O politicamente correto é hoje métrica do marketing digital, a nova sociologia. Luiz Felipe Pondé, via FSP:
As
universidades mergulham na irrelevância, transformando-se em ninhos de
debates ridículos e mediocridade conglomerada. As grandes marcas
acadêmicas buscam formas de enfrentar esse processo.
Talvez
encontrem essas formas nas plataformas digitais e em criações mais
autônomas dentro das próprias universidades, que privilegiem mais as
inciativas ágeis em detrimento da política do quadro docente, sempre
pobre de espírito, visando a criação de uma "nomenclatura" que sirva a
si mesma dentro da instituição acadêmica.
A
irrelevância da universidade tem várias causas. Uma delas é a
gigantesca burocracia que serve a quadros humanos menos criativos e mais
inerciais. Criada para aferir a produtividade, essa burocracia
transforma a coordenação num grande conto do Kafka, agora, mergulhando a
barata no fetiche do online.
Uma
ferramenta destrutiva da universidade privada é a submissão necessária
ao marketing: em breve, ele ditará toda forma de conteúdo. Acompanhar o
modo como todos se submetem as opiniões da sua majestade, o seguidor, é
humilhante. Na busca por fidelizar os pais, as universidades privadas
prometem a estes que seus "filhes" serão "alunes" que criarão algoritmos
que salvarão o mundo, abraçarão árvores e terão corações puros.
Já
que citei a nova gramática fascista de gênero (um dos traços de todo
processo totalitário é a "reforma" da língua), vamos a ela.
Recentemente,
universidades tem renomeado espaços internos para servir à nova
inquisição, que vai além do fascismo de gênero. Até o grande filósofo
cético escocês David Hume, do século 18, um dos maiores filósofos
ocidentais, foi cancelado em seu país natal. As universidades têm se
tornado espaços de taras ideológicas, e isso as aproxima de igrejas
fundamentalistas, formando jovens alienados nessas mesmas taras.
A
praga do politicamente correto atravessou as fronteiras ideológicas. Só
gente mal- informada acha que ele seja um traço apenas da esquerda. O
politicamente correto é hoje uma métrica do marketing digital, a nova
sociologia. O novo centro da política ideológica descolada.
Utilizemos
a fórmula didática de esquerda x direita para deixar isso mais claro.
Da centro-direita (amantes do mercado e da liberalização dos costumes
dentro dos limites impostos pelas métricas do marketing digital) à
centro-esquerda (a esquerda americana que está fazendo das universidades
igrejas identitárias), todos rezam no altar do fascismo correto de
gênero. A extrema direita se oferece, falsamente , como antídoto às
igrejas identitárias, em troca de fazer de você um boçal reacionário
terraplanista idiota.
A
centro-esquerda, tendo perdido a verdadeira vocação da esquerda
(destruir o capitalismo), passou a ser uma crítica de brinquedo ao
mundo. Um teste definitivo pra você ver se uma crítica social é de
brinquedo é ver se ela cabe na publicidade. Se couber, esqueça.
Paulatinamente, os professores, pesquisadores e afins se transformam em
repetidores de códigos ridículos tipo "querides alunes".
A
esquerda deve buscar a Rússia do século 19 e início do 20 como
referência para refletir sobre sua história, e não os modismos das
universidades americanas. A partir do aparente impasse diante do modo de
produção capitalista, a esquerda procurou novos mercados ideológicos. A
esquerda de hoje é um fetiche do capitalismo cujo "cérebro" é
Hollywood.
E
a própria pandemia é hoje uma commodity e só vai acabar quando o
capital deixar de vê-la como um ativo. Só bobos acham que o que está em
jogo são vidas humanas. O susto passou.
A
"reforma" da gramática introduzindo recursos como "e", "x" ou "@" como
opção ao "o" e "a" é um sintoma claro do surto identitário histérico.
Este é um dos riscos de irrelevância da universidade porque a transforma
em geradora e reprodutora de um pseudodebate que serve pouco a um dos
problemas centrais da modernidade: como responder à riqueza material
indiscutível do capitalismo sem capitular diante da destruição do mundo
cognitivo e afetivo levado a cabo pela submissão do pensamento ao
marketing, agora, digital?
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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