Trata-se da pior política da era moderna, escreve Jeffrey Tucker no Instituto Mises:
O histórico já confirma tudo aquilo que sempre foi dito: a economia
global entrou em colapso não por causa da pandemia de Covid-19, mas sim
porque os governos ao redor do mundo, por meio de um espantoso e
incrivelmente irresponsável uso de seus poderes coercitivos, desligaram as economias, fecharam indústrias, comércios e serviços, e quebraram as cadeias de suprimentos.
Com efeito, após quatro meses de pandemia mundial, já há evidências concretas de que o lockdown não altera o número de mortos per capita. Estatísticos não conseguem encontrar nenhuma diferença de excesso de mortalidade entre os países que se trancaram e os que não.
Já a diferença de resultados econômicos são escabrosos.
Na Suécia, país que não adotou nem confinamento e nem quarentena, a economia efetivamente cresceu no primeiro trimestre,
e a uma taxa anualizada de 0,4%, sendo que as previsões medianas eram
de uma contração anualizada de 2,4%. Ao que consta, foi o único país
ocidental importante a conseguir esse feito.
Seus vizinhos nórdicos, que adotaram lockdown, apresentaram números
econômico muito piores: a economia da Noruega se contraiu a uma taxa
anualizada de 5,86% e da Dinamarca, a uma taxa anualizada de 8,13%.
Por outro lado, é fato, morreram mais pessoas
na Suécia do que nos outros países nórdicos. Porém, e isso é igualmente
válido, morreram menos pessoas, em termos per capita, na Suécia do que
nos outros países europeus que adotaram um lockdown radical, como
Bélgica, Itália, Espanha e Reino Unido. A Suécia está empatada com a também confinada França, só que a economia da França encolheu à incrível taxa anualizada de 19,57% no primeiro trimestre.
Portanto, os dados empíricos mostram que, se de um lado o lockdown
não evita mortes e nem protege a população, de outro ele garante a
destruição econômica do país.
No resto do mundo ocidental, bilhões de pessoas foram repentinamente
forçadas a ficar em prisão domiciliar, os governos passaram a decidir o que é e o que não é essencial, e todo e qualquer ajuntamento de pessoas se tornou proibido ou passou a ser rigorosamente regulado.
E assim estamos vivenciando os catastróficos resultados. Não é uma
grande depressão. É uma grande supressão. Os governos, do nada,
repentinamente se prontificaram a demolir os pilares essenciais da nossa
modernidade. E fizeram isso com alarmante entusiasmo.
E, agora, segundo as estatísticas, eles nem sequer podem dizer que ao menos salvaram vidas.
Pior: os próprios médicos já estão garantindo que as consequências da
profunda recessão econômica sobre a saúde das pessoas serão várias vezes piores do que a própria pandemia de Covid-19.
E isso sem contar a carnificina causada pelo fato de os hospitais terem
suspendido tratamentos de rotina, diagnósticos de câncer e cirurgias
eletivas.
O que temos de concreto é que os governos ao redor do mundo
embarcaram em um grande experimento de controle social que não tinha
nenhuma comprovação científica. Ninguém consegue apresentar um único
estudo acadêmico, revisado por pares, multi-cêntrico, que tenha
utilizado grupos de controle e que tenha feito estudos randomizados
controlados (RCT) demonstrando irrefutavelmente que o lockdown é a
maneira mais garantida de se combater uma epidemia.
A única coisa que foi apresentada foi um modelo matemático do
Imperial College, de Londres. Só que os modelos do Imperial College
possuem vinte anos de histórico pavoroso;
suas previsões sempre se revelaram astronomicamente erradas, e é
apavorante que eles tenham sido utilizados para nortear decisões tão
importantes. A própria imprensa britânica não se cansa de ridicularizá-los.
Tudo isso, em suma, significa que os governos ao redor do mundo
embarcaram em um grande experimento de controle social baseados em
teorias não-comprovadas e utilizando métodos não-testados.
E, ao que tudo indica, nada de bom foi alcançado por nenhum governo
em termos de mitigação da doença. Ficamos apenas com a prosperidade
destruída e vidas arruinadas — mais uma maciça perda de confiança em
soluções criadas pelo setor público ao redor do mundo, o que pode ser
algo positivo.
Trata-se da pior política da era moderna.
A acusação bizarra
Não obstante esse festival de horrores estatais, ainda há pessoas na
mídia dizendo que essa pandemia, de alguma maneira, mostra um "fracasso
do liberalismo".
É difícil encontrar uma conclusão singularmente mais bizarra do que essa.
Não foram os mercados — ou seja, a livre interação entre indivíduos,
consumidores, produtores e investidores — que fracassaram, mas sim o
governos. Os mercados foram extintos e proibidos de funcionar por
políticos e burocratas (com pesadas multas e até penas de prisão para
empreendedores que se "atrevessem" a trabalhar e produzir). Em troca,
esses políticos e burocratas não apresentaram absolutamente nada de
positivo. Não apresentaram solução nenhuma para nada. Apenas destruíram
nossa prosperidade e nosso bem-estar.
Os mercados, ao menos aqueles que ainda puderam continuar funcionando
(os rotulados como "essenciais"), continuaram nos ofertando alimentos,
abrigos, remédios e cuidados médicos durante o pior do momentos. Não
passamos fome e ainda tivemos amplo acesso a entretenimento doméstico
graças ao mercado (empreendedores em busca de lucros). A bolsa de
valores e todo o mercado financeiro continuou funcionando, fornecendo
informações cruciais sobre recursos e valorações, e, acima de tudo,
efetuando as transações monetárias cruciais para nossa sobrevivência.
Isso é um triunfo, e não um fracasso.
Talvez, sendo complacente, a afirmação de que o liberalismo fracassou
se baseia na crença de que uma sociedade livre não sabe lidar com
pandemias. Só que isso também é empiricamente falso. Com efeito, ao
longo de todo o século XX, tivemos vários exemplos de doenças que foram
manuseadas muito bem em um contexto de liberdade. Profissionais da
medicina trabalharam e deram abrigo aos vulneráveis ao mesmo tempo em
que mitigaram as doenças por meio de métodos científicos. O estado ficou
completamente de fora na pandemia de pólio, de 1949-52. Fez o mesmo na gripe de 1957-58, quando nada parou. Na gripe de 1968
(a gripe de Hong Kong), também nada parou (aliás, o festival de
Woodstock ocorreu exatamente durante o fenômeno). Na SARS, nada parou.
Na MERS, nada parou. Na H1N1, nada parou.
Por que decidimos tomar um caminho distinto em 2020 é um mistério. Independentemente disso, foi um enorme erro.
Quem conhece desaprova
O grande epidemiologista Donald Henderson (1928-2016) foi o responsável pela erradicação da varíola ao redor do mundo. Ele era o maior especialista vivo em pandemias. Sua visão sobre quarentenas,
restrições de circulação e até mesmo de viagens, fechamentos de escolas
e restrições gerais da liberdade era 100% negativa. Seu princípio era o
de que nada deveria ser feito para interromper ou perturbar o
funcionamento normal da sociedade. Qualquer medida que o governo tome
para restringir a liberdade das pessoas via coerção corre o risco de
transformar uma pandemia perfeitamente controlável em uma "catástrofe".
São as palavras de um especialista na área, com um impecável currículo de façanhas.
E isso — catástrofe — foi exatamente o que ocorreu. O mundo pagará o
preço por décadas. Nada disso é culpa do liberalismo, mas sim de
tenebrosas decisões tomadas por políticos e burocratas ao redor do
mundo, com a possível exceção de Coréia do Sul, Japão, Suécia e alguns
outros poucos países (sendo a Nova Zelândia o único caso de governo
bem-sucedido ao adotar uma rápida quarentena).
O que fazer
Não é o momento para ainda mais controles estatais. É hora de
voltarmos a olhar para os fundamentos da modernidade e dos mais
essenciais direitos humanos, e voltarmos a praticá-los novamente.
Em relação ao vírus, ninguém quer ficar doente. E ninguém quer
adoecer os outros desnecessariamente. Se formos capazes de entender e
aceitar essas duas verdades, temos a base para entendermos como uma
sociedade livre pode lidar de maneira inteligente com a presença desta
doença. As pessoas se adaptam e aprendem. O profissionais da área se
concentram no assunto e trabalham em terapias e na descoberta da cura. O
que exatamente os governos podem contribuir neste processo não está
claro.
O economista F.A. Hayek passou toda a sua vida explicando e demonstrando que o conhecimento essencial
necessário para fazer a sociedade funcionar e prosperar está nas mentes
de cada indivíduo atuante. O governo não é, e não tem como ser, mais
sábio e mais esperto que todo o conjunto de indivíduos de uma sociedade.
E não há benefício algum em se ignorar essa lição.
O que é necessário hoje, mais do que nunca, é uma imediata
restauração do livre comércio, da liberdade de empreendimento, da
liberdade de movimento, dos direitos comerciais, e dos direitos humanos
inalienáveis. É uma verdade dura para os governos admitirem não apenas
que fracassaram, como também que pioraram tudo. Mas eles têm de admitir
isso e simplesmente nos deixar em paz para que possamos restaurar a
prosperidade e nossa saúde.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário