
Brigado com o pai e o cunhado, Marcelo muda versão
O Globo
O empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht, afirmou nesta sexta-feira que não se pode responsabilizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por supostas irregularidades em financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras da empreiteira em Angola. Segundo o executivo, antes de qualquer julgamento, seria necessário colocar em pratos limpos contradições entre relatos do pai dele, Emílio Odebrecht , o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o próprio Lula.
— Meu pai disse que esqueceu uma porção de coisas. É extremamente injusto fazer condenação de Lula sem fazer esclarecimento das contradições. Meu pai falou uma coisa comigo e falou outra coisa com Lula — disse Marcelo, em depoimento por teleconferência ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal.
O PROCESSO – O executivo presta depoimento num processo em que Lula, Palocci e o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo são investigados por suposto favorecimento à Odebrecht em financiamento de obras da empreiteira em Angola.
O Ministério Público Federal suspeita que a Odebrecht pagou US$ 36 milhões de propina para campanhas eleitorais do PT em 2010. A primeira hipótese dos investigadores é de que as doações seriam uma retribuição ao aumento de uma linha de crédito do BNDES de US$ 500 milhões para US$ 1 bilhão.
Marcelo Odebrecht reafirmou que houve o pagamento dos US$ 36 milhões, mas fez reparos à versão do Ministério Público. Segundo ele, o pedido da doação teria ocorrido quando se negociava uma linha de crédito de US$ 500 milhões, a chamada linha 3, de crédito do BNDES para as obras em Angola. O pedido teria sido feito por Paulo Bernardo e, depois, fechado com Palocci. Houve um pedido inicial de US$ 30 milhões. Depois a cifra subiu para US$ 50 milhões e, ao final, ficou em torno de US$ 36 milhões.
“ITALIANO” -O empresário disse que, embora o pedido tivesse ocorrido durante as negociações, não foi firmado o entendimento de que os pagamentos seriam uma contrapartida aos empréstimos do banco estatal. Segundo ele, com ou sem o apoio de Paulo Bernardo e de Palocci, o financiamento seria liberado, como vinha ocorrendo desde a década de 1990.
Marcelo Odebrecht disse que o pagamento dos US$ 36 milhões foi abatido na chamada “planilha italiano”, registro de pagamentos que teriam sido direcionados ao PT por intermédio de Palocci.
As declarações de Marcelo Odebrecht representam um recuo em relação ao relato que fez depois de firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Em um dos depoimentos da delação, o empresário disse que Paulo Bernardo pediu a doação por indicação do ex-presidente Lula. Agora, Marcelo Odebrecht diz que a questão deveria ser esclarecida por Emílio Odebrecht e Paulo. O empresário disse que o interlocutor da empresa com Lula era o pai, Emílio, e não ele.
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