BLOG ORLANDO TAMBOSI
Volto
à questão sempre que as redes sociais, lugar insalubre no qual insisto
em perder meu tempo, amplificam o habitual vazamento de chorume do
Bananão. Ruy Goiaba via Crusoé:
“Em
que momento o Peru tinha se ferrado?” A frase está logo no primeiro
parágrafo de Conversa na Catedral, de Mario Vargas Llosa — que
obviamente não usou “ferrado”, e sim uma palavra que não posso publicar
nesta revista da família brasileira que é a Crusoé. Volto a ela sempre
que as redes sociais, lugar insalubre no qual insisto em perder meu
tempo, amplificam o habitual vazamento de chorume do Bananão até
torná-lo uma torrente, um tsunami, um dilúvio bíblico de gente sendo
extraordinariamente idiota todo dia.
(Abro
um parêntese: assim como os argentinos costumam dizer que Carlos Gardel
“canta cada vez melhor”, Umberto Eco, morto em 2016, escreve cada vez
melhor à medida que os anos passam. Lembro do tanto de gente que
reclamou quando, um ano antes de morrer, Eco afirmou que a internet dava
o direito à palavra a uma “legião de imbecis” e “promovia o idiota da
aldeia a portador da verdade”. O caso de Monark, podcaster e
cavalgadura, é apenas o último exemplo de quanto o escritor está cada
vez mais certo. Fecha parêntese.)
Enfim:
quando o Brasil começou a ir para o brejo? Não existe resposta simples,
e eu tendo a pensar que na verdade nunca saiu dele — como escreveu
Claude Lévi-Strauss em Tristes Trópicos (atribuindo a frase a um
“espírito malicioso”), fomos da barbárie à decadência sem nunca ter
passado pela civilização. O Bananão, afinal, foi construído por cima de
um cemitério indígena, e todo mundo que já assistiu a algum western sabe
que isso dá um azar danado. Somos habitantes de uma piada de português
hipertrofiada, que virou país com bandeira e tudo.
Mas
há outras hipóteses interessantes. Por exemplo: o Brasil se lascou em
2012, no exato instante em que Diego Costa, então no Vasco, perdeu
aquele gol cara a cara com o goleiro Cássio — o que, ao fim e ao cabo,
permitiu que o Corinthians ganhasse uma Libertadores e tivesse um estádio
para chamar de seu, alterando para sempre a ordem natural das coisas e
gerando as consequências trágicas que conhecemos. Mais uma, levantada
por meu ex-editor Edson Aran, jornalista e cartunista: o Bananão
se ferrou antes, a partir de 2009, quando Geisy Arruda foi expulsa da
Uniban por causa de suas “roupas ousadas”. “Começa com surto puritano e
acaba elegendo fascista. Não falha nunca”, escreveu o Aran no Twitter. E
eu acrescento que, hoje, existem tanto puritanismo histérico como
fascismo nas duas pontas da ferradura ideológica: ninguém resumiu nossa
época melhor do que Philip Roth quando cunhou a expressão “êxtase da
santimônia”.
Perguntar
em que momento o Brasil se afundou na lama é mais ou menos como tentar
localizar a porta do labirinto — se houve entrada, tem que haver saída, e
é só seguir o fio de Ariadne que a gente chega lá. Meu palpite é que o
país continuará, como sempre, se enrolando no fio e/ou tropeçando nele e
sendo regularmente comido pelo Minotauro (o animal mitológico, não o
lutador do UFC). A única coisa que me consola é que um lugar que produz
um juiz de futebol chamado ALESTER CLAULI da Costa Tambelli — existe de
verdade, podem googlar — não pode ser de todo ruim. Torço para que o
Aleister Crowley brazuca apite uma partida dizendo aos jogadores “faze o
que tu queres, pois é tudo da lei”: o Brasilzão foi feito mesmo para
acabar em alguma música do Raul Seixas.
A GOIABICE DA SEMANA
Toda
vez que você, brasileiro, se sentir deprimido ao olhar para o nosso
Congresso e ver aquele monte de gente que não passaria ilesa pelo
mata-burro, pense que os EUA passaram por quase 250 anos de democracia
para chegar a Marjorie Taylor Greene, deputada notória por promover a
teoria conspiratória QAnon. Muito brava com Nancy Pelosi, a presidente
da Câmara, Greene tentou dizer que a democrata tinha uma “Gestapo
police” às suas ordens — e saiu “gazpacho police”. Sim, a republicana
teve as manhas de confundir a polícia secreta do nazismo com a sopa de
tomate servida fria na Espanha. Como já disseram por aí, vivemos a época
do triunfo dos Burros sem Fronteiras.
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