BLOG ORLANDO TAMBOSI
Infelizmente, o totalitarismo progressista já chegou às escolas privadas. A crônica de Paulo Polzonoff Jr. para a Gazeta:
Aconteceu.
Dois anos depois de eu ter entrevistado o escritor Sérgio Rodrigues e o
Eduardo Calbucci sobre a então novidade estranha e impraticável da
então chamada “linguagem não-binária”, hoje conhecida simplesmente como
gênero neutro, essa forma extremista de se posicionar ideologicamente
começa a ganhar força. Já tem até colégio ensinando a meninade a
escrever assim.
Em
2018, lembro bem de ter escrito a matéria em meio à tradução de “A Era
Progressista”, de Murray Rothbard. A cada página, eu ia entendendo um
pouquinho como o progressismo, não necessariamente tão associado ao
marxismo como hoje em dia, foi ganhando forma. Sempre dando mais e mais
poder ao Estado e sempre impondo a vontade de um grupo sobre o outro, em
nome de reparações de todos os tipos. A ideologia de gênero é assim uma
espécie de Everest do progressismo.
Logo
depois de ter escrito a matéria em português simples, tive a ideia de
reforçar o ridículo da tal linguagem não-binária “traduzindo” o texto.
Aquela era a época em que as referências ao gênero eram trocadas por “x”
e, em alguns casos, por “e” ou “u”. Ingenuamente, eu acreditava que
qualquer pessoa com um mínimo de bom senso veria aquela aberração
textual pelo que ela realmente era: uma aberração.
Eu
só não contava com o acirramento das questões ideológicas envolvendo os
gêneros. Ou não-gêneros. Ou generes. Já não sei mais – e quem sabe?
Afirmar-se transexual ou não-binário ou qualquer dessas designações
deixou de ser uma questão médica, isto é, de disforia de gênero, e
passou a ser um posicionamento político-religioso. Político porque o
transgênero, ao negar o gênero, se posiciona contra o que ele considera
essencialmente uma relação de opressão. Religioso porque o mesmo
transgênero se reafirma como um ser superior à Criação e capaz de
escolher se é homem, mulher ou nada disso.
A
pressão dos transgêneros, a mais ruidosa das minorais, uma vez que a
disforia de gênero afeta uma porção insignificante da população e o
restante não passa da explosiva combinação entre rebeldia e arrogância
tipicamente adolescentes, chegou agora aos departamentos de recursos
humanos das grandes empresas. E, não demora, deve contaminar outros
setores suscetíveis a esse tipo de moda perversa, como a publicidade.
Daí
a contaminar a língua como um todo é um pulo. E, sim, reconheço que
pareço exagerado e um tanto quanto amedrontado ao prever isso. Sei que
em Quixeramobim a “revolução trans” ainda levará um tempo para chegar.
Mas não quero cometer o mesmo erro que cometi há dois anos, quando
apostei no bom senso – e perdi. Há, de fato, um movimento (não sei se
orquestrado) que pretende acabar com a ideia do homem e mulher naturais –
com poucas consequências na prática, mas simbolicamente destruidoras.
E
tudo isso com a anuência, ou no mínimo displicência, de todos nós que
um dia sonhamos em lutar contra as manifestações de totalitarismo que
aprendemos nas aulas de história. Porque é disso que se trata a
ideologia de gênero: totalitarismo progressista disfarçado de
tolerância, diversidade e outras palavras vazias do tipo. Mas, ah, se eu
estivesse na Berlim de 1933, jamais teria compactuado com aquilo. Ah,
se eu fosse um chinês teria me rebelado e acabado sozinho com a
carnificina da Revolução Cultural maoísta. Ah, se eu fosse um soviético,
dava uma rasteira em Stalin se ele viesse em minha direção.
É sempre muito fácil se imaginar herói de tragédias que ocorreram em outro tempo que não o nosso.
A
linguagem é a maior tecnologia já criada pelo ser humano. Graças a ela,
somos capazes de expressar nossos pensamentos para além do nosso tempo e
de compreender ideias de épocas que há muito viraram ruínas. Querer
controlar a linguagem dessa forma acintosa nada mais é do que querer
confinar o pensamento alheio à estupidez pré-determinada por um grupo.
O
que consola e dá esperança é que tal empreendimento, apesar do escarcéu
com que se anuncia e do temor que causa, jamais deu certo. A liberdade
sempre terá seus rincões de resistência. Nem que seja em Quixeramobim,
com cordelistas munidos de rimas pobres que narram pelejas entre
homens-homens ou mulheres-mulheres. E todos inequivocamente
livres-livres.
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