Os primeiros dados sobre a Coronavac estão aparecendo nas revistas científicas. Confirmam que a vacina funciona, é muito útil em prevenir casos graves, mas é menos efetiva em inibir o espalhamento do vírus. Fernando Reinach para o Estadão:
Na época em que o Instituto Butantan
terminou o estudo de Fase 3 da Coronavac, como se recorda, uma das
razões para o atraso na divulgação dos dados foi a existência de um
estudo semelhante feito na Turquia. Enquanto o estudo brasileiro
indicava uma eficácia de ~50% contra o aparecimento de casos
sintomáticos de covid-19, o estudo turco obteve uma eficácia de ~85%.
Depois disso, a comunidade científica espera a revisão por pares e a
publicação definitiva dos resultados desses dois estudos para entender o
motivo da discrepância e a real eficácia da Coronavac.
Até
o momento o estudo coordenado pelo Butantan ainda não passou pela
revisão de pares e não foi publicado em sua forma definitiva. Mas nesta
sexta-feira, 9, foi publicado na revista The Lancet a versão revisada e
definitiva do estudo turco, acompanhado de um editorial elogiando-o por
fornecer dados sólidos sobre a eficácia da Coronavac. Dado seu pequeno
tamanho (11.303 voluntários, divididos entre o grupo controle e o
vacinado), o estudo somente foi capaz de avaliar a eficácia contra o
aparecimento de casos sintomáticos detectados por exames PCR. E a
eficácia ficou em 83,2% (intervalo de confiança entre 65,4 e 92,1%). Não
foi possível calcular a eficácia da vacina em prevenir internações ou
mortes.
A
eficácia medida nesse estudo é maior que a divulgada pelo Butantan, e
que está sob avaliação dos pares desde 14 de abril. Essa é uma boa
notícia para quem foi vacinado com a Coronavac, pois é o primeiro estudo
da eficácia dessa vacina publicado em uma revista científica. Mas é
importante lembrar que o estudo foi feito entre 14 de setembro de 2020 e
5 de janeiro de 2021, quando muito provavelmente somente a cepa
original do coronavírus circulava na Turquia. Frente a novas variantes,
esse número deve ser menor.
Outra
boa notícia é o estudo que foi publicado no The New England Journal of
Medicine, descrevendo os dados obtidos no Chile após a vacinação com a
Coronavac. São dados obtidos em condições reais de vacinação, entre os
dias 2 de fevereiro e 1.º de maio de 2021, quando provavelmente a cepa
presente no Chile
era a original. Nesse estudo foi envolvido um número muito grande de
voluntários (10,2 milhões de pessoas, divididos em três grupos: os não
vacinados, os vacinados com uma dose e os vacinados com as duas doses). O
estudo mostrou que a efetividade da Coronavac em prevenir casos de
covid com sintomas foi de 65,9%. A vacina também preveniu 87,5% das
hospitalizações, 90,3% das internações em UTis e 86,3% das mortes. Os
intervalos de confiança dessas medidas são pequenos, por causa do enorme
número de voluntários estudados.
Esses
resultados são os primeiros de efetividade da Coronavac e demonstram
que ela impede grande parte dos casos graves e de mortes. Por outro
lado, a baixa efetividade contra casos mais leves (65,9%) talvez
explique por que no Chile o número total de casos por milhão de
habitantes continua alto. A interpretação mais simples é que a Coronavac
impede o surgimento de casos graves, mas não bloqueia completamente a
transmissão do vírus.
Os
primeiros dados sobre a Coronavac estão aparecendo nas revistas
científicas. Confirmam que a vacina funciona, é muito útil em prevenir
casos graves, mas é menos efetiva em inibir o espalhamento do vírus.
Infelizmente a efetividade contra novas variantes ainda é desconhecida e
os poucos dados divulgados não foram publicados em revistas
científicas. Hoje a cepa original praticamente não existe mais, tendo
sido substituída pelas novas variantes, sendo a mais preocupante a
delta. Nas próximas semanas vamos saber o estrago que ela vai fazer no
Brasil, onde poucos receberam as duas doses da vacina.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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