É válido que o Partido dos Trabalhadores almeje retornar ao Planalto, mas também que parte da sociedade prefira avaliar outros nomes ao de Luiz Inácio. Mário Vitor Rodrigues para a Gazeta do Povo:
Embora
a pergunta seja retórica, começo tirando o espantalho da frente: não
precisa. Para além das circunstâncias, contudo, uma poderosa combinação
de interesses deseja impor à sociedade um personagem que há décadas
protagoniza o cenário político, já presidiu o país em duas ocasiões, foi
preso por corrupção e lavagem de dinheiro — as condenações foram
anuladas após o ministro Edson Fachin declarar a incompetência da 13ª
Vara Federal de Curitiba para julgar os casos de corrupção do
ex-presidente, mas o julgamento continua.
A
natureza hegemônica do PT tem papel preponderante nesse cenário. O
partido disputou todos os pleitos presidenciais desde a reabertura,
pediu o impeachment de todos os mandatários democraticamente eleitos e
desconhece escrúpulos na sua busca pelo poder — como Marina Silva pôde
experimentar em 2014.
Aos
que não reconhecem tal sanha o próprio Lula encerra o debate: “O PT vai
polarizar em 2022. São poucos os partidos nacionais como o PT, por isso
nos vamos sempre polarizar”, afirmou durante reunião da Executiva
Nacional do Partido dos Trabalhadores, em 14 de novembro de 2019, sua
primeira aparição pública após ter deixado a carceragem da Polícia
Federal em Curitiba. “Não pode ter medo de polarizar”, acrescentou.
Como
qualquer legenda, o PT tem todo direito de disputar quantos pleitos
desejar e é legítimo que lute para voltar ao poder. O problema se dá
quando sua militância e simpatizantes tentam sufocar o debate sobre
novas alternativas para destronar Bolsonaro.
Não
é coerente com o discurso antiautoritarismo instaurar um clima de “se
não está com Lula é porque apóia Bolsonaro”. É válido que o Partido dos
Trabalhadores almeje retornar ao Planalto, mas também que parte da
sociedade prefira avaliar outros nomes ao de Luiz Inácio.
O
presidente da República é candidato natural à reeleição e Lula um
político popular, mas, para além dessas evidências, fato é que estamos
viciados em polarização. O que não deixa de ser compreensível: por meio
da dela, a dicotomia, conseguimos simplificar o entendimento de um tema
que nunca nos agradou, e do qual pouco entendemos, de quebra saciando
nosso apetite pelo caos.
Mora
nesse estado de coisas a razão pela qual o que se convencionou chamar
de terceira via já nasceu ferida de morte. Mais até do que na falta de
opções ou de carisma daqueles que eventualmente são citados como
possíveis candidatos.
O
panorama parece cada vez mais delineado. Novamente, Ciro Gomes surge
como a possibilidade mais razoável de furar a polarização vigente,
embora as chances disso acontecer sejam remotas. E está tudo certo. Se
for da vontade da maioria dos brasileiros reeditar o embate do último
pleito, que assim seja.
Para o bem do debate público entre os opositores ao governo, porém, a imposição de um nome não faz sentido. Não tão cedo.
Já
não é possível ignorar que boa parte das pessoas alimenta o desejo de
estancar esse sistema de venda casada em que só os extremos têm a
ganhar. Ainda que ele não se concretize. Mesmo que, ao fim e ao cabo,
tenhamos que capitular para evitar o pior.
A
necessidade de derrotar Bolsonaro transcende a disputa política. A
sobrevivência da própria democracia está em jogo. Nem essa missão,
contudo, deveria castrar a discussão sobre o melhor nome para
enfrentá-lo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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