Ginecologistas, nutricionista e fisioterapeuta destacam a importância do tratamento multidisciplinar da doença
Cólicas menstruais intensas, dores durante as relações sexuais, dor e sangramento intestinais e urinários durante a menstruação e dificuldade para engravidar. Esses são os principais sintomas da endometriose, doença que afeta cerca de 10% das mulheres brasileiras, de acordo com Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e aproximadamente 176 milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo, sendo mais frequente entre os 25 e 35 anos de idade. Considerada uma das doenças da mulher contemporânea e também um problema de saúde pública mundial, a endometriose ocorre quando o tecido do endométrio, que reveste o útero, se desenvolve fora da cavidade uterina, e pode resultar em uma reação inflamatória crônica. Quando não tratada adequadamente a endometriose pode causar infertilidade e por isso, a importância da avaliação ginecológica periódica, alerta que ganha maior visibilidade neste mês, com a campanha de conscientização Março Amarelo.
A ginecologista e sócia da Clínica Emeg Ticiana Cabral explica que o endométrio é justamente onde o embrião se fixa no começo do seu desenvolvimento, durante uma gestação. “Antes do período fértil, os ovários produzem estrogênio, hormônio que faz o endométrio crescer. Quando não acontece a chegada de um embrião no útero, o endométrio se "descola” e a mulher menstrua. Então, no caso das mulheres com endometriose, o endométrio cresce fora do seu lugar habitual e pode se espalhar por todo o abdômen, principalmente atrás do útero, nos próprios ovários, nas trompas, sobre a bexiga, no intestino ou até mesmo em outros órgãos, em casos mais raros”. Esses focos intrusos agem como se ainda estivessem no útero, ou seja, sangram na época da menstruação, causando os sintomas inflamatórios.
Apesar de suas causas ainda não serem totalmente desvendadas pela comunidade científica, muitos fatores podem influenciar os sintomas e a evolução da doença. Hábitos saudáveis de vida como atividade física e orientação nutricional tornam-se fundamentais no controle dos sintomas, orienta Carlos Lino, ginecologista do Itaigara Memorial Ginecologia Avançada. “Por isso, fazer atividade física, principalmente aeróbica e modalidades que trabalham a respiração, como pilates e yoga, é fundamental para controle dos sintomas e propiciar melhor qualidade de vida no contexto da endometriose”.
“Tão importante quanto manter o corpo ativo é gerenciar o estresse, dormir bem, se hidratar e adotar uma dieta adequada para essa condição, baseada na comida de verdade, que é rica em nutrientes para o corpo. Já sabemos que uma dieta very low carb, como a cetogênica (dieta pobre em carboidratos) é uma dieta que pode ajudar na regulação dos níveis de inflamação. Evitar ao máximo alimentos ricos em carboidratos refinados, como açúcar e farinha branca, refrigerantes, doces, sorvetes e alimentos industrializados e ultra processados é fundamental para o tratamento”, afirma a nutricionista da Clínica Emeg Luana Ferrari.
Como é feito o tratamento?
A endometriose não tem cura, mas pode ser tratada e controlada ao longo da vida. De maneira geral, a principal opção de tratamento são as medicações hormonais, que bloqueiam a ação do estrogênio. Podem ser contraceptivos orais, adesivos transdérmicos, anéis vaginais, implantes transdérmicos ou DIU. O ginecologista da Clínica Emeg e Itaigara Memorial, Alexandre Amaral, explica que cada opção de tratamento para a endometriose será indicada de acordo com necessidades específicas, por isso, é preciso sempre individualizar a paciente, entender como a endometriose afeta a sua vida, se causa dor ou infertilidade, se há alguma alteração em outros órgãos, entre outros fatores.
“Quando há progressão da doença e aumento dos focos, mesmo com tratamento hormonal, a cirurgia será necessária. A maior vantagem é que, diante da evolução tecnológica na medicina, muitas vezes, os focos podem ser removidos de forma minimamente invasiva através da laparoscopia ou com auxílio da robótica. Essa alternativa também é indicada quando há contra indicação ao uso de medicações hormonais, como por exemplo, quando a mulher deseja engravidar. O tipo de cirurgia vai depender das condições da doença, como localização e tamanho dos focos”.
Controle da dor
A dor pélvica é um dos sintomas da endometriose mais comuns e difíceis de lidar, pois chega a ser crônica e incapacitante, comprometendo profundamente a vida dessas mulheres. Tanto que cerca de 60% das mulheres com endometriose tendem a desenvolver depressão e ansiedade. Uma das formas de tratar a dor é através da fisioterapia pélvica, que busca normalizar a função muscular e corrigir disfunções que são causadas pelo crescimento anormal do tecido endometrial em outros órgãos, gerando alterações musculares em regiões próximas.
De acordo com a fisioterapeuta pélvica do Itaigara Memorial Clínica da Dor e da Clínica Emeg, Maria Luiza Veiga, “apesar de a endometriose não se tratar de uma disfunção do assoalho pélvico, o crescimento anormal do tecido endometrial pode gerar diversas repercussões físicas, como pontos de tensão, dificuldade no relaxamento e dor, alterando a função sexual, urinária e defecatória da mulher. A fisioterapia auxilia no alívio de dores, melhorando a qualidade de vida das pacientes”.
O fator mais importante no tratamento da endometriose é proporcionar a qualidade de vida da mulher, por isso, o acompanhamento deve ser integral e multidisciplinar, com controle da doença, atenção aos hábitos de vida saudáveis e apoio psicológico.
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