Proposta para salvar florestas é uma bobagem, mas outros pontos do programa do candidato democrata devem ser avaliadas pelo valor de face. Vilma Gryzinski:
Campanha é campanha, governo é governo. Todo mundo sabe disso.
E
todo mundo também sabe que um presidente tem limitações, desenhadas
justamente para controlar o executivo via os poderes complementares.
Por
isso, muito do que Joe Biden propõe em seu programa dependerá, no mundo
real, de manter a maioria democrata na Câmara e conseguir transformar
os republicanos em minoria no Senado.
Em
vários setores, as promessas de campanha serão fiscalizadas pelas
próprias alas do Partido Democrata que se uniram como uma frente única
para eleger Biden, mas não pretendem continuar como coadjuvantes.
A influência dessas alas criou uma plataforma bem à esquerda do que Joe Biden foi em toda sua vida política.
A seguir, alguns dos pontos mais importantes do programa do candidato.
1-
Protecionismo. Quem acha que Donald Trump rompeu os acordos, tácitos ou
explícitos, do livre comércio não sabe o que Biden está prometendo.
Para começar, sobretaxa de 10% a bens e serviços produzidos no exterior, mesmo por multinacionais americanas.
Como
ele defende reverter as políticas fiscais de Donald Trump, os 10%
adicionais se somariam a taxas que dariam um total de 28%.
Os
aumentos de impostos para empresas cobrem todo o vasto espectro das
atividades econômicas, incluindo a taxa mínima de 15% sobre lucro
financeiro.
Na
era antes do coronavírus, a aceleração da economia e a redução do
desemprego foram propiciadas pelo leque de alívios fiscais promovidos
por Trump, concretizados em 2017 pelo pacote chamado de Tax Cuts and
Jobs Act.
Como
é tradicional, governos republicanos procuram incentivar o espírito
animal dos empreendedores, contando que os benefícios de uma economia
pujante se espalhem por toda a sociedade, e os democratas aumentam os
benefícios sociais para ter certeza que os menos favorecidos terão sua
fatia de bolo.
A
gastança prometida por Biden vai muito além dos programas sociais
conhecidos, incluindo um sistema universal de saúde bem mais ambicioso
do que o Obamacare, com custo estimado na casa das dezenas de trilhões
de dólares.
2-
Mais benefícios. A árvore que dá dinheiro terá que funcionar a plena
velocidade para gratuidade nos dois primeiros anos de faculdade, um
programa de incentivos empresariais para minorias no valor inicial de 30
bilhões de dólares, mais 300 milhões de dólares para “incentivar”
serviços sociais que assumam algumas tarefas policiais.
Salário
mínimo a 15 dólares por hora, possivelmente não nesse momento difícil
para a economia, e empréstimos estudantis aos “dreamers”, na maioria
jovens que entraram no país em situação irregular – seriam
regularizados, claro.
Outro
gasto potencial ao qual um governo Biden estaria aberto a discutir
seria um programa de indenizações a descendentes de escravos. Nem é
preciso dizer como um assunto desses seria explosivo.
3-
Justiça criminal. O nobre objetivo de esvaziar as prisões deixou de ser
conectado à queda da criminalidade, como Joe Biden defendeu durante
toda sua carreira política.
O
senador durão, que correspondia aos anseios do eleitorado com medidas
como sentenças mínimas obrigatórias, mudou totalmente de rumo.
Sob
influência das alas à esquerda do partido, seu programa defende abolir a
pena de morte por crimes federais, eliminar o sistema de fianças,
extinguir as penas obrigatórias, acabar com as penitenciárias
privatizadas e zerar a ficha dos condenados por crimes ligados à
maconha.
Pelo
lado positivo, ele não defende a extinção das forças policiais como
reivindicam os líderes dos violentos protestos raciais – por sinal, bem
mais controlados no momento, o que permite supor que se impôs a
prioridade da eleição de Biden – ou da derrota de Trump.
4-
Mundo verde. O programa de governo de Joe Biden incorpora algumas
propostas ambientais ensandecidas que a dupla Bernie Sanders e
Alexandria Ocasio-Cortez defendem, mas não chega a endossar o total
desmantelamento da economia.
Mesmo
assim, a meta seria alcançar o nível zero de emissões de gás carbônico
em 2050, um compromisso que a China, por exemplo, não assumiu.
Para começar, um programa de 1,7 trilhão de investimentos em tecnologias limpas.
De
imediato, os Estados Unidos voltariam aos Acordos de Paris e
interromperiam matrizes energéticas como o carvão e o fracking, o
fraturamento hidráulico para a extração de gás de xisto depositado em
rochas sedimentares.
Os
Estados Unidos atingiram a independência energética com o “liberou
geral” de Trump – e sofreram as perdas que todos os produtores penaram
quando a pandemia parou o mundo.
5-
E o Brasil? Joe Biden diz desde a época dos debates para as eleições
primárias que providenciaria os tais 20 bilhões. Em março, num debate
com Bernie Sanders, explicou mais a ideia, na habitual linguagem
enrolada: “Eu organizaria, no hemisfério e no mundo, para dedicar 20
bilhões à Amazônia para que o Brasil não queime mais a Amazônia para ter
fazendas”.
“Eles podem absorver mais carbono na Amazônia e na região que está pegando fogo agora do que nós emitimos em um ano, todo ano”.
Provavelmente estava falando em créditos de carbono.
Mas o que dizer diante da falta de proporção, de noção e de conhecimento dos temas envolvidos?
Mandem os 20 bilhões mesmo assim e a gente vê o que faz com eles?
É melhor não dar ideias.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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