O secretário-geral da Presidência critica os atos pela saída de Dilma Rousseff, considerados por ele antidemocráticos
por André Barrocal
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publicado CARTA CAPITAL
Wilson Dias / Agência Brasil
Dilma Rousseff será espremida nos próximos dias
por duas manifestações de rua. Na sexta-feira 13, partidários da
presidenta na eleição farão atos em diversas capitais, sob a liderança
da Central Única dos Trabalhadores (CUT), para criticar o ajuste fiscal
do governo e defender a Petrobras
e a reforma política. No domingo 15, simpatizantes da oposição
convocados pelas redes sociais da internet irão marchar pelo País a
pedir o impeachment da petista, por causa da corrupção na Petrobras.
Principal canal de diálogo do Palácio do Planalto com
os movimentos sociais e “as ruas”, o secretário-geral da Presidência,
Miguel Rossetto, considera as duas manifestações um direito de seus
idealizadores. Mas vê uma diferença básica entre elas. Uma reivindicará
mais democracia. A outra, menos.
Para o ministro, é um equívoco achar, como é o caso do grupo do dia 13, que o governo adotou uma política econômica oposta à prometida na eleição – “estamos fazendo ajustes dentro da mesma rota”.
E um equívoco ainda maior querer destituir a presidenta – não existe
crise”, e a Operação Lava Jato avança “sem que se questione a capacidade
de o Judiciário fazer justiça”.
A seguir, a entrevista concedida pelo ministro a CartaCapital:
CartaCapital: No dia 15 haverá manifestações pelo impeachment da presidenta. Qual a sua opinião?
Miguel Rossetto: Estão sendo chamadas
estas manifestações como estão sendo chamadas outras, para o dia 13. O
tema central é a qualidade destas convocatórias, não se trata de debater
o direito de manifestação. Temos manifestações que vão às ruas em
defesa da democracia, da Petrobras, dos direitos trabalhistas, que
querem mais democracia e que têm como centro o combate à corrupção e uma
imediata reforma política, com o fim do financiamento empresarial de
campanha. E temos outras manifestações que têm uma natureza claramente
antidemocrática. São setores reacionários e golpistas que vivem ainda em
[19]54 e [19]64. Nós devemos combater politicamente estas
ideias e reafirmar que queremos mais democracia. Causa estranheza isso
acontecer no momento em que a agenda da Lava Jato está sob guarda,
atenção e julgamento presidido pela Suprema Corte, com o Ministério
Público operando. Não há nenhum questionamento sobre a isenção, a
qualidade e a capacidade de o Judiciário fazer Justiça. É assim que
funciona a República. Daí a minha surpresa: falar em impeachment agora?
CC: A oposição começa a investir numa argumentação sobre impeachment que não é mais só uma argumentação jurídica. Diz que em casos de crise política, a destituição de um presidente seria válida.
MR:: Não existe crise
política. Existe uma derrota eleitoral dos neoliberais e conservadores,
a crise é deles, porque perderam. O País não tem crise política, o que
existe é uma afirmação democrática, com direito de manifestações
sociais, debate parlamentar, instituições funcionando.
CC: A oposição pode até estar amplificando a avaliação, mas é evidente que existem dificuldades políticas, não?
MR: Temos
instabilidade, temos dificuldades, mas nada autoriza caracterizar isso
como crise. Crise é o não-funcionamento das instituições, o
não-exercício da democracia. Crise é não haver conflito, não haver
espaços para manifestações. Conflito é expressão da democracia.
CC: O sr. e sua equipe têm alguma ideia da dimensão que terão os atos previstos para o dia 15?
MR: Embora haja uma
intoxicação nas mídias sociais, haja uma grande convocação, as
avaliações que escuto são muito diferenciadas. Vão desde “fracasso” até a
expectativa de atos mais expressivos em alguns estados, como em São
Paulo.
CC: E as manifestações do dia
13? Elas partem do campo governista, mas serão críticas à política
econômica. São bem vindas ou vão criar mais dificuldades?
MR: Não é uma
manifestação governista, é uma manifestação que expressa com muito vigor
a autonomia destas entidades. São entidades com quem temos grande
identidade estratégica e um projeto comum de País, mas com quem também
temos pontos de conflito.
CC: Elas serão capazes de influenciar o rumo econômico do governo?
MR: O governo escuta estas entidades, sim.
CC: Mas e concretamente? Por
exemplo, as medidas provisórias que restringem direitos trabalhistas
como seguro-desemprego e abono salarial, elas podem mudar?
MR: Estamos num
processo de negociação que é para valer. As MPs podem ser qualificadas,
sim. E mais do que isto: a partir destas negociações, podemos incorporar
outras propostas, em outras iniciativas, sobre mercado de trabalho de
maneira geral, rotatividade, informalidade. Mas o governo mantém sua
posição. Estamos diante de desafios fiscais importantes e temos de
resolvê-los. Não interessa essa condição fiscal, se temos como objetivo o
crescimento econômico e a geração de empego. Estamos buscando
rapidamente essa equação, com medidas equilibradas, de baixo impacto
fiscal.
CC: Os manifestantes do dia
13 se queixam de que o governo faz ajuste para um lado só. A MP que
aumentava a tributação de empresas foi devolvida pelo presidente do
Congresso por uma série de razões, mas também por uma questão de
correlação de forças que influencia as decisões do governo.
MR: A devolução
foi um ato soberano do Congresso e vimos com surpresa. O governo mandou
imediatamente um projeto de lei com urgência e segue buscando um ajuste
equilibrado, com [sacrifício para] todos os andares da sociedade.
CC: Uma outra queixa, e
esta é mais ampla do que os setores que vão às ruas no dia 13, é de que
não está bem formulada por parte do governo, e portanto não está bem
recebida na cabeça das pessoas, qual é a essência do ajuste em curso. O
sentimento geral é de que há uma traição ao discurso de campanha.
MR: É incorreto, temos de trabalhar e
disputar essa opinião. A presidenta Dilma sempre falou com muita clareza
que buscamos controle da inflação, gastos públicos ajustados e
equilíbrio fiscal como condições importantes para a robustez da
economia. E nós melhoramos muito, temos fundamentos sólidos, não temos
crise fiscal, crise de desemprego como Espanha e Grécia, não temos
descontrole inflacionário. Nada autoriza dizer que há alteração
estratégica nos rumos da política econômica, da política de
desenvolvimento, das políticas sociais. Há uma adequação conjuntural, de
tamanho adequado, a exemplo do que fizemos em 12 anos. Sempre
preservamos uma rota estratégica orientada por emprego e renda. São
ajustes dentro da rota. Dizer o contrário são leituras de uma oposição
que permanentemente busca produzir instabilidade no governo.
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