Despreparo para uma guerra regional alarmou militares
Marcelo de Moraes, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Após reprimir todos os movimentos internos de
rebelião contra o governo, os militares brasileiros do Estado-Maior das
Forças Armadas (EMFA) voltaram suas atenções para o estudo de hipóteses
de guerra e de como deveria ser a preparação do País para isso. Segundo
documentos do EMFA que relatam os debates da reunião do órgão em 17 de
abril de 1978, os militares enxergavam a Argentina como o inimigo mais
provável, com uma possível aliança com outros países do sul do
continente, como Uruguai e Paraguai, na chamada hipótese de Guerra
Delta.
"Porque todos nós conhecemos, dentro de nossas forças, o próprio despreparo. Mas estamos agora aqui no EMFA examinando os planos de aprestamento e verificando que o conjunto está extremamente fraco, mesmo para o inimigo relativamente fraco como o que nós estamos imaginando", acrescentou o almirante Ibsen, que viria a se celebrizar pelo trabalho na defesa do meio ambiente, especialmente na preservação das baleias.
Para se preparar para uma eventual guerra, as forças foram instadas a organizar "planos de aprestamento", que consistiriam nas medidas a serem adotadas na área de preparação e logística, por exemplo, para uma ação que precisasse ser imediata. A confusão entre os militares já começou aí, uma vez que cada força interpretou a ordem do jeito que considerou mais adequado e os planos se tornaram insatisfatórios para atender ao pedido do governo.
Além disso, as dificuldades logísticas e a falta de efetivos e de equipamentos foram expostas claramente pelos participantes da reunião. "Para esse plano de emergência, esse aprestamento inicial, fizemos uma repartição dos meios existentes no momento. Deslocamos para o Teatro de Operações Sul aquilo que podemos deslocar, já sabendo de antemão que essas forças deslocadas ou previstas para o TO Sul não respondem ao grau de ameaça do provável inimigo. Elas são insuficientes", afirmou no encontro o brigadeiro Waldir de Vasconcelos, mais tarde ministro-chefe da EMFA, falando sobre a participação da Força Aérea num suposto conflito contra a Argentina. "Em matéria de Força Aérea, é muitas vezes superior a nós", reconheceu o brigadeiro.
Diante das dificuldades, na reunião seguinte, em 15 de agosto, o general Tácito acaba defendendo a necessidade de criação de um Plano Nacional de Segurança "que vise a proporcionar o reaparelhamento das Forças Armadas". Para propor o plano, o ministro do EMFA enviou um relatório ao presidente Ernesto Geisel. O general disse no encontro que o documento "procuraria retratar de maneira objetiva a situação extremamente precária na qual se encontram as Forças Armadas em termos de efetivo poder militar".
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