A Covid-19 pegou o presidente justamente na hora em que subia um pouco, depois do debate, e pode atrapalhar as sabatinas da juíza indicada por ele. Vilma Gryzinski:
O
vírus se alastra. A expressão normalmente é usada em sentido
metafórico, mas no caso de Donald Trump tem também um significado
literal.
A
menos de trinta dias da eleição presidencial, grassam as incertezas
sobre as consequências da propagação da Covid-19 entre políticos que
tiveram contato com Trump e o próprio estado de saúde dele,
suficientemente preocupante para levar à sua hospitalização.
Qual
político na face da Terra gosta de passar a imagem de doente? E ainda
mais faltando tão pouco para uma eleição pela qual ele teria que brigar
até o último suspiro – esse, apenas simbólico.
Se
não houvesse risco, Trump teria continuado na Casa Branca, junto com
Melania, para a qual não foi invocada a “abundância de precaução” que
levou o presidente ao avançadíssimo hospital militar, o Walter Reed –
homenagem ao médico do Exército que descobriu a relação entre a febre
amarela e os mosquitos que a transmitem.
Como no Brasil, o mosquito de origem africana era uma praga em cidades como Filadélfia e Washington.
George
Washington, que ainda não havia nomeado a capital americana, teve que
fugir de uma das epidemias de “febre americana”, como era conhecida.
A nova epidemia é uma espécie de febre americana multiplicada por mil.
A
contaminação de Trump pode levá-lo a uma derrota mais categórica ainda
do que a antecipada pelas pesquisas ou abre caminho a uma espetacular
virada de última hora?
Os dois debates ainda no programa serão realizados?
Os
democratas conseguirão sabotar a sabatina e – no caso de derrota do
presidente – a própria indicação da juíza Amy Coney Barrett para a
Suprema Corte?
A
primeira tentativa já foi feita, com senadores democratas indicando que
a juíza deveria entrar em isolamento por ter tido contado com Trump.
Ela retrucou, através de terceiros, que já teve a Covid-19.
Foi
feita nova tentativa: como dois senadores republicanos da Comissão de
Justiça foram contagiados, a sabatina deveria ser adiada.
A
essa altura, o valor de Amy Coney Barrett como trunfo eleitoral foi
amplamente superado pelo clima de alta instabilidade provocando pela
doença do presidente.
As duas narrativas possíveis ainda estão se defrontando.
A
primeira: a Covid-19 sela de vez a tentativa de reeleição de um
presidente que nunca deveria ter sido eleito e vai direto para a lata de
lixo da história, tendo um melancólico e cármico final, derrubado pela
doença que tentou minimizar.
“Num
momento que parece bíblico, o implacável vírus bate à sua porta”,
escreveu Maureen Dowd no New York Times, resumindo o espírito
triunfalista dos antitrumpistas, com a ressalva que achou “vulgares” os
memes comemorativos.
A
segunda narrativa: sozinho, contra tudo e contra todos, e até contra a
mão implacável do destino que colocou o coronavírus em seu caminho,
Trump toca o coração de seus partidários que já estavam resolvendo nem
sair de casa, diante da vitória iminente de Biden, e ainda leva parte
dos que estavam em cima do
“Um
presidente americano sofrendo uma doença potencialmente fatal gera
simpatia entre as pessoas decentes”, uma expressão de desejo manifestada
por Rob Crisell no Americano Spectator.
“Se
a doença mostrar Trump como um ser vulnerável, ele perde seu valor como
bicho papão, uma assustadora e demoníaca criatura usada para separar
Trump de sua base e empurrar os indecisos para Biden.”
Parece
exagero demais, mas uma pesquisa do Investor’s Business Daily mostrou
que, depois do debate e antes do anúncio da doença, a diferença entre
Trump e Biden havia diminuído para a margem de erro: 48,6% a 45,9%.
Nada menos que 19% dos pesquisados disseram que mudaram de opinião: 9% passaram a preferir Biden e 11% penderam para Trump.
Quem vai conseguir dormir em Washington até 3 de novembro?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário