Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em vários jornais do país (surrupiada aqui via Chumbo Gordo):
O ministro da
Justiça, Torquato Jardim, disse o que todos que não estão implicados
gostariam de dizer: o crime não teria tomado as proporções que tomou, no
Rio, sem muita cumplicidade oficial e policial. Jardim sabe de coisas
que muita gente deve saber, mas: a) tem informações do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência, ou seja, do general Sérgio
Etchegoyen; 2) como ministro, tem obrigação legal de agir. Portanto…
Portanto, não se
sabe. O caro leitor deve lembrar-se de que vive sob o auriverde pendão
de nossa terra. O presidente Temer já pediu ao ministro que aja com
discrição, o máximo de discrição (se não agir, melhor ainda). Jardim é
velho amigo, Temer espera dele que compreenda seus problemas.
O fato é que PMDB e
PT tentam rearticular a velha aliança, só rompida pela inabilidade da
presidente Dilma. Lula já mandou um recado: é hora de parar com o “fora
Temer”. O PMDB de Temer (e de Sérgio Cabral, e do governador Pezão)
enfrenta as mesmas dificuldades do PT do Mensalão, do Petrolão e do
Quadrilhão; ambos ficariam felizes com medidas legislativas como a
proibição da delação de réus presos, condução coercitiva só em caso de
recusa ao depoimento e fim de prisões temporárias que, pela longa
duração, funcionam sem julgamento como antecipação de pena.
Juntos, PT e PMDB,
calcula a repórter Lydia Medeiros, de O Globo, ficam com ¼ do dinheiro
de campanha. Esta linguagem ambos entendem.
O trabalho eleitoral
É cada vez menos
lógico, portanto, imaginar a eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro.
Lula dificilmente será candidato, Bolsonaro dificilmente terá fôlego
para ir muito longe. Há outros nomes possíveis, na perspectiva de uma
chapa PT/PMDB: Luiz Felipe d’Ávila, por exemplo; ou, no caso de a
economia crescer bem, Henrique Meirelles. Meirelles tem boa entrada na
área empresarial, foi presidente do Banco Central com Lula, ministro da
Fazenda com Temer (e Lula cansou de indicá-lo a Dilma, que o rejeitou).
D’Ávila, professor respeitado, é genro do empresário Abílio Diniz (que
há tempos mantém boas relações com o PT). Do outro lado, o nome provável
é o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Caso algo semelhante
ocorra de fato, a campanha será muito mais tranquila do que se espera
hoje.
O trabalho cansa
Todas as articulações
estão ocorrendo nos níveis mais altos de cada sigla e provavelmente
provocarão algumas exclamações de horror se, e quando, se confirmarem. E
estão ocorrendo longe do Legislativo – até porque quem deveria
trabalhar contra o acordo ou a seu favor optou pelo repouso. Não, nada a
ver com as férias disfarçadas de diplomacia parlamentar oferecidas, com
dinheiro público, às Excelências que viajaram à Europa e ao Oriente
Médio; é coisa mais bem distribuída. A Câmara prepara um recesso branco
de dez dias – agora, quando pouco mais de um mês nos separa do recesso
oficial do fim do ano. Funciona assim: há sessões marcadas para a
próxima semana, de segunda a sexta. Mas não é para valer: é só para que o
número de sessões atinja o mínimo e seja possível folgar de 13 a 21,
sem que haja qualquer tipo de desconto. O Senado deve seguir o exemplo
da folga.
O trabalho pacífico
Um acerto entre PT e
PMDB deverá provocar a queda de muita gente do PSDB instalada no
Governo. O ministro Antônio Imbassahy, bom político, por isso mesmo caiu
em desgraça junto à bancada franciscana (a que segue a oração de São
Francisco, “é dando que se recebe”). Aloysio Nunes e Bruno Araújo não
despertam grande emoção no partido; Luislinda Valois, no Governo, mais
retira prestígio do PSDB do que lhe acrescenta. Mas o desembarque do
PSDB deve ser ameno, com garantia de apoio às reformas econômicas, sem
brigas – até porque, embora em menor escala, os tucanos enfrentem os
mesmos problemas que PT e PMDB tentam resolver.
O trabalho escravo
Livrar-se de
Luislinda Valois, a inacreditável ministra que escreveu 207 páginas para
dizer que ganhar pouco mais de R$ 33 mil por mês, como ela, se
assemelha a trabalho escravo, é tarefa urgente para o Governo e o PSDB.
Justificar-se alegando que é preciso vestir-se com dignidade,
alimentar-se e usar maquiagem já é escárnio. Se a ministra acha baixos
seus vencimentos, ninguém a obriga a ficar no Governo: pode ir embora. E
será aplaudida.
O trabalho necessário
Mesmo que o ministro
Torquato Jardim se aquiete, atendendo aos apelos de Temer, a acusação ao
Governo e à PM fluminenses deve gerar efeitos. O secretário da Justiça e
da Segurança do Mato Grosso do Sul cobra também o Governo Federal, pelo
frágil combate ao tráfico nas fronteiras. “O crime no Rio é diretamente
ligado ao tráfico de drogas”, diz, em ótima entrevista ao repórter
Paulo Renato Coelho Netto, do UOL. E que faz a União para combater o
narcotráfico? O Ministério da Justiça não respondeu à pergunta.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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