Vacinação em massa faz parte de estudo da Fiocruz
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A bucólica Ilha de Paquetá, com suas ruas de terra e casas históricas, estará na vanguarda da cidade do Rio de Janeiro nos próximos meses e poderá ser a primeira área da cidade a erradicar a covid-19. O passo mais importante para que isso aconteça ocorre neste domingo (20), com a vacinação em massa promovida em um estudo da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Famosa
nacionalmente como cenário do clássico A Moreninha, romance de Joaquim
Manuel de Macedo, a ilha é localizada na parte mais interna da Baía de
Guanabara e tem 4.180 moradores. Para chegar e sair do bairro, a barca é
o único meio de transporte público, e as bicicletas e caminhadas
substituem os carros nos 120 hectares de área da ilha.
Em uma
transmissão ao vivo na internet com a Associação de Moradores de Paquetá
(Morena), realizada na última semana, pesquisadores da Fiocruz e o
secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explicaram como funcionará
o estudo, que terá um ano de duração e espera antecipar os efeitos da
vacinação que meses depois serão observados no restante da cidade. O
imunizante utilizado será a vacina Oxford/AstraZeneca, que é produzida
no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
"Nossa
esperança e principal expectativa é que Paquetá seja a primeira área do
Rio de Janeiro livre da covid-19, e a gente poder falar que estamos há
tantos dias sem nenhum caso de covid-19 em Paquetá. A expectativa é que
isso aconteça 14 dias após a segunda dose, mas pode acontecer de a
imunidade coletiva ser até mesmo com a primeira dose. Vamos analisar
diariamente a curva de casos", disse Soranz.
Na quinta-feira
(17), o trabalho começou a ser realizado com a coleta de amostras de
sangue para testes sorológicos em 3 mil moradores de Paquetá que se
apresentaram como voluntários. Entre os objetivos, o estudo quer
monitorar a "soroconversão", isto é, quem era soronegativo (não tinha
anticorpos) e passou a ser soropositivo (com anticorpos). A pesquisa
será capaz de diferenciar quem passou a ter anticorpos por causa da
vacina e quem os adquiriu devido a uma infecção, e isso ajudará a
verificar, entre outros pontos, o nível de proteção coletiva que será
alcançado.
O infectologista da Fiocruz José Cerbino Neto
explicou que a população será dividida em três grupos: quem já havia se
vacinado, quem vai receber a vacina no domingo e quem não pode receber a
vacina, como as crianças. Com isso, será possível conferir questões
como a proteção já na primeira dose e o quanto a vacinação das pessoas
em volta é capaz de proteger quem não foi imunizado.
Segundo a
Secretaria Municipal de Saúde, 1.946 pessoas já haviam recebido a
primeira dose de alguma das vacinas contra a covid-19 em Paquetá até o
dia 17 de junho, e 1.132 segunda dose já haviam sido aplicadas nos
moradores até a mesma data. A expectativa de Soranz é que o número de
doses aplicadas neste domingo possa chegar a 1,6 mil.
Os pesquisadores explicam que quanto maior for a adesão da população ao estudo, maior será a possibilidade de extrair conclusões. A pesquisa é considerada um estudo de Fase 4, quando o que está em análise é a efetividade das vacinas "no mundo real", conceito que é diferente de eficácia, que é o percentual de proteção medido pelos testes clínicos, em um grupo controlado e em comparação a um placebo antes da aprovação da vacina pelas autoridades sanitárias.
Estudo
A escolha de Paquetá para esse estudo passa por uma série de características, como o fato de ser uma ilha, com uma única entrada e saída. Além disso, o bairro tem apenas uma unidade de saúde, que, por sua vez, possui um cadastro de saúde da família bem consolidado com capacidade de monitorar a evolução dos casos.
O infectologista da
Fiocruz disse ainda que o estudo em Paquetá terá características
diferentes dos que foram realizados em populações maiores, como nas
cidades de Serrana e Botucatu. Segundo o infectologista, com um grupo
populacional menor em observação, é possível, por exemplo, analisar o
deslocamento dos voluntários para fora da ilha e possíveis impactos que
isso possa ter na efetividade da vacina. Apesar da análise mais
completa, os dados e as informações médicas dos moradores serão mantidas
em sigilo.
“A gente vai poder avaliar questões de segurança
da vacina, eventos adversos em uma escala maior e com controle mais
fino. A gente vai poder ver a resposta da vacina para as diferentes
variantes. Todos os casos de covid-19 que eventualmente apareçam a gente
vai genotipar para saber que variante é aquela. São respostas muito
importantes nesse momento”, explica Cerbino Neto.
“Paquetá
está na vanguarda da estratégia de vacinação da cidade. A gente vai
começar por Paquetá e os resultados que a gente encontrar vão ajudar
muito nas políticas de controle para o resto da cidade”.
Evento-teste
Oito semanas após a primeira dose, haverá uma nova vacinação em massa para completar o esquema vacinal dos participantes do estudo. O intervalo de oito semanas está dentro da janela de oito a 12 semanas recomendada para a aplicação da segunda dose da AstraZeneca e permitirá obter os resultados mais rapidamente do que com o intervalo de 12 semanas. A expectativa dos pesquisadores é que 14 dias após a segunda dose a circulação do vírus tenha sido reduzida ou zerada, abrindo caminho para a realização de um evento-teste na ilha.
O evento será realizado no
Parque Darke de Mattos, um local aberto, e só poderão participar
moradores de Paquetá que tenham sido vacinados. Essa etapa do estudo
depende de uma grande adesão à vacinação e permitirá observar se o vírus
será capaz de circular em meio a uma população vacinada, que será
dispensada do uso de máscara nessa ocasião, segundo Cerbino Neto.
Fonte: Agencia Brasil
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