Deficientes visuais também querem aprender dicas de etiqueta.
Oficina de maquiagem encerrou neste sábado (10), no Senac-AP.
Bernadete Isacksson, 40 anos, é professora de educação especial (Foto: Maiara Pires/G1)
Bernadete Isacksson, 40 anos, é professora de educação especial. Ela
aprendeu neste sábado (10) a se maquiar sozinha, o que não fazia há 28
anos por conta da deficiência visual adquirida. Ela participou de um
projeto piloto do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-AP)
em parceria com a Associação de Cegos e Amblíopes do Amapá (Acaap)."O que eu sabia era só passar batom e o pó compacto", conta a educadora. "Agora já sei passar blush, sombra e lápis de olho, sendo que o lápis ainda é o mais difícil", relata, sobre a experiência que para ela "foi muito boa".
Para escolher as cores, os estojos estavam identificados em linguagem braile. Bernadete diz que teve dificuldades em passar o lápis de olho por conta da coordenação motora "que ainda está muito devagar". "Eu gosto de cores claras", disse a professora.
"E também senti como tivesse uma 'areiazinha' dentro dos olhos", lembra. "Mas acho que isso acontece com outras mulheres. Mesmo assim, tudo é uma questão de prática, treinamento. Com certeza daqui a pouco estarei profissional", brinca.
Mulheres cegas e amblíopes durante oficina no Senac-AP (Foto: Maiara Pires/G1)
A professora de educação especial é amblíope, ou seja, não é totalmente
cega, mas possui baixa visão. Ela conta que aos 12 anos de idade
começou a fazer consultas oftalmológicas em Macapá (AP). E aos 20 anos
foi diagnosticada em Belém (PA) com retinose pigmentar, doença
hereditária que causa degeneração da retina, responsável pela formação
das imagens visuais. "Tenho um irmão que nasceu cego. Somos os únicos
casos na família", acrescenta.Depois que adquiriu a doença, Bernadete Isacksson conta que passou 10 anos sem estudar. "Tive que parar porque não enxergava mais nada no quadro", diz, sobre o curso de Magistério que fazia. "Mas retornei depois de dois anos e não parei mais. Hoje, estou me formando em Pedagogia", conta, acrescentando que teve de se adaptar numa turma de ouvintes utilizando recursos para ampliação das letras para pode enxergar melhor, além da linguagem em braile.
A iniciativa do projeto piloto é da Associação de Cegos e Amblíopes do Amapá, a partir da vontade das mulheres associadas de aprender a se maquiar sozinha, segundo o presidente da entidade, João Pereira. "Apresentamos essa demanda ao Senac que colocou seus instrutores à disposição para ministrar esta oficina de maquiagem a elas", informou Pereira.
Foram dois sábados de oficina. As mulheres cegas e amblíopes do Amapá também já manifestaram interesse em aprender como se comportar à mesa e como se vestir bem. "Já estamos conversando com a instituição para saber da viabilidade de mais destas oficinas", disse o presidente da associação.
A coordenadora técnico-pedagógica do Senac-AP, Obde Gadelha, disse que o trabalho valeu como experiência para a própria instituição saber como aprimorar o atendimento às pessoas com deficiência. "Já ministramos cursos para pessoas com deficiência auditiva trabalhando a inclusão social delas. Para os deficientes visuais foi uma novidade que experimentamos até mesmo para aprimorar esse atendimento", ressaltou.
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