BLOG ORLANDO TAMBOSI
Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 06 de junho:
O
general Pazuello estava errado ao dizer que um manda, outro obedece. A
verdade é que, no Brasil, um manda e outros obedecem. Bolsonaro tem
razão: é o “seu gordinho”, é o “seu Exército”, são os “seus obedientes”.
Há,
claro, alguns problemas. O general Hamilton Mourão, vice-presidente da
República, já dizia, antes mesmo que Pazuello ficasse livre de punições,
que a indisciplina tinha de ser punida. Lembremos que Michel Temer,
muito mais suave que Mourão, já mostrou que vice tem força, sim. Mourão
está na reserva, mas é general e conhece a caserna: "Se nosso governo
falhar, errar demais, não entregar o que promete, essa conta irá para as
Forças Armadas”.
Indisciplina
é contagiosa. Um general da ativa de duas estrelas vai a um comício,
não acontece nada, um terceiro sargento da ativa, Luan Ferreira de
Freitas Rocha, já se manifesta: numa live do deputado Major Vítor Hugo,
que só pisca os olhos quando Bolsonaro o autoriza, reivindicou maior
salário e convocou militares em geral a participar do movimento. Major
Vitor Hugo, fidelíssimo, jamais tomaria essa iniciativa sem consultar
seu chefe.
Um
general discreto, como Sérgio Etchegoyen, ou que fez a campanha de
Bolsonaro, como Paulo Chagas, ou que foram seus ministros, como Santos
Cruz, reclamaram. É óbvio que Pazuello e o sargento seguem o presidente
que acaba de mostrar quem manda.
Mas, como dizia Napoleão Bonaparte, pode-se fazer tudo com as baionetas, menos sentar-se nelas.
O grande mudo
No
Brasil, as Forças Armadas são conhecidas como O Grande Mudo: têm poder,
mas não se manifestam. Isso é um problema: sempre houve quem se
sentisse seguro sem saber o que as baionetas calavam. O marechal Deodoro
era amigo de D. Pedro II, dizia dever-lhe favores. E o derrubou. O
marechal Dutra foi ministro da Guerra durante a ditadura de Getúlio
Vargas, de quem era íntimo colaborador. E o derrubou. Quem deu o
xeque-mate em Jango Goulart foi seu amigo Amaury Kruel, comandante do 2º
Exército. Sustentar governos dá uma tremenda coceira nos dedos que
seguram um gatilho.
Ele conhece
Ninguém
cometerá a injustiça de considerar Gilberto Kassab um político de
oposição. Não é, nunca foi. Conversa com todos, é tremendamente hábil;
seu raciocínio político é impecável, jamais contaminado pela emoção ou
pela paixão. Ao longo dos anos, aprendi a ouvi-lo com respeito: conhece o
jogo e, quando fala, fala com franqueza. Kassab acha que a decisão do
Exército de isentar Pazuello de punição “é muito perigosa”, e que
“nenhum país pode prescindir de normas nas Forças Armadas”. Sua análise:
“Os mais generosos podem dizer que há um impasse. Os mais críticos vêm
que a situação chegou a um nível temerário. Eu me incluo no grupo dos
mais críticos”.
Detalhe
importante: Kassab é o organizador e presidente do PSD, um dos
principais partidos do Centrão. O Centrão é a base política de
Bolsonaro, é o grupo que o defende do impeachment. Se Kassab se afasta,
acende-se o sinal amarelo: o Centrão apoia Bolsonaro, mas jamais afunda
com o navio.
Lado bom
Apesar
da Covid, o Brasil ensaiou uma pequena recuperação econômica no último
trimestre. Nada de fantástico, mas é um retorno ao crescimento. A
economia voltou ao nível de 2019. O crescimento é puxado, como sempre,
pelo agronegócio e pela exportação de minérios; e, também, pela grande
alta do preço dos nossos produtos de exportação. Mas o crescimento ainda
não se reflete no emprego: isso só ocorre quando o faturamento extra é
investido para aumentar a produção, o que demora alguns meses. Mas é um
bom sinal.
Lado ruim
O
aumento das exportações de milho e soja encarece o óleo de cozinha e as
rações no Brasil; o aumento das exportações de carne eleva não só o
preço interno da carne de boi como provoca a alta do consumo (e o
encarecimento) de substitutos, como o frango e o porco. Isso, somado ao
desemprego, já levou a uma baixa no consumo de proteínas animais. A
salvo dos aumentos, só os ovos. O arroz já tinha subido muito e se
mantém, mas pode subir mais.
Pensando no agro
Nesse
sábado, um evento importante para a agricultura brasileira: uma
discussão sobre os rios voadores da Amazônia (a farta umidade trazida
pelos ventos para o restante do Brasil). The Flying Rivers of Amazon é
parte da programação do Fórum Mundial da Água pela Vida, Water World
Forum for Life, uma iniciativa da União Europeia para o desenvolvimento
agrícola sustentável e o estudo do impacto do agronegócio sobre os
mananciais.
O
programa foi organizado pelo AgroReset, iniciativa brasileira para
estimular negócios sustentáveis. A mediação foi de Finho Levy, CEO e
publisher do AgroReset; e participou gente importante, como Carlos
Nobre, especialista em Ciências da Terra, Júlio Palhares, pesquisador da
Embrapa – e Bela Gil, chef de cuisine e estrela de TV, que divulga a
alimentação sustentável.
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