É muitíssimo grave que o presidente da República diga com um ano e quatro meses de antecedência que a eleição de 2022 só será limpa se ele sair vitorioso. Editorial do Estadão:
Considerado
um “mau militar”, Jair Bolsonaro saiu do Exército em desonra para
entrar na política de forma explosiva. Sua longa e desenxabida carreira
no Poder Legislativo ficou notabilizada pela politicagem miúda, pela
vulgaridade e pelo desrespeito aos princípios mais comezinhos da
democracia. Ao longo dos últimos 33 anos, sempre que Bolsonaro chamou a
atenção para sua figura foi por razões que envergonhariam os grandes
nomes que ajudaram a escrever a história do Parlamento brasileiro.
Ora,
se entrou na política estimulando a baderna, construiu sua bem-sucedida
(do ponto de vista pessoal) carreira parlamentar lamentando o fato de
no Brasil viger plena democracia e chegou à Presidência da República
como um líder sectário, por que cargas d’água Bolsonaro haveria de sair
dela como um estadista?
Semana
sim e outra também, o presidente tem lançado suspeitas sobre a higidez
do sistema eleitoral eletrônico, que, segundo ele, seria suscetível a
fraudes. Isto não é outra coisa se não pretexto para criar mais confusão
no País caso não seja reeleito. E Bolsonaro tem razões para ficar
preocupado com esta possibilidade. Pesquisas de intenção de voto
realizadas por diferentes institutos têm indicado que não é mais remota a
possibilidade de Bolsonaro sequer chegar ao segundo turno da eleição de
2022. Evidentemente, ainda falta tempo para o pleito e tudo pode mudar.
Fato é que a rejeição sofrida pelo incumbente, pesquisa após pesquisa,
tem caminhado mais para o ponto de irreversibilidade do que de inflexão.
Em
entrevista à Rádio Guaíba na quarta-feira passada, Bolsonaro tornou a
dizer mentiras sobre nosso sistema eleitoral e a ameaçar a Nação. “Sem o
voto impresso, algum lado pode não aceitar o resultado (da eleição).
Esse lado, obviamente, é o nosso lado”, disse o presidente.
É
muitíssimo grave que o presidente da República diga com 1 ano e 4 meses
de antecedência que a eleição de 2022 só será limpa se ele sair
vitorioso. Como se não bastasse, Bolsonaro acusou o Supremo Tribunal
Federal (STF), especificamente o ministro Luís Roberto Barroso, atual
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de fazer parte de um
conluio para permitir a volta do petista Lula da Silva à Presidência.
“Não
podem botar em votação (o voto impresso) porque vão perder por causa da
interferência do ministro Barroso, um péssimo ministro”, disse
Bolsonaro à Rádio Guaíba. “Quando Barroso vai negociar com lideranças
partidárias para que não tenha voto impresso, o que ele quer com isso?
Fraude nas eleições”, afirmou o presidente. Bolsonaro encerrou a
entrevista com nova ameaça: “Sem voto auditável, haverá problemas”. Que
problemas seriam estes? Até quando a Nação aceitará este tipo de
chantagem vindo da mais alta autoridade da República?
O
ministro Barroso não respondeu. Coube ao presidente do STF, ministro
Luiz Fux, dar a devida resposta institucional ao ataque proferido por
Bolsonaro. “O Supremo Tribunal Federal ressalta que a liberdade de
expressão, assegurada pela Constituição a qualquer brasileiro, deve
conviver com o respeito às instituições e à honra de seus integrantes,
como decorrência imediata da harmonia e da independência entre os
Poderes”, disse Fux por meio de nota. “O STF rejeita posicionamentos que
extrapolam a crítica construtiva e questionam indevidamente a
idoneidade das juízas e dos juízes da Corte Suprema”, concluiu o
ministro.
A
despeito de seu comportamento reprovável, por vezes repulsivo,
Bolsonaro obteve sucessivos êxitos eleitorais. E não apenas para si, mas
também para sua prole masculina, que não trai sua origem. É lícito
inferir, portanto, que no entender do presidente o estímulo à confusão e
a agressividade são ativos importantes para a construção de uma
carreira política de sucesso. Afinal, Bolsonaro foi eleito mandatário
supremo do País sendo exatamente quem sempre foi.
Fiel
à sua natureza, Bolsonaro segue estimulando a balbúrdia e já contratou a
crise do próximo ano. Se será uma grave crise institucional ou
choramingo de um eventual mau perdedor, as forças vivas da Nação vão
dizer.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário