente, um tsunami, um dilúvio bíblico de gente sendo extraordinariamente idiota todo dia.

(Abro um parêntese: assim como os argentinos costumam dizer que Carlos Gardel “canta cada vez melhor”, Umberto Eco, morto em 2016, escreve cada vez melhor à medida que os anos passam. Lembro do tanto de gente que reclamou quando, um ano antes de morrer, Eco afirmou que a internet dava o direito à palavra a uma “legião de imbecis” e “promovia o idiota da aldeia a portador da verdade”. O caso de Monark, podcaster e cavalgadura, é apenas o último exemplo de quanto o escritor está cada vez mais certo. Fecha parêntese.)

Enfim: quando o Brasil começou a ir para o brejo? Não existe resposta simples, e eu tendo a pensar que na verdade nunca saiu dele — como escreveu Claude Lévi-Strauss em Tristes Trópicos (atribuindo a frase a um “espírito malicioso”), fomos da barbárie à decadência sem nunca ter passado pela civilização. O Bananão, afinal, foi construído por cima de um cemitério indígena, e todo mundo que já assistiu a algum western sabe que isso dá um azar danado. Somos habitantes de uma piada de português hipertrofiada, que virou país com bandeira e tudo.

Mas há outras hipóteses interessantes. Por exemplo: o Brasil se lascou em 2012, no exato instante em que Diego Costa, então no Vasco, perdeu aquele gol cara a cara com o goleiro Cássio — o que, ao fim e ao cabo, permitiu que o Corinthians ganhasse uma Libertadores e tivesse um estádio para chamar de seu, alterando para sempre a ordem natural das coisas e gerando as consequências trágicas que conhecemos. Mais uma, levantada por meu ex-editor Edson Aran, jornalista e cartunista: o Bananão se ferrou antes, a partir de 2009, quando Geisy Arruda foi expulsa da Uniban por causa de suas “roupas ousadas”. “Começa com surto puritano e acaba elegendo fascista. Não falha nunca”, escreveu o Aran no Twitter. E eu acrescento que, hoje, existem tanto puritanismo histérico como fascismo nas duas pontas da ferradura ideológica: ninguém resumiu nossa época melhor do que Philip Roth quando cunhou a expressão “êxtase da santimônia”.

Perguntar em que momento o Brasil se afundou na lama é mais ou menos como tentar localizar a porta do labirinto — se houve entrada, tem que haver saída, e é só seguir o fio de Ariadne que a gente chega lá. Meu palpite é que o país continuará, como sempre, se enrolando no fio e/ou tropeçando nele e sendo regularmente comido pelo Minotauro (o animal mitológico, não o lutador do UFC). A única coisa que me consola é que um lugar que produz um juiz de futebol chamado ALESTER CLAULI da Costa Tambelli — existe de verdade, podem googlar — não pode ser de todo ruim. Torço para que o Aleister Crowley brazuca apite uma partida dizendo aos jogadores “faze o que tu queres, pois é tudo da lei”: o Brasilzão foi feito mesmo para acabar em alguma música do Raul Seixas.

A GOIABICE DA SEMANA

Toda vez que você, brasileiro, se sentir deprimido ao olhar para o nosso Congresso e ver aquele monte de gente que não passaria ilesa pelo mata-burro, pense que os EUA passaram por quase 250 anos de democracia para chegar a Marjorie Taylor Greene, deputada notória por promover a teoria conspiratória QAnon. Muito brava com Nancy Pelosi, a presidente da Câmara, Greene tentou dizer que a democrata tinha uma “Gestapo police” às suas ordens — e saiu “gazpacho police”. Sim, a republicana teve as manhas de confundir a polícia secreta do nazismo com a sopa de tomate servida fria na Espanha. Como já disseram por aí, vivemos a época do triunfo dos Burros sem Fronteiras.



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