MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 4 de outubro de 2020

Puseram Michelle numa fria, distribuindo no nome dela um dinheiro que não lhe pertencia

 


: primeira-dama indignada | NSC Total

Charge do Zé Dassilva (Arquivo Google)

Elio Gaspari
O Globo/Folha

A repórter Constança Rezende mostrou que o vírus dos áulicos capturou R$ 7,5 milhões que o frigorífico Marfrig doou ao governo em março para a compra de 100 mil testes rápidos para detectar o coronavírus. Testaram zero, e a história dessa maluquice é uma viagem ao mundo da burocracia, da bajulação e das espertezas.

Aos fatos: No dia 23 de março, a Marfrig ofereceu o dinheiro à Casa Civil da Presidência da República. A primeira encrenca. Dias depois, o Itaú-Unibanco fez o certo. Anunciou a doação de R$ 1 bilhão para o combate à pandemia sem colocar um só tostão na máquina do governo. E Bolsonaro dizia que “brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus”.

DISSE A CASA CIVIL – No dia 20 de maio, a Casa Civil informou que o dinheiro seria usado “com fim específico de aquisição e aplicação de testes de Covid-19”. Levaram dois meses para processar a informação. Já haviam morrido 18.959 pessoas. O ministro Paulo Guedes dizia que tinha um amigo inglês capaz de fornecer 40 milhões de testes por mês ao Brasil.

Passaram maio e junho. A 1º de julho, a Casa Civil mudou de ideia e perguntou à Marfrig se o dinheiro dos testes podia ser usado no projeto Arrecadação Solidária, vinculado ao programa Pátria Voluntária, de Michelle Bolsonaro, mulher do presidente. Diante de tantos nomes bonitos, quem seria capaz de dizer não? A essa altura já tinham morrido 60.194 pessoas.

Juntaram-se dois erros. Num, o dinheiro iria sabe-se lá para onde. No segundo, caiu na velha cumbuca das obras assistenciais da mulher do presidente. Salvo no Comunidade Solidária de Ruth Cardoso, elas quase sempre foram uma fábrica de encrencas. Geridas por áulicos, aporrinharam as vidas de Maria Thereza Goulart e de Rosane Collor de Mello.

EXPANDIRAM O ALCANCE – O dinheiro da Marfrig foi doado para a compra de testes, mas os çábios expandiram o alcance. Iria também para medicamentos, comida ou material de limpeza. Qualquer coisa, enfim. A Associação de Missões Transculturais Brasileiras, outro nome bonito, recebeu R$ 240 mil. No seu endereço funcionava um restaurante, mas seu presidente informa que, por ser uma associação, “só tem endereço fiscal”. Fica combinado assim.

Marquetagens e manobras burocráticas puseram Michelle Bolsonaro numa fria. Ela, como acontecia com Maria Thereza Goulart e Rosane Collor de Mello, não administra o dinheiro dos programas a que empresta seu nome. Usando-se a marca da mulher do presidente, atraem-se áulicos e espertalhões. Ao final, a conta vai para a senhora.

PARA ONDE FOI? – A Casa Civil informa que só a Fundação Banco do Brasil sabe o destino exato dos R$ 3,5 milhões da Marfrig. Se o dinheiro não serviu para testar pessoas, o caso pode servir para testar a capacidade do governo e do Banco do Brasil de dizer o que aconteceu com o ervanário.

O Itaú-Unibanco sabe para onde foi cada centavo do bilhão que doou.

VOLTA A CORRUPÇÃO – Desde que começou a pandemia, governadores e secretários de Saúde foram apanhados com a mão na bolsa da Viúva.

A operação Monte Cristo, do Ministério Público de São Paulo, bateu em empresas e associações de distribuidoras de medicamentos. Numa casa, acharam R$ 9 milhões em moeda corrente. Noutra, R$ 200 mil em sacos de lixo.

É só juntar lé com cré: não haveria político corrupto no setor de Saúde sem empresário pagando.

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