BLOG ORLANDO TAMBOSI
O sucesso prematuro pode levar a cegueira mesmo com muito dinheiro. Luiz Felipe Pondé para a FSP:
Há
um equívoco conceitual grave entre os jovens liberais no Brasil, fruto
da péssima formação do debate liberal entre nós, recusado pelas
universidades, e dominado por empresários e afins que limitaram quase
sempre o repertório à liberdade de mercado e seus interesses. O
resultado está aí. Cada dia uma polêmica vazia aparece que serve a
estupidez comum das redes sociais e afins.
O caso Monark
é paradigmático. Monark do Flow não é nazista ou antissemita, mas errou
feio. Convergem vários fatores na sua estúpida defesa recente da
liberdade de expressão para um partido nazista no Brasil.
Primeiro,
o sucesso deveria ser permitido apenas a pessoas com mais de 40 anos. O
sucesso é um fator corrosivo da nossa capacidade de visão de mundo, de
avaliação do ridículo que nos cerca e nos constitui, e da dúvida que
sempre devemos alimentar para com nossas próprias certezas. Um jovem não
enxerga nada disso, na sua imensa maioria. Confunde ganhar dinheiro e
sucesso com entender o "segredo último das coisas e do mundo".
O sucesso prematuro na vida, como é o caso do Monark e
de muitos outros como ele, facilmente destrói um maior cuidado na lida
com o mundo e as pessoas. Produz o que ele mesmo chamou no seu vídeo de
desculpas de "insensibilidade". O sucesso prematuro pode levar a
cegueira mesmo com muito dinheiro.
Outro
elemento é o ethos das redes sociais. Afora os evidentes ganhos que a
acessibilidade das redes gera, elas, de fato, alimentam a imbecilidade,
como dizia Umberto Eco (1932-2016). E aqui, não me refiro ao caso Monark
especificamente. Basta acompanhar comentários aos textos e vídeos para
ver essa imbecilidade claramente. As redes praticam uma linguagem pobre e
agressiva. Enfim, uma semântica para o uso dos idiotas ressentidos.
Por exemplo, nos comentários ao vídeo em questão são muito claros a elegância e cuidado com os quais a deputada Tabata Amaral
se move diante dos argumentos descabidos do podcaster —fala devagar,
usa as ideias de forma consistente, respeita a fala do outro.
Corretíssima no seu argumento contra o absurdo da defesa da legalidade
do partido nazista, ela, ainda assim, foi objeto de críticas cretinas
nos comentários.
Às
redes só interessa xingar, linchar e mostrar falsos repertórios. Não há
esperança nenhuma de que as redes venham a desenvolver maturidade nas
sociedades porque a cada minuto entram milhões de idiotas nelas.
Outro
elemento é a estética "clube da luta" —refiro-me ao filme "Clube da
Luta"— que marca os espaços físicos dos podcasts. Essa estética "clube
da luta" faz parecer que encher a cara, fumar maconha e chutar o balde
24 horas por dia é cool e faz de você um ser livre.
Mas, além desses reparos de contexto, há o equívoco essencial de jovens liberais como Monark.
A fetichização da ideia de liberdade, e, por tabela, de liberdade de
expressão. Não existe nenhum valor absoluto, e os jovens liberais no
Brasil tem brincado com ideias.
A
liberdade, como tudo mais no âmbito moral e político, é segunda, sendo
ela determinada por fatores de contexto, de linguagem, de leis, de
história, de economia, de política, enfim, uma série exaustiva de
fatores. A liberdade não é um valor absoluto, talvez nenhum seja. Mesmo
não matar é relativizado em revoluções ou guerras para aqueles que as
defendem. Essa relatividade da moral e da política nos ocupa o tempo
todo, de forma exaustiva.
Para
os jovens de esquerda a vida é fácil. Conceitos claros se mesclam a
fatos históricos sólidos: desigualdade social, escravidão, racismo, e
outros, dão a esses jovens a possibilidade de circular com facilidade em
temas políticos e sociais.
Já
o os jovens liberais, acabam por querer seduzir outros jovens falando
que são mais loucos do que todo mundo, como disse Monark a Tabata
Amaral, e que defendem uma liberdade irrestrita quando todo valor é
contextualmente condicionado, como bem nos mostrou o filósofo liberal
Isaiah Berlin (1909–1997) de forma definitiva.
Parabéns a Tabata Amaral pela elegante defesa da razão.
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