Se aos jovens não for ensinada a importância de reconhecer e proteger a
pátria como lar, será elevado o risco de destruição do corpo material e
imaterial que compõe nossa civilização. Artigo de Bruno Garschagen para a
revista Oeste:
Que mundo teremos após o fim da pandemia? Neste momento, essa
pergunta está compreensivelmente ausente das preocupações da maioria das
pessoas. A primeira batalha, urgente, é não ser infectado, não infectar
outras pessoas, não morrer da covid-19 e sobreviver economicamente. Mas
a resposta virá, queiramos ou não, tão logo o novo coronavírus seja
superado.
Quando esse momento chegar, enfrentaremos um problema com duas
dimensões: 1ª) individual (como cada um de nós estará nessa fase
posterior) e 2ª) social (as consequências das mudanças sociais,
políticas, econômicas em curso e vindouras). Mas estaremos preparados
para essa segunda batalha?
É possível que todos os reflexos da pandemia e o reforço da impressão
de que as elites políticas mais uma vez fracassaram sejam capazes de
pôr em causa as certezas e os consensos acerca dos sistemas políticos,
econômicos e jurídicos. Mas, principalmente, aumentar a sensação de não
pertencimento, de inadequação em relação à própria pátria, sentimentos
que emergem quando não reconhecemos mais o lugar onde vivemos como nosso
lar.
São notáveis as agressões contra a soberania dos países ocidentais, contra as culturas locais e aos diferentes modos de vida.
Os ataques desferidos na Europa pela União Europeia e nos demais
países pela Organização das Nações Unidas (ONU) só aumentaram a
insatisfação de parcelas das sociedades e o alheamento de outras. Quanto
mais velho é o grupo social, parece ser maior a sensação da
profundidade das mudanças ocorridas e do que foi perdido; quanto mais
jovem, menor esse sentimento porque muitos jamais souberam o que isso
significava. No país e no mundo que essa juventude conheceu, vários
elementos valiosos já haviam sido relativizados ou perdidos.
Não é de estranhar, portanto, que a partir desse estado de coisas
muitos não reconheçam sua nação como uma casa edificada sobre valores,
princípios, história, tradições. Para parte da população, os países são
apenas um território onde os compatriotas falam o mesmo idioma, não um
tesouro cultural que, para usar a célebre expressão de Edmund Burke,
vincula os mortos, os vivos e os que hão de nascer.
Roger Scruton usa o termo oikophilia em seu livro Como Ser um
Conservador para designar o amor pelo lar e pelas “pessoas nele
contidas, e as comunidades que povoam o entorno e que dotam esse lar de
contornos permanentes e sorrisos duradouros”. Esse lar, o oikos, “é o
lugar que não é só meu e seu, mas nosso”; é o “palco montado para a
primeira pessoa do plural da política, o lugar exato, real e imaginário
onde tudo acontece”.
É nesse lar onde, segundo Scruton, “virtudes como frugalidade e
altruísmo, o hábito de respeitar e de ser respeitado, o senso de
responsabilidade — todos esses aspectos da condição humana que nos
moldam como procuradores e guardiães de nossa herança comum — surgem por
meio de nosso crescimento como pessoas e pela criação de ilhas de valor
em um mar de preços”.
Essa perspectiva conservadora enfatiza o aspecto imaterial sobre o
material, para assim defender um equilíbrio de visões contra uma posição
economicista defendida por muitos que sobrepõem os benefícios
econômicos às demais dimensões da vida em sociedade.
É possível que, passada a pandemia, nos demos conta de que o mundo
onde vivíamos era menos um lar a ser defendido e preservado do que uma
estalagem temporária.
Uma estalagem que restou sob os escombros do castelo que nossos
antepassados construíram e que fracassamos em proteger. Pode ser que a
pandemia também sirva para mostrar a indivíduos de diferentes sociedades
a necessidade de restaurar valores e princípios, de reconquistar
liberdades e todo um conjunto de elementos que ajudaram a erigir o
Ocidente, mas foram sendo corroídos e corrompidos ao longo de décadas
por agentes de projetos revolucionários, autoritários, totalitários,
internacionalistas, populistas e até mesmo democráticos, que nem mais
disfarçam o apoio a big governments locais e globais.
Se nada for feito, se aos jovens não for ensinada a importância de
reconhecer e proteger a pátria como lar, mais e mais serão consideradas
plausíveis medidas que conduzam à sua destruição e de todo o corpo
material e imaterial que a compõe, incluindo as liberdades.
Hoje a justificativa é a pandemia; amanhã poderá ser qualquer outra.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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