Até os napoleões de
hospício ficaram desconcertados com as maluquices do feriadão de
Finados. Texto de Augusto Nunes, em Veja.com:
Nesta virada de
outubro para novembro do ano da graça de 2017, milhões de brasileiros
imaginaram que o feriadão de Finados (com a consequente desativação dos
três Poderes) lhes permitiria descansar por uma semana dos absurdos que
inundam diariamente o noticiário jornalístico. Erraram de novo. A folga
foi para o espaço a bordo de maluquices que deixaram desconcertados até
os napoleões-de-hospício. Confiram quatro gotas no oceano de insanidade
que vive ameaçando engolir o país:
1. Luislinda Valois,
chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, produziu um documento
com mais de 200 páginas para corrigir o que considera uma gravíssima
injustiça pecuniária. Ela acha que merece embolsar tanto o salário de
desembargadora aposentada quanto o de vigia dos direitos humanos com
status de ministra. Se fosse dispensada de obedecer à lei que manda
optar por um dos salários, Luislinda passaria a ganhar mais de R$ 60 mil
por mês. Como ganha pouco mais que a metade dessa bolada, a ministra
apresentou-se como prova de que, apesar da Lei Áurea, existe pelo menos
um caso de trabalho escravo até no primeiro escalão do governo Temer.
Luislinda desistiu do pleito diante da gargalhada que só não foi
nacional porque todas as entidades defensoras dos direitos dos
afrodescendentes preferiram refugiar-se na cara de paisagem.
2. Geddel Vieira
Lima, que exerce desde a infância o ofício de delinquente, solicitou ao
Supremo Tribunal Federal a identificação do autor da denúncia que levou à
descoberta dos mais de R$ 50 milhões guardados num prédio em Salvador. A
ideia do inventor do apartamento com vista para o mar de dinheiro
roubado só serviu para confirmar que no faroeste à brasileira o vilão é
que persegue o mocinho.
3. Sérgio Cabral,
recordista mundial de ladroagem em extensão, altura e abrangência, foi
previsivelmente salvo por Gilmar Mendes da mudança para um presídio
atulhado de criminosos que, perto do saqueador do Rio, parecem coroinhas
que só furtam o vinho do padre. Continua hospedado no hotel-presídio
que lhe oferece, entre outras mordomias cinco estrelas, até os serviços
de um mordomo.
4. Numa discurseira
em Belo Horizonte, Lula prometeu trazer de volta ao Brasil a democracia
que está por aqui desde 1989, responsabilizou Michel Temer pelo que o
orador e sua sucessora fizeram, exigiu um tratamento mais carinhoso para
a Petrobras que assaltou e jurou que tanto a alma viva mais pura do
país quanto a falecida Marisa Letícia não nasceram para roubar — verbo
que conjugaram incessantemente depois da chegada à vida adulta.
Tom Jobim ensinou que
o Brasil não é para amadores. Começa a tornar-se demasiadamente
esquisito para os mais devotados profissionais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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