Ao contrário dos medíocres líderes ocidentais, Putin tem objetivos definidos e determinação implacável. Mas também tem suas fraquezas e é possível explorá-las. Editorial do Estadão:
Não
há dúvida de que a invasão da Ucrânia pela Rússia foi amplamente
planejada, mas certamente só aconteceu agora porque o momento não
poderia ser mais favorável ao presidente russo, Vladimir Putin, por lhe
oferecer uma conjunção de fraqueza, mediocridade e desarticulação no
Ocidente.
Considere-se
o G7. A Alemanha tem um governo de transição liderado por um chanceler
que está aprendendo o ofício à sombra de uma estadista incomparável como
Angela Merkel; o primeiro-ministro japonês é igualmente um neófito,
reputado como bom administrador, mas de personalidade apagada; o líder
italiano é também um tecnocrata competente, mas a política do país segue
se consumindo em idiossincrasias partidárias; o primeiro-ministro
canadense parece só ter olhos para sua agenda de costumes progressista; o
presidente francês está embrenhado em sua disputa eleitoral; e o premiê
britânico está enfraquecido pelos escândalos envolvendo festas privadas
durante a pandemia.
Nos
EUA, Joe Biden foi eleito como um representante experiente do
establishment para uma missão de conciliação: construir pontes com os
republicanos não intoxicados pelo populismo de Donald Trump e refrear os
excessos dos radicais democratas. Mas não fez nem uma coisa nem outra.
Seu principal desafio militar, a retirada do Afeganistão, foi um
fracasso retumbante que debilitou a confiança de seus aliados e da
população. Hoje sua popularidade está na lona.
Em
contraste, como disse o historiador Paul Johnson, “Putin é o mais
formidável potentado russo desde Stalin”, pois “tem um programa claro –
reconstruir o império soviético – e é totalmente implacável em sua
busca”. Treinado na KGB, comentou Johnson, “Putin é um mentiroso,
falsificador e intimidador profissional, cujos instintos são uma mescla
brilhante de desaforo e enganação”. Putin também tem a vassalagem da
antiga hierarquia soviética e o apoio de uma parte importante da opinião
pública. “Ele pode, portanto, posar como um populista e agir como um
tirano.”
A
política de confronto com o Ocidente, que agora atinge o seu pico,
começou em 2007, quando Putin fez um discurso combativo na Conferência
de Segurança de Munique. No ano seguinte, foi à guerra na Geórgia; em
2014, atacou a Ucrânia e anexou a Crimeia.
Tudo
isso foi recebido no Ocidente com protestos protocolares, sanções
inócuas e indiferença, o que certamente encorajou Putin a embalar seus
sonhos de restabelecimento do império russo – sua permanência como
“czar” já está garantida.
Putin
tem a seu favor todo o estoque de arsenais legados pela URSS e imensos
recursos energéticos. As antigas colônias soviéticas estão repletas de
antigas lideranças desapropriadas e minorias étnicas relegadas à
condição de cidadãos de segunda classe, aptas a serem intoxicadas pela
nostalgia da Grande Rússia.
Mas
Putin também tem suas fraquezas. É vaidoso, como mostram as suas fotos
públicas de torso nu ou as cerimônias pomposas no Kremlin. E é dado a
aventuras, manobras de alto risco e belicosidade imprudente.
A
economia da Rússia é menor que a da Coreia do Sul. O parque industrial
russo é atrasado. Os recursos das exportações de commodities são
consumidos com os gastos militares e da cleptocracia no Kremlin. À
população ele vende segurança e estabilidade após o caos dos anos 90,
mas sua burocracia custosa e incompetente é incapaz de produzir qualquer
melhora no padrão de vida.
Hoje
sua popularidade está relativamente baixa e ele é confrontado por
dissidentes ousados e expressivos, como Alexey Navalny. A distância
entre o estilo de vida dos russos e o de populações prósperas no
Ocidente aumenta e aumentará mais com as sanções econômicas. Mais
importante, os russos veem os ucranianos como irmãos e quaisquer
atrocidades durante a invasão serão recebidas com amargura e revolta.
Essas
fraquezas podem ser exploradas, mas isso exigirá líderes capazes de
amalgamar força, determinação e paciência, e sobretudo capazes de se
unir em torno de prioridades claras. Para azar dos ucranianos, parece
que esses líderes ainda não existem.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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