Escrito pelo oceanógrafo, Dr. Oldemar Carvalho Junior, o livro "Projeto Lontra - Turismo de Conservação como Interface Social em Projeto de Pesquisa" aborda de maneira fragmentada diversos aspectos do projeto, que existe há 30 anos
Um marco para a existência do Projeto Lontra, o livro "Projeto Lontra – Turismo de Conservação como Interface Social em Projetos de Pesquisa" é de autoria do oceanógrafo, pesquisador e coordenador de projetos do Instituto Ekko Brasil (IEB), Dr. Oldemar Carvalho Junior. O livro é uma obra de amor à lontra, assim como um alerta ao ser humano. "A esperança é de que possamos ser melhores do que somos, no apreço à vida e ao planeta", diz o autor. O Projeto Lontra, cujo intuito é a preservação e recuperação da lontra netropical e da ariranha, é uma iniciativa do Instituto Ekko Brasil (IEB) e conta com patrocínio da Petrobrás.
Mais do que uma obra tradicional, com começo, meio e fim, trata-se de um espaço para reflexão, a partir de uma forma fragmentada, recheada de informações, dados, registros e fotos. Conforme Júnior, o livro coroa uma marcha de muito trabalho, de muitas dificuldades e acima de tudo de sustentabilidade e sucesso. “É um convite para aqueles que buscam informação de qualidade e acreditam nos benefícios que o terceiro setor pode proporcionar à sociedade”, declara.
Ao todo são 9 capítulos e a Introdução. Em suas mais de 150 páginas, além da história do projeto, o livro aborda a lontra em seus vários significados, que vão do romântico, ao matemático e o econômico. Também são apresentados ao leitor como uma provocação: a responsabilidade do pesquisador e a interface social (que se impõem à ciência e à pesquisa); a importância da biodiversidade na prestação de serviços ecológicos à sociedade e à economia; e o dever como pesquisador para com as políticas públicas.
A introdução do livro disserta sobre o conceito de "turismo de conservação" desenvolvido pelo IEB, colocado em prática pelo Programa Ecovoluntário, iniciado em 2002, e hoje um caso de sucesso internacional. Nesta parte é mostrado como o turismo de conservação possibilita uma abordagem em três dimensões da área de estudo: a ambiental, que incorpora os recursos naturais; a econômica, que afeta o setor de serviços e comércios; e a social, representada pela participação comunitária.
Os dois primeiros capítulos visam expor ao leitor um escopo geral do Projeto Lontra e o objeto de estudo, a lontra netropical (Lontra longicaudius), sob diferentes prismas. Conforme Junior, o projeto sempre se preocupou em produzir dados, trabalhar com análise e previsão, na área de modelagem energética de ecossistemas, e na conservação da biodiversidade, em especial a lontra, como espécie bandeira na preservação da água, na educação, e na mobilização social. Mais especificamente sobre a lontra neotropical, o leitor fica sabendo a respeito de sua dieta, habitat e como o animal pode ser afetado pelas mudanças climáticas.
Os terceiro e quarto capítulos do livro ocupam-se de um tema caro aos idealizadores do Projeto Lontra: a interface social em projetos de pesquisa. Junior enfatiza que a questão social, quando incluída em um projeto de pesquisa, permite aos pesquisadores se colocarem como atores de um processo, e não apenas como observadores distantes e isolados. "A interface social em projetos de pesquisa representa e exige uma abordagem mais crítica da nossa realidade", diz o autor, ressaltando que o IEB, através do Projeto Lontra, representa uma das poucas iniciativas que têm obtido bons resultados nesta seara. "Através de notas técnicas, publicações de livros infantis, acadêmicos e populares; por meio da educação, pesquisa e extensão, o Projeto Lontra mostra a sua interface social, principal relação com a sociedade", diz.
Os capítulos subsequentes esmiuçam as ações que atravessam e sustentam as pesquisas realizadas pelo Projeto Lontra, tais como a pesquisa ação, o turismo de conservação, e a mobilização social, feita através de atividades educativas e de comunicação.
No capítulo 5, aborda-se especificamente a pesquisa ação, turismo de conservação e biodiversidade. Neste ponto, destaca-se as dificuldades que podem ser enfrentadas quando se almeja implementar projetos voltados à sustentabilidade em áreas protegidas, entre as quais: falta de flexibilidade da legislação brasileira em desenvolver atividades dentro desses ambientes e custos relativos à condução de atividades.
O capítulo 6 trata da importância de um planejamento de comunicação em um projeto de pesquisa de interação social que deseje dialogar de maneira eficaz com o público externo e demais participantes da iniciativa. "É preciso ter em mente que a comunicação do projeto está diretamente ligada aos objetivos específicos deste, e fortemente relacionada às ações de mobilização social", destaca o autor.
Há ainda neste capítulo há uma parte dedicada à educação ambiental, que, conforme o pesquisador, é inerente ao processo de mobilização social, visando a uma participação e entendimento mais efetivo das comunidades sobre o projeto. De acordo com Junior, para ser bem-sucedida a estratégia educacional deve preferencialmente ser focada na criança, mulheres e comunidades tradicionais.
Dando continuidade ao aspecto de interação social dos projetos de pesquisa, o capítulo sete discorre sobre o tema "Interação com políticas públicas, participação democrática e transparência". Nele, o autor enfatiza como o Projeto Lontra está comprometido com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada pelos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) durante Assembleia Geral realizada em 2015.
Na ocasião, foram definidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ações do projeto estão alinhadas principalmente aos ODS 6, que trata da água limpa e saneamento; ODS 14, que aborda a vida na água; ODS 4, que diz respeito à educação de qualidade; ODS 8, sobre emprego digno e crescimento econômico; ODS 15, sobre a vida na terra; e ODS 17, relativo a parcerias em prol das metas.
No penúltimo capítulo, "Gerenciamento de projeto e terceiro setor", Junior traça um breve panorama das organizações governamentais (ONGs) no país e no mundo e destaca como as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), tal qual o IEB, surgiram como uma alternativa de qualidade às ONGs tradicionais. O capítulo traz ainda um passo a passo de como gerenciar um projeto, através de 9 planos: integração, escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos, comunicações, riscos e aquisições.
O capítulo derradeiro do livro, intitulado "Como montar um projeto de pesquisa com interface social", dedica espaço relevante para tratar do Programa Ecovoluntário do Projeto Lontra, explicando, entre outras coisas, qual o papel do ecovoluntário no projeto de pesquisa. "Os ecovoluntários participam de todas as atividades do projeto, relacionadas com a pesquisa, com o manejo e com a alimentação de animais em cativeiro, além de ações de educação ambiental e atendimento a visitantes", conclui Junior.
Sobre o autor
Oldemar Carvalho Junior é graduado em Oceanografia pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (1986), mestre em Tropical Coastal Management pela University of Newcastle Upon Tyne, Inglaterra (1993) e doutorado em Oceanografia Física pela Flinders University, Australia (2000). Atualmente é consultor e coordenador de Projetos e Pesquisa no Instituto Ekko Brasil (IEB).
Sobre o Projeto Lontra
Idealizado pelo IEB há 30 anos, o Projeto Lontra tem como tripé de sustentação: conservação ambiental, pesquisa e sustentabilidade. Além da lontra neotropical (Lontra longicaudius), a iniciativa busca a recuperação e a conservação da ariranha (Pteronura brasiliensis). Desde 2010, o projeto conta com patrocínio da Petrobrás, realizado por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Com base principal em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, onde realiza estudos no bioma Mata Atlântica, o projeto ampliou seu escopo de atuação, em 2013, instituindo uma base na cidade de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, para implementar pesquisas no bioma Pantanal. Em sua fase mais recente, o projeto vem atuando na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF), localizada no centro sul do litoral de Santa Catarina.
Sobre o Instituto Ekko Brasil (IEB)
Criado em 2004, em Santa Catarina, o Instituto Ekko Brasil (IEB) é uma organização não governamental cujo objetivo é coordenar e apoiar projetos que tenham como foco a conservação da biodiversidade e o turismo de conservação. O IEB atua através da pesquisa, educação, extensão e da mobilização social, como forma de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades, deixando um legado positivo às gerações futuras
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