Artigo de Cezar Roedel, consultor de Relações Internacionais, publicado por Opinião & Crítica:
A política internacional depende, em muito, das relações que travam
as grandes potências entre si. Essas relações e seus desdobramentos
impactam diretamente na condução da política externa dos países. Da
tensa relação entre os EUA e China, duas grandes potências mundiais,
podemos destacar quatro importantes marcadores geopolíticos que merecem
atenção redobrada, doravante: 1) as águas perigosas do Mar do Sul da
China; 2) a geopolítica do 5G; 3) a inteligência internacional; e 4) a
crise diplomática.
1) As águas perigosas do Mar do Sul da China. A extensa porção
marítima ao sul da China tem sido palco de incidentes importantes.
Trata-se de uma das principais rotas de circulação marítima do comércio
global. Ao reivindicar, de forma ilegal, todo o Mar do Sul, a China tem
empreendido esforços consideráveis para criar uma marinha de longo
alcance (blue-water navy, como prefere a literatura internacional),
construindo submarinos nucleares, por exemplo. Já possui um Porta-Aviões
e tecnologia própria de caças. Esse avanço chinês tem preocupado não só
os países ribeirinhos do Mar do Sul da China, mas potências como os
EUA, Japão e até mesmo a Austrália, visto que a China pretende ter o
domínio absoluto da porção marítima (inclusive das águas
internacionais), que não fazem parte do território chinês, compreendido
relativamente até o limite de 12 milhas náuticas. São inúmeros os
incidentes envolvendo frotas de grandes potências com as embarcações
chinesas. O Mar do Sul da China é entendido por muitos especialistas
como o epicentro do “conflito marítimo do século”.
2) A Geopolítica do 5G (quinta geração da internet móvel) é a
tecnologia que irá trazer maior velocidade de conexão, impreterível para
uma série de aplicações como: veículos autômatos, automação das cadeias
produtivas (indústria 4.0), inteligência artificial, cidades
inteligentes, entre outras. Há no mundo uma divisão muito clara entre
dois ecossistemas tecnológicos: o americano e o chinês. No seu projeto
ambicioso, dominar as redes mundiais do 5G para a China, é um dos seus
objetivos geopolíticos prioritários. Americanos e chineses estão
travando uma verdadeira disputa nesse campo, que envolve os governos e
gigantes da tecnologia. Alguns especialistas americanos falam em uma
Tech Cold War, ou seja, uma guerra fria no campo tecnológico.
3) A inteligência internacional. Nesse campo tomam destaque
eventos recentes, inclusive relacionados ao Covid-19. Os EUA acusaram
publicamente a China por invasão nas pesquisas americanas envolvendo a
nova vacina para o vírus. Outra recente medida nesse campo, a nosso ver,
foi a decisão do Presidente americano ao determinar o retorno de
estudantes estrangeiros que não estivessem em modalidade presencial de
ensino, no território americano. Lembramos que a maior porção de
estudantes estrangeiros nos EUA é, justamente, de chineses. A decisão
restou sem efeito, mas o sinal de Trump foi claro: via ali, uma das
fontes chinesas da espionagem internacional.
4) A crise diplomática acentuou-se recentemente. Os Estados
Unidos determinaram o encerramento das atividades do Consulado chinês em
Houston, no Texas (verdadeiro hub tecnológico americano). A acusação
americana estava dirigida às questões de propriedade intelectual e
privacidade dos americanos. A reação chinesa veio logo, com o fechamento
do consulado americano na cidade de Chengdu, na China.
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