Jó e seus amigos, a empatia no luto
O
desejo pela morte, por parte de Jó, não é fruto de sua esperança em
Deus, mas é decorrente de seu sofrimento profundo em virtude de suas
perdas. Afinal, ele, que tinha tanto — família, saúde e bens — perdeu
tudo de uma hora para a outra. E, assim, “Jó conheceu a dor profunda, o
vale da aflição, o desejo da morte”.
Hoje,
muitas pessoas estão sofrendo profundamente por causa de perdas
terríveis e irreparáveis, à semelhança de Jó: pessoas que perderam sua
saúde, sofrendo com doenças crônicas; pessoas que perderam um emprego, e
não sabem mais o que vão fazer da vida; ou ainda pessoas que, tal como
Jó, perderam “um familiar e sentem como se lhes tivessem arrancado um
pedaço de seus próprios corpos”.
A
dor do luto é algo terrível, pois deixa naqueles que ficam uma marca a
qual sentimos como se fosse uma ferida incurável. No caso da perda de um
filho, não conseguimos nem imaginar o quão forte esta dor pode se
tornar, a não ser quem já passou por isso. E Jó sentiu essa dor na pele
como ninguém: ele, que se preocupava dia e noite com seus filhos (cf. Jó
1.5), como um pai amoroso e dedicado, perdeu os dez — sete filhos e
três filhas — em um só dia.
A
dor de Jó foi vista por seus amigos, os quais foram até ele a fim de
“consolá-lo e animá-lo” (Jó 2.11). Diante de um homem com tamanho
sofrimento, os amigos de Jó se compadeceram, sofrendo junto com ele:
“Choraram alto, rasgaram seus mantos e jogaram terra ao ar, sobre a
cabeça” (Jó 2.12).
Viram
que não poderiam fazer nada mais do que estar junto com Jó,
compartilhando sua dor. Por isso “sentaram-se no chão com ele durante
sete dias e sete noites”, de modo que, durante esse tempo, eles “não
disseram nada, pois viram que o sofrimento de Jó era grande demais” (Jó
2.13). Muitas vezes, isto é o melhor que podemos fazer em um momento de
luto: estar junto com aquele que sofre. Muitas vezes a presença basta, e
as palavras devem ser evitadas.
Trecho retirado do livro E pediu para si a morte, de Publicações Pão Diário.
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