Nível elevado de colesterol é uma das principais causas de agravamento dessas comorbidades. Controle precoce das gorduras saturadas no sangue é fundamental para minimizar riscos à saúde
Foto: Divulgação
As doenças cardiovasculares (DCV) são líderes de mortalidade no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença no coração e cerca de 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no país. São cerca de mil óbitos por dia, números que podem estar sendo agravados em função da pandemia da Covid-19, mostrando ser este um assunto de absoluta relevância.
O receio da
contaminação também tem feito pacientes portadores de doenças
cardiovasculares, e de outras doenças agudas, que necessitam de
acompanhamento médico, negligenciarem a rotina de saúde, deixando de ir
ao médico.
A SBC vem acompanhando a situação devido à redução
no número de atendimentos cardiológicos de urgência no país durante a
pandemia. Dados divulgados pela Arpen-Brasil (Associação dos
Registradores de Pessoas Naturais do Brasil) mostram que houve aumento
de quase 7% no número de óbitos por doenças cardiovasculares nos
primeiros seis meses de 2021, em relação ao mesmo período de 2020. Foram
mais de 140 mil mortes registradas contra mais de 150 mil no mesmo
período deste ano.
O colesterol elevado no sangue é um dos
principais fatores para doenças cardiovasculares e pode ser uma das
causas que podem levar ao infarto e ao acidente vascular cerebral (AVC).
No próximo dia 8 de agosto, é celebrado o Dia Nacional de Combate ao
Colesterol e a SBC faz o alerta para a importância do controle dos
níveis de gorduras saturadas no sangue.
“Controlar as
taxas de gordura no sangue é fundamental para reduzir os riscos que
levam às doenças do coração e que, na maioria das vezes, agem de maneira
silenciosa. Precisamos divulgar sobre este assunto para que as pessoas
aprendam a cuidar da própria saúde e atinjam suas metas de colesterol. É
importante que todas as pessoas tenham seus níveis de colesterol
verificados, de acordo com orientações médicas”, afirma o diretor de
Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC, José Francisco Kerr Saraiva.
Uma
pesquisa feita pela SBC, em 2017, mostrava que 67% das pessoas
desconheciam os valores dos níveis de colesterol do próprio organismo.
Por isso, a entidade reforça a importância de ter as taxas de gordura no
sangue controladas para diminuir os riscos que levam a doenças
cardiovasculares.
Segundo levantamento realizado pela
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) junto ao Sistema
Único de Saúde (SUS), a pandemia fez as pessoas negligenciarem os
cuidados com a saúde, como a realização de exames, inclusive de
colesterol. O estudo mostra que houve queda de 28,5% na quantidade de
exames de dosagem de colesterol HDL realizada em 2020, quando comparada
com o ano de 2019. Mas aponta uma retomada por parte da população com os
cuidados com a saúde nos cinco primeiros meses de 2021, quando foi
registrado um aumento de 16,8% nesse tipo de exame, quando comparado com
igual período do ano passado. Mas, ainda assim, abaixo 18,3% do que foi
registrado de janeiro a maio de 2019, quando não havia a presença do
novo coronavírus.
O mesmo acontece com a dosagem de colesterol
LDL. Em 2020, a queda registrada na quantidade de exames realizados no
SUS foi 26,9% em relação a 2019. Já nos primeiros cinco meses deste ano,
o aumento foi 15,5% na quantidade deste exame no SUS em comparação ao
mesmo período de 2020, mas 17,7% menor do que o realizado de janeiro a
maio do ano anterior.
Com os exames de dosagem de colesterol
total o cenário foi o mesmo. Os números do ano passado de realização
desse exame foram 31% menores do que os de 2019, ano sem pandemia. Já de
janeiro a maio de 2021, o aumento na quantidade desse exame foi de
14,1% em relação a igual período de 2020. Porém, 21,3% inferior ao
volume desses testes ante aos cinco primeiros meses de 2019.
“A
recomendação é que um paciente com riscos maiores, como insuficiência
cardíaca, infarto, usa stent, tem arritmia, hipertensão em estágios 2 e
3, seja visto semestralmente por seu médico. Os que fazem check up, como
o exame de controle de colesterol, não devem ficar mais de um ano sem
realizá-lo”, orienta Saraiva.
ATIVIDADE FÍSICA É FUNDAMENTAL
A
mensagem do diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC é que a
população continue se cuidando, mesmo na pandemia, e não deixe de
realizar atividade física, com segurança.
Em todo o mundo, um
em cada cinco adultos e quatro em cada cinco adolescentes (com idade
entre 11 e 17 anos) não praticam atividade física suficiente. Alguns
grupos populacionais têm menos oportunidades de terem uma vida mais
ativa, entre eles meninas, mulheres, pessoas idosas, com menos recursos
financeiros, com deficiências e doenças crônicas, populações
marginalizadas e povos indígenas.
Por conta da pandemia do
novo coronavírus e a recomendação para se ficar em casa, favorecendo o
distanciamento social e, assim, evitar aumento dos casos, é fundamental
que as pessoas mantenham – ou criem – uma rotina fisicamente ativa. O
sedentarismo é prejudicial para o sistema imune e para a saúde do
coração.
“As evidências são claras. O sedentarismo tem impacto
negativo sobre a saúde, portanto, apesar de não sair de casa, é
fundamental que todos realizem atividade física no ambiente domiciliar.
Deve-se buscar que as atividades físicas sejam integradas ao cotidiano e
que sejam prazerosas. Tais medidas são essenciais e de grande
contribuição para a saúde física e mental, auxiliando na prevenção ao
colesterol elevado, à Covid-19 e suas consequências”, alerta Saraiva.
As
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para indivíduos
saudáveis e assintomáticos são de, no mínimo, 150 minutos de atividade
física por semana para adultos e 300 minutos de atividade física por
semana para crianças e adolescentes. Esse tempo deve ser acumulado
durante os dias da semana, podendo ser dividido de acordo com sua
rotina.
O diretor esclarece, e reitera, que a prática de
atividade física compreende qualquer atividade motora que resulte em um
gasto energético acima dos níveis de repouso, ao passo que a prática
sistematizada, devidamente elaborada e prescrita considerando variáveis
de treinamento visando objetivos específicos é denominada exercício
físico. Assim, enfatiza-se que ambas as atitudes são de fundamental
importância para esse período de isolamento social.
COLESTEROL BOM E COLESTEROL RUIM
Produzido
no organismo, o colesterol é uma gordura com a função de manter as
células em funcionamento para produção de hormônios e da bile,
metabolização de vitaminas, entre outras funções.
Existem dois
tipos de colesterol presentes na corrente sanguínea. O LDL, conhecido
como “ruim”, e o HDL, que protege o coração de doenças e, por isso, é
considerado “bom”. Um dos motivos da alteração dos níveis de colesterol
ruim é o consumo excessivo de gorduras saturadas e trans, presentes em
alimentos de origem animal, como carnes, ovos, derivados do leite, além
de produtos ultraprocessados, como biscoitos, margarina, salgadinhos de
pacote, comidas congeladas, bolos prontos e sorvete. Cerca de 70% do
colesterol é produzido pelo próprio organismo, no fígado. Os demais,
30%, vêm da dieta e, por isso, é tão importante manter uma alimentação
equilibrada, alerta a SBC.
Um dos mitos mais ultrapassados é
acreditar que o colesterol é problema apenas de quem sofre de obesidade.
Pessoas magras também podem apresentar descontrole nos níveis de
gordura no sangue e estar no grupo de risco de infarto e AVC.
É
importante que as pessoas saibam que o colesterol elevado, geralmente,
não dá sinais e nem apresenta qualquer sintoma. Por isso, é essencial
realizar os exames periódicos e acompanhamento médico, além de adotar
hábitos que incluem a alimentação saudável e adequada, e a prática de
atividades físicas regularmente.
O diagnóstico para o risco
cardiovascular é feito pelo médico, que avalia além dos valores de
colesterol e frações, à genética, a história familiar e todos os fatores
de risco associados para fechar o diagnóstico e definir a conduta.
NÚMEROS DE MORTES
As
doenças cardiovasculares são um problema de saúde pública mundial. São
mais de 18 milhões de óbitos no mundo decorrentes dessas doenças
prevalentes. No Brasil, as doenças cardiovasculares representam as
principais causas de mortes. Estima-se que até 2040 haverá aumento de
até 250% desses eventos no país. A cada dois minutos uma pessoa sofre um
acidente vascular cerebral ou um infarto agudo do miocárdio.
Apesar
das doenças do coração manifestarem-se, em sua grande maioria, na vida
adulta, é na infância que o processo de aterosclerose - doença
degenerativa que se caracteriza principalmente pelo depósito de gordura
(colesterol LDL) e de outras substâncias nas camadas internas das
artérias do coração, do cérebro, da aorta, obstruindo a passagem do
sangue em porcentagens variáveis – tem seu início. A doença
cardiovascular aterosclerótica é responsável pela metade da morbidade e
mortalidade em todo o mundo. O controle do colesterol elevado associado a
uma alimentação saudável, à prática de atividades físicas regularmente e
a redução do estresse tendem a reduzir em 80% desses óbitos.
Ainda
segundo os dados da Arpen-Brasil, as mortes por infarto, que haviam
reduzido em 3,82% de janeiro a junho de 2020 em relação a igual período
de 2019, voltaram a subir este ano, registrando aumento de 3,14% nestes
primeiros seis meses.
Os óbitos por AVC registraram uma leve
queda em 2021. No primeiro semestre de 2020 foram 50.370 mortes, em
igual período este ano foram registrados 50.284 óbitos, configurando uma
queda de 0,17%.
Já as mortes por doenças cardiovasculares
inespecíficas – morte súbita, parada cardiorrespiratória, choque
cardiogênico, entre outros – registraram aumento de quase 19% quando
comparadas ao período de janeiro a junho do ano passado. Foram mais de
52 mil óbitos nos primeiros seis meses deste ano, enquanto no mesmo
período de 2020, foram quase 44 mil.
Assim como no ano
passado, houve aumento das mortes por DCV em domicílio, que registraram
aumento de 11,74%. Foram mais de 42 mil óbitos nos primeiros seis meses
de 2021, ante quase 38 mil mortes no mesmo período do ano passado.
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