Segundo
profissionais da área, falta de trialistas e investigadores clínicos
brasileiros enfraquece a política de ciência e tecnologia nacional;
O
que impacta a credibilidade científica do país? Quais são os gargalos?
Qual país tem interesse em trazer estudos para cá? Qual a reputação do
Brasil em pesquisa?
Estes temas foram debatidos na última sexta-feira, em São Paulo, por especialistas do setor em encontro inédito;
São Paulo, 21 de março de 2025 - A
pesquisa clínica é um dos temas mais relevantes da atualidade, não
apenas pelo impacto no avanço da medicina, com o objetivo de curar mais
pacientes e oferecer tratamentos cada vez mais eficazes, mas também pelo
papel fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias. Os Estados
Unidos são um dos líderes de pesquisa científica global. No Brasil, o
mercado tem potencial, mas lá fora, a posição ranking mundial é baixa
(20º). Para os especialistas que estiveram presentes no I Encontro Anual de Pesquisa Clínica,
realizado semana passada em São Paulo, para o país se tornar
protagonista neste setor é preciso investir na formação de pesquisadores
e trialistas – que, hoje, estão fora do país -, acabar com os
gargalos que envolvem complexidades contratual e logística, melhorar o
arcabouço tecnológico, e inovar para diminuir o déficit no número de
tratamentos no Brasil ante lá fora.
O que falta
Para o Superintendente de Ensino, Pesquisa e Inovação no A.C. Camargo Cancer Center, Dr. José Humberto Fregnani, não existe uma formação oficial de trialista e investigador/pesquisador clínico no país, e o pesquisador investigativo nem sempre tem formação acadêmica. “Os trialistas
são aqueles que desenham o estudo/ ensaio clínico. Precisamos ter mais
deles. Este é o grande desafio que temos, pois há grandes cursos que
trazem fundamentos, mas não para formar estes profissionais. E isto
impacta diretamente na credibilidade científica, enfraquece a política
de ciência e tecnologia, além de impactar no SUS também”, diz Fregnani.
Para
o Gerente Executivo da Associação Brasileira de Organizações
Representativas de Pesquisa Clínica (Abracro), Fernando Francisco, os
principais gargalos no Brasil são: contratos, melhora
logística, capacitação profissional em pesquisa clínica e laboratório
central. Isto porque amostras têm que ser enviadas para o exterior.
Desafios
Dados
epidemiológicos reais que suportem a necessidade brasileira, a
implementação da lei, a questão aduaneira com relação aos prazos (tempo
para o desembaraço dos insumos é bastante demorado), dos tributos de
produtos de pesquisa clínica (outros países têm isenção e isto diminui a
competitividade do país) e expansão dos centros de pesquisa do Eixo
Sul/Sudeste são alguns dos desafios em pesquisa clínica discutidos
durante a primeira edição do EAPC, realizado pela Orentt Medical. “Além
de expandir os eixos, é importante também descentralizar os centros de
pesquisa para públicos não-representados”, reflete o oncologista Dr.
Fernando Maluf, embaixador do congresso.
Estudos fase 3 são os mais prevalentes no país
Os
estudos 1 e 2 estão mais distribuídos nos Estados Unidos, segundos
dados apresentados no encontro. No Brasil, o que prevalece são os
estudos fase 3, ou seja, já na fase de implementação. Existe uma vontade
de toda a comunidade em obter maior participação do Brasil em estudos
fase 1 e 2. Isto significa que há pouca inovação chegando e saindo
daqui.
Áreas promissoras
Para
o Dr. Fregnani, as áreas de PC que se destacam no país são oncologia,
sistema nervoso central e doenças infecciosas, e as áreas que têm mais
potencial para se destacar são cardiologia e hematologia. Há iniciativas
federais para a Pesquisa Clínica no Brasil. “Está na agenda do governo.
Desde 2005, há uma rede nacional de pesquisa clínica e uma portaria
excelente (559)”, comenta. Esta portaria define os requisitos para a
aprovação e monitoramento dos estudos, assegurando que os procedimentos
respeitem os direitos dos indivíduos e a integridade dos dados
coletados, em alinhamento às normativas internacionais de pesquisa
científica.
Segundo
o Dr. José Barreto, da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, a
rede de prevenção e controle de câncer é prioridade e as pesquisas para a
cura da doença dentro desta rede terão mais impacto. “Os objetivos do
Governo são aumentar o acesso e diminuir o tratamento. A Oncologia
integra o SUS e o SUS integra a oncologia”, comenta Barreto, que
ressaltou que o slogan “Tempo é Vida” é a lógica dentro do SUS.
Lei 14.874/24
Criada
pelo Líder Nacional de Pesquisa Clínica da Oncoclínicas, Dr. Fábio
Franke com o suporte de diretores do SBOC, a lei regulamenta a pesquisa
clínica com seres humanos no Brasil. Após mais de sete anos de
tramitação no Congresso Nacional, a nova lei foi publicada no ano
passado.
Interesse chinês
Para
o diretor da Abracro, Fernando Francisco, os chineses sabem do
potencial brasileiro na área de pesquisa clínica pela sua diversidade
étnica, infraestrutura e tradição, por conta disso tem muito interesse
no país. “A China tem vontade de levar seus estudos para o Brasil. O
papel deste país está cada vez maior, pois é mais rápido e mais barato
que nos Estados Unidos e na Europa. Eles deverão ganhar espaço nesse
processo político e com os cortes recentes feitos pelo presidente
norte-americano”, diz o executivo que falou remotamente do território
chinês durante sua palestra.
Reputação do Brasil em pesquisa
Para a líder Médica de Oncologia na AbbVie Brasil, Maria Isabel Duran, a indústria precisa ser proativa com relação aos headquarters
no país. “Não somos lentos para implementar os estudos. É preciso
comunicar isto para melhorar nossa imagem”, comenta a Diretora Sênior de
Pesquisas Clínicas da AstraZeneca, Patricia Gutierrez.
Dados de mercado
Segundo
informações do Instituto Brasil de Pesquisa Clínica (IBPClin), este
mercado no Brasil vem crescendo nos últimos anos, mas ainda está em
desvantagem em relação ao resto do mundo. Segundo dados recentes do
Instituto, 65% das pesquisas sobre novos medicamentos, vacinas e
equipamentos médicos são realizadas na Europa e nos Estados Unidos. Já a
América Latina responde por apenas 4% dessas pesquisas, especialmente
no desenvolvimento de novos medicamentos.
Segunda edição
O
Congresso reuniu membros da indústria farmacêutica, governo, grupos
cooperativos, investigadores, organizações de pesquisas acadêmicas,
entre outros, com o intuito de caracterizar a situação atual na área de
pesquisa clínica. A segunda edição já está marcada e será no dia 13 de
março de 2026.
Os porta-vozes estão disponíveis para entrevistas. Para agendamentos, enviar solicitações para o WhatsApp 11 93021-6482.
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