Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 20 de junho:
A
política brasileira está mesmo dividida: de um lado, bolsonaristas, que
adoram gastar à vontade o dinheiro público; de outro, com lema
invertido, lulistas, que adoram gastar o dinheiro público à vontade.
Bolsonaro (e seus aliados no Congresso) tentam há tempos furar o teto
das despesas públicas. Lula disse agora que, se for eleito, vai revogar o
teto de gastos – conhecido como a “regra de ouro”, que desde o Governo
Temer segura a inflação.
Só
se juntam nisso? Não: os presidentes da Câmara e do Senado foram
eleitos por bolsonaristas, com pleno apoio do PT e
partidos-penduricalhos que usam outros nomes para parecer que não fazem
parte do PT.
Só
nisso? Imagine! A reforma da Lei da Improbidade Administrativa, que
facilitará em muito a tarefa de privatizar recursos públicos, já tem a
garantia de que será sancionada por Bolsonaro (ele diz que é para
“desburocratizar” a gestão pública). OK, há quem se refira ao
contrabando como “importação desburocratizada”. O relator da reforma da
Lei da Improbidade é um lulista, Carlos Zarattini. O PT votou de forma
unânime a favor da desburocratização de Bolsonaro. A aprovação na Câmara
foi por 408 votos a 67, com apenas uma abstenção. O caro leitor quer
algo mais próximo de uma união nacional?
E
a rapidez, então! O relatório de Zarattini foi apresentado às 17h10, a
urgência foi aprovado às 17h19, em nove minutos. No dia seguinte, a
reforma foi aprovada. Se facilita a corrupção, todos dormem com o
inimigo.
O objetivo
O
procurador Roberto Livianu, do Instituto Não Aceito Corrupção, afirma
que a Lei da Improbidade (essa que está sendo “flexibilizada” – palavra
de Bolsonaro) é a mais importante medida anticorrupção em vigor no país.
“Não foi urgência para salvar vidas, combater desemprego, Covid,
corrupção”. A pressa foi para facilitar a vida de quem gosta de meter a
mão no pudim.
Ele conhece
Por
que Lula está tão bravo com o teto de gastos? Ele explica: “A quem
interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro? Gasto
é quando você investe um dinheiro que não tem retorno. Quando você dá
um bilhão para rico é investimento, e quando dá R$ 300 para pobre é
gasto?”
As
palavras de Lula devem ser pensadas: em seu Governo, empreiteiras,
“campeões nacionais” e ditaduras estrangeiras receberam bilhões,
chamados de “investimentos”, e os mais pobres receberam a Bolsa-Família,
pequena quantia que, no entanto, fazia falta para suas despesas.
Gastou-se muito mais com obras em ditaduras estrangeiras, mas Lula acusa
os adversários de ser contra a Bolsa Família. Enfim... Bolsonaro gastou
com cloroquina e a Bolsa Família que ele prometia melhorar até agora
está esperando algum dinheiro.
E,
como o próprio presidente lembra, seu Governo já tem quase 900 dias. O
Governo Kennedy, que transformou os Estados Unidos, só durou mil dias.
Noves fora...
Luciano
Huck anunciou que não será candidato à Presidência. Mas, cá entre nós,
alguém algum dia acreditou que Huck poderia ser candidato? É um bom
apresentador de TV, parece ser gente boa, ligou-se a um economista de
prestígio, Armínio Fraga, faz cursos, conversa. Mas jamais disputou uma
eleição. Até hoje não conseguiu se definir por um partido. Desde que se
fala em candidatura, nunca participou de debates. Entrevistas, só
depoimentos em que diz o que quer, sem ser contestado. Entregar a
economia a Armínio Fraga pode ser uma boa ideia – é o que se dizia de
Bolsonaro, que com Paulo Guedes na Economia e Sérgio Moro na Justiça seu
governo não poderia falhar.
Em resumo: depois de anos de candidato a candidato, não é candidato.
...nada
O
governador Flávio Dino, do Maranhão, se desligou do PCdoB. Agora não é
mais comunista: é socialista. Como Paulo Skaf (o da Fiesp) antes dele,
está no PSB. E daí? Daí, nada: se pretende ser candidato à Presidência
sem o carimbo de comunista, pode se preparar que para os bolsonaristas
quem é adversário só pode ser comunista (e dos piores, que nem tomam
cloroquina). Dino realizou a façanha de vencer a família Sarney no
Maranhão, mas isso é pouco para que alguém possa rivalizar com Lula e
Bolsonaro. Além disso, o PSB, hoje, tende a se aproximar de Lula. E se
mudar será por um candidato que tenha chances de unir o centro
democrático contra os dois polos que se dizem opostos, mas que precisam
um do outro (e se aliam quando convém).
Caminhão no caminho
Há
uma crise prontinha para estourar: os caminhoneiros, que há quatro
meses aceitaram as promessas do Governo para não entrar em greve, sabem
agora que foram enganados. Algumas promessas: prioridade na vacinação;
diesel mais barato (está em R$ 4,20, não caiu um centavo, nem com
general no comando da Petrobras), fim dos impostos federais sobre
combustível. O Governo zerou os impostos em abril e voltou a cobrá-los
em maio.
Já se fala novamente em greve, com apoio de líderes nacionais da categoria.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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