Oficina-Escola completa 22 anos recuperando prédios históricos na PB

Primeira obra realizada pelos alunos foi a restauração do Hotel Globo.
Centenas de alunos já passaram pela escola.

Juliana Brito Do G1 PB

Oficina Escola ocupa um dos casarões históricos do
Centro de João Pessoa (Foto: Juliana Brito/G1)

Instituída em 1º  de agosto de 1991, por meio de um convênio entre os governos estadual e federal e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional, a Oficina-Escola de Revitalização do Patrimônio Cultural de João Pessoa capacita jovens em situação de vulnerabilidade social para ofícios da área de Construção Civil, com foco na restauração e preservação do patrimônio natural e construído.

Ao longo de 22 anos, o trabalho realizado por meio da Oficina-Escola resultou na restauração de dezenas de edificações que compõem o núcleo histórico da cidade. “A primeira obra de intervenção, realizada pelos alunos da turma pioneira da Oficina-Escola, foi a restauração do Hotel Globo, concluída em 1994”, declarou a diretora geral da Oficina-Escola, Willdes Santos.

O Hotel Globo está localizado no Núcleo Cidade Baixa/Porto do Capim e foi construído na década de 1920. A edificação foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) em 1980, quando estava em gradativo processo de descaracterização e subutilização, de acordo com informações da diretora da Oficina-Escola.

Para a execução dos trabalhos, os alunos da Oficina-Escola recebem aulas de disciplinas como: Alfabetização, Geografia, História, Gestão Empresarial, Representação Gráfica e Técnicas Construtivas. Paralelamente, são ministradas oficinas de alvenaria, carpintaria, jardinagem, marcenaria, pintura e serralharia.
A diretora geral da entidade destaca que uma das exigências da Oficina-Escola, além da idade mínima de 18 anos, é que os alunos estejam matriculados na escola ou tenham concluído o ensino médio.

“A proposta da Oficina-Escola surgiu na Espanha, com o objetivo de sanar três problemas: resgatar o patrimônio, atender jovens em situação de risco e resgatar profissões que estavam em declínio”, declarou a Willdes Santos. Ela destaca que 70% das aulas são práticas e o restante é dedicado à teoria. “O restauro é o foco. Mas, procuramos dar uma formação integral, fazendo o máximo possível para que o jovem saia como empreendedor”, ressaltou a diretora.

Willdes Santos, é a diretora da Oficina-escola (Foto: Juliana Brito/G1)

Segundo Willdes Santos, atualmente, 60 jovens estão sendo capacitados na Oficina-Escola. “Eles recebem uma bolsa de R$ 500 mensais, além de auxílio financeiro para transporte e de duas refeições diárias (café da manhã e almoço)”, afirmou. As atividades são realizadas de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. Metade dos estudantes é mantida com recursos da Prefeitura de João Pessoa e a outra parte é financiada pelo governo do Estado, de acordo com a diretora geral da Oficina-Escola.

Desde 2012, a Oficina-Escola de João Pessoa atua em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com a oferta de cursos complementares, como o de eletricista, que está sendo ministrado atualmente na entidade. Entre os alunos do curso, está Josivaldo Macedo, de 18 anos, que reside no bairro Alto do Mateus. Ele conta que despertou interesse pelos cursos a partir da experiência do irmão, ex-aluno da entidade, que atualmente trabalha em uma construtora.

Centenas de alunos já passaram pela escola
(Foto: Juliana Brito/G1)

“Eu estou vivendo uma experiência muito boa aqui. A minha vida agora mudou. Ocupa a mente e aprendo mais coisas novas. Quando terminar o curso, quero montar minha marcenaria”, declara o estudante, que, em menos de dois meses de aulas, já realiza projetos de marcenaria em casa.

Já a aluna Magda Suênia, de 20 anos, moradora do bairro do Roger, é aluna dos cursos de serralharia e de eletricista. Ela conta que seguiu os passos da mãe, que fez o curso de jardinagem em uma das primeiras turmas da Oficina-Escola. “É muito divertido estudar aqui. São muitas cabeças. Cada um tem um pensar diferente, a convivência é diferente, é muito legal aprender, fazer dobradiças de portas, portão. Todo o dia chego em casa com uma coisa nova para contar a minha mãe”, disse.

Realizações
A lista de restaurações realizadas pelos alunos da Oficina-Escola de João Pessoa inclui ainda, segundo a diretora Willdes Santos, o ‘Casarão de Azulejos’ (antigo sobrado do comendador Santos Coelho), construído no século XIX, em azulejaria portuguesa e tombado pelo Iphaep em 1980. Outra restauração, concluída em 1995, foi a da Igreja de São Bento, construída no século XVII e tombada pelo governo federal.

A ‘Bica de Tambiá’, localizada no Parque Arruda Câmara (Bica), no bairro de Tambiá, também passou, em 1994, por um processo de limpeza e remoção da pintura que encobria a superfície de pedra que a constitui. Também fazem parte das obras executadas pela Oficina-Escola, de acordo com Willdes Santos, os serviços de restauração realizados na Igreja do Carmo, no Centro, em 1992.

A edificação é  do século XVII, e inclui a Praça Dom Adauto, que também foi revitalizada pelos alunos no mesmo período. A restauração do ‘Coreto da Praça Venâncio Neiva’ foi concluída em 1995. Os serviços de jardinagem do Parque Arruda Câmara (Bica) são realizados pelos alunos da Oficina-Escola. O trabalho inclui a manutenção e a produção de mudas, que são utilizadas em outras obras. Willdes Santos citou ainda as intervenções realizadas pelos alunos, em 1997, na fachada dos prédios nº 6 e nº 12 da Praça Antenor Navarro, edificada em 1933, no Varadouro.

Ofina conserva no prédio ocupado por eles elementos históricos da antiga fábrica de vinhos
(Foto: Juliana Brito/G1)

Atual sede da Oficina-Escola
a Antiga Fábrica de Vinhos Tito Silva & Cia. – começou a ser revitalizada pelos alunos em formação na entidade, a partir de 1997. A edificação é o prédio nº 33, da Rua da Areia, no Varadouro.

Segundo Willdes Santos, todas as obras de restauração citadas foram realizadas com apoio financeiro da Agência Espanhola de Cooperação Internacional, sempre em parceria com uma ou mais esferas do governo brasileiro (municipal, estadual ou federal). A diretora disse que o governo da Espanha colaborou com a manutenção da Oficina-Escola até o final de 2012.