O novo trabalho foi submetido na forma de pré-print à Stem Cell Research, uma das revistas científicas mais importantes do mundo.
Foto: Reprodução/Visual Science
Por Roberta Jansen
Um grupo de cientistas brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto D'Or de Pesquisa descreveu pela primeira vez como o Sars-CoV-2 invade as células neuronais e provoca danos ao cérebro. Os cientistas constataram que, embora o vírus não se replique dentro dos neurônios, ele provoca uma resposta inflamatória sistêmica que leva a danos nas células neuronais. A descoberta, feita em laboratório, será crucial para a compreensão das sequelas neurológicas e psiquiátricas da Covid-19.
Inicialmente,
a doença foi descrita como uma infecção do trato respiratório. No
entanto, já se sabe que o vírus afeta vários outros órgãos, como os
rins, o fígado, os vasos sanguíneos, o coração e o cérebro. Pelo menos a
metade dos pacientes apresenta sintomas neurológicos, como confusão
mental, anosmia (perda de olfato), delírio e risco aumentado de AVC. O
novo trabalho foi submetido na forma de pré-print à Stem Cell Research,
uma das revistas científicas mais importantes do mundo.
Em
setembro, o mesmo grupo havia constatado pela primeira vez a presença do
Sars-CoV-2 dentro do cérebro. A equipe teve acesso aos resultados de
uma necropsia feita em uma criança de 1 ano e 2 meses morta por
Covid-19. Os cientistas conseguiram constatar a destruição dos tecidos
cerebrais, mas, em testes in vitro, não conseguiram identificar a
replicação do vírus dentro das células cerebrais.
Desta vez,
voltou-se a testar o processo com a ajuda de neuroesferas humanas
(microcérebros mais simplificados, feitos com células tronco) em
laboratório. Eles conseguiram constatar que o vírus entra nos
organoides, mas, de fato, não se replica dentro das células.
"Comprovamos
por exemplo, também em laboratório, que o vírus se replica em células
cardíacas, mas não nas células neurais, mesmo quando submetidas a uma
grande quantidade de Sars-CoV-2", explicou a neurocientista Marília
Zaluar Guimarães, da Federal do Rio e do Instituto D’Or, uma das autoras
do trabalho. "Mas mesmo não mobilizando a maquinaria celular para criar
outros vírus, ele provoca um estrago nas células, por meio da produção e
liberação de citoquinas."
Evolução
A
inflamação, segundo o novo estudo, enfraquece o sistema imunológico e
causa danos neurológicos e psiquiátricos. "Essa descoberta é condizente
com a hipótese atualmente mais aceita de que a maioria dos danos neurais
causados pela Covid-19 está relacionada a uma inflamação sistêmica que
leva a danos indiretos no sistema nervoso central", conclui o trabalho.
"Essa
‘tempestade de citoquinas’, característica da covid severa, tem um
grande impacto no funcionamento cerebral", explica a pesquisadora. "Ela
prejudica a memória, a manutenção das atividades neurais, as sinapses,
entre muitas outras."
Para a neurocientista, a descoberta será crucial para entender as sequelas neurológicas e psiquiátricas deixadas em pacientes de Covid. "Acho que esse estudo pode ser uma semente para entender os processos das sequelas que, infelizmente, começaremos a ver cada vez mais", concluiu. Projeções feitas pelos serviços de saúde e pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, no fim do ano, indicavam sequelas em mais de 40% dos infectados pelo vírus. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo
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