Os custos econômicos de tentar travar Putin são sem dúvida consideráveis para a Europa. Mas são de certa forma controláveis, face ao custo que seria deixar esta invasão ilegal sem uma resposta firme. Inês Domingos para o Observador:
A
destruição, a insegurança, os refugiados e as mortes, tanto do lado dos
Ucranianos como daqueles, dentro da Rússia, que se opõem a esta guerra,
são uma tragédia inqualificável.
No
plano económico, existe uma enorme incerteza sobre o que poderão ser as
suas consequências para a Europa e para o mundo, mas para já não se
pode descartar o risco de recessão. Desde logo pelo efeito que uma
guerra que muitos acreditavam ser impossível às portas da Europa poderá
ter na confiança das famílias e das empresas com a consequente retração
do consumo e investimento. É um impacto que poderá não ser limitado à
fronteira leste da UE mas alargar-se a toda a Europa.
Outro
fator de incerteza é a escalada dos preços energéticos, dos cereais e
dos metais, como o paládio. A Rússia é um fornecedor relevante de
importantes matérias-primas e as sanções poderão afetar não só a Rússia
como os seus clientes. Embora na passada sexta-feira os mercados tenham
revertido uma parte do aumento dos preços do dia anterior, as sanções
económicas cada vez mais significativas, e politicamente necessárias,
poderão exacerbar a tendência de subida dos preços das matérias-primas.
Nomeadamente, a expulsão do sistema SWIFT que assegura as instruções de
transferências internacionais, a concretizar-se, será um rude golpe para
a Rússia, com custos elevados também para Europa mais dependente de
alguns bens russos.
A
resposta dos Bancos Centrais para enfrentar esta crise será decisiva. A
normalização da política monetária ainda este ano, que parecia segura
nos Estados Unidos e um cenário cada vez mais provável na zona euro,
poderá ficar comprometida. Por um lado, a inflação provocada por um
choque negativo na oferta, como é o caso de uma guerra, não se resolve
com um aumento das taxas de juros. Por outro, o efeito sobre a procura é
muito incerto e os riscos de um abrandamento e até contração não são
insignificantes, sobretudo na Europa.
Mas
no longo prazo o efeito económico mais relevante a nível global poderá
ser o da reconfiguração geopolítica a que esta invasão obriga. No
passado, a integração da Rússia e da Ásia no comércio internacional
beneficiou todos. Agora, o divórcio inevitável entre a Rússia e o
Ocidente, bem como o crescente distanciamento do Ocidente face à China
terão o efeito oposto. Em primeiro lugar porque, ainda que as
importações vindas da Rússia de certos bens possam ser asseguradas por
outras regiões, a redução da diversidade de oferta é sempre menos
eficiente. Em segundo lugar porque esta crise obriga a uma
reconfiguração da produção na UE, no sentido de um maior investimento na
segurança, que é, na sua maioria, pouco reprodutivo. Por fim, porque as
sanções terão um efeito relevante no potencial de crescimento da
Rússia, condenando um povo e uma região a um longo período de estagnação
ou até recessão, que não beneficia ninguém.
Os
custos económicos de tentar travar Putin são sem dúvida consideráveis,
sobretudo para a Europa, que já se ressente da incerteza provocada pela
invasão. Mas são mensuráveis e de certa forma controláveis, face ao
custo que seria deixar esta invasão ilegal sem uma resposta firme. Impor
sanções mais significativas rapidamente poderá fazer uma diferença
grande na ambição de Putin e do seu círculo mais próximo de
implementarem uma política expansionista na Europa, que neste momento
ninguém tem a certeza onde pode terminar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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