O PT não almeja um Estado forte, eficiente e bem administrado, capaz de cumprir suas tarefas. Lula quer uma máquina pública inchada e submissa. Editorial do Estadão:
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se colocar à esquerda no espectro político-ideológico, Luiz Inácio Lula
da Silva não raro é visto por seus simpatizantes como um defensor do
Estado. No discurso lulopetista, a direita é incapaz de aceitar o Estado
como motor do desenvolvimento e da transformação social, razão pela
qual tudo faz para reduzi-lo ao mínimo necessário apenas para garantir a
manutenção dos privilégios da elite “neoliberal”; já a esquerda, ao
contrário, por se julgar especialmente dotada de sensibilidade social,
estaria continuamente batalhando para fortalecer o Estado. Segundo essa
lógica, um governo lulopetista seria a oportunidade histórica para o
fortalecimento do Estado e de sua máquina pública, de modo a favorecer
os pobres e oprimidos.
Não
é preciso sequer terminar de ler o que vai acima para se dar conta de
que a tal conclusão é uma das tantas farsas lulopetistas. Lula e o PT
falam muito do Estado e do que seria seu papel na sociedade, mas o fato é
que nunca melhoraram o seu funcionamento. Ao contrário: os governos
petistas ampliaram gastos, criaram cargos públicos, fizeram com que o
Estado se envolvesse em novas áreas, multiplicaram as interferências do
aparato estatal na vida econômica e social, mas em nenhum momento
fortaleceram, de fato, o Estado.
O
PT não almeja um Estado forte, eficiente e bem administrado, capaz de
cumprir suas tarefas – servir à população, em último termo – com
excelência, impessoalidade e economicidade. Lula sempre buscou um Estado
inchado, que pudesse dar emprego aos companheiros, e submisso, que
estivesse disponível para atender a interesses pessoais e partidários.
Tanto
na oposição como no governo, a legenda de Lula nunca quis um Estado
verdadeiramente republicano. Sempre foi contrária a toda e qualquer
modernização, a toda e qualquer melhoria institucional que pudesse
contribuir para a independência dos órgãos técnicos.
A
resistência petista à criação das agências reguladoras durante o
governo Fernando Henrique Cardoso é exemplo cabal desse desleixo com o
poder público. Como já dissemos neste espaço, no editorial A importância das agências independentes
(17/1), se tivesse prevalecido a visão do PT sobre o funcionamento
estatal, não haveria uma Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) autônoma e técnica para ajudar o País a enfrentar a pandemia, e
a saúde dos brasileiros “estaria hoje à mercê de Jair Bolsonaro”.
O
PT não apenas não contribuiu para o aperfeiçoamento institucional do
Estado, como atuou deliberadamente, durante os governos Lula e Dilma,
para aparelhar ideológica e partidariamente a máquina estatal. Essa
atuação contraria frontalmente o que a Constituição dispõe sobre o
funcionamento da administração pública, que deve seguir os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O
aparelhamento ideológico-partidário é um perverso desvirtuamento do
Estado, que deixa de estar orientado ao bem público para se tornar
submisso a interesses particulares. A respeito desse ponto, o PT sempre
manifestou uma profunda ignorância. Nunca entendeu que a vitória nas
eleições não dá direito ao governante de apropriar-se da máquina
pública. A posse no cargo não transforma o aparato estatal em
instrumento de serviço particular para si mesmo e para sua legenda.
Nesse ponto, Jair Bolsonaro tem a mesma deficiência, tratando o governo
como despachante dos interesses particulares de sua família.
Há
ainda outra nefasta consequência do lulopetismo sobre o Estado, notada
especialmente pela população mais carente e, assim, mais necessitada dos
serviços públicos. Com sua irresponsabilidade nas finanças públicas – a
legenda é praticante fervorosa do negacionismo econômico –, o PT, em
sua desastrosa passagem pelo poder, limitou dramaticamente a capacidade
de investimento do poder público, além de ter tornado o País menos
atrativo para investidores. A bagunça populista gera danos sociais e
econômicos concretos e duradouros.
O
resultado é um Estado inchado e anêmico, incapaz de cumprir suas
funções. Assim, com as atuais circunstâncias a exigir, nos próximos
anos, verdadeira tarefa de reconstrução do Estado, revigorando-o em suas
tarefas essenciais, tem-se mais uma evidência de que Lula não é
solução, e sim parte relevante do problema.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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