Clínica de repouso deixa de atender pacientes pelo SUS, no ES

De acordo com diretoria, repasse feito pelo governo federal é insuficiente.
Serviço deve ser interrompido no dia 13 de março.

Do G1 ES, com informações da TV Gazeta *

A clínica de repouso Santa Isabel, localizada em Cachoeiro de Itapemirim, Sul do Espírito Santo, não vai atender mais pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A informação foi anunciada pela diretoria da instituição. A previsão é que a interrupção ocorra a partir do dia 13 de março deste ano. De acordo com o diretor técnico da unidade, Sérgio Bourbon, o motivo para o encerramento do atendimento ocorrerá porque o repasse realizado pelo governo federal não é suficiente para arcar com os custos da internação.
A notícia pegou de surpresa muitos familiares de pessoas que dependem do serviço, como é o caso da idosa Noir de Oliveira, que está com um filho internado no local. Ela contou que desde que ficou sabendo, não tem conseguido pensar em outro assunto. "Nossa, eu fiquei desesperada. Ontem (quinta-feira) eu não almocei, não dormi, estou desesperada até agora. Eu passei mal de saber uma coisa dessa. Isso não pode acontecer, meu Deus", lamentou.
Há 10 anos, o filho da moradora Sônia Bermond depende da clínica. "Ele é muito agitado, me agride, agride a irmã, que é menor. Quando ele está em casa, a irmã tem que sair para a casa das tias. Eu não sei o que vou fazer porque eu não aguento ficar com ele em casa", declarou.
De acordo com a diretoria da clínica, a decisão ocorreu por conta de uma defasagem na tabela do SUS. De acordo com a instituição, há cinco anos o valor repassado pelo governo federal é o mesmo. O valor recebido por paciente é de R$ 38,59, cinco vezes menor do que o custo referente à internação.

Familiares estão preocupados com a situação da
unidade de repouso (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Em 2013, a unidade ameaçou fechar por conta do mesmo problema. Devido às dificuldades, a Santa Isabel tentou realizar uma parceria com o governo do estado, mas recebeu uma resposta negativa. "A Secretaria de Estado de Saúde acenou com a possibilidade de fazer uma complementação dessa diária que a gente recebe do governo. Aguardamos tudo isso, que demorou três anos. No final do governo passado, o secretário de Saúde nos disse que estava tudo certo, que cumprimos todas as etapas neesárias, mas que não podia nos dar complemento nenhum por falta de recurso orçamentária", disse Sérgio Bourbon.
Ainda segundo o diretor, aos órgãos competentes já foram avisados sobre a suspensão do serviço. "Alertamos as autoridades, estivemos na secretaria no início desta semana, inclusive com a presença do Ministério Público, e eles estão cientes da necessidade encontrarem outro estabelecimento, outra instituição", concluiu. Atualmente, 300 pacientes internados na clínica que dependem do SUS. A diária sem a contribuição do SUS custa R$ 250.

Outro lado
De acordo com o Ministério da Saúde, o objetivo do governo federal com a reforma psiquiátrica é reduzir o número de leitos em hospitais e transferir a responsabilidade de atendimento para a rede de atenção fora dessas unidades, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).
Já a subsecretária de estado para Assuntos de Regulação e de Organização de Atenção a Saúde, Jaqueline Moffati, confirmou que precisa reduzir os leitos em hospitais psiquiátricos, conforme determina o Ministério da Saúde. Ela disse, ainda, que caso a clínica reduza os leitos de 360 para 160, o estado pode avaliar se vai repassar o complemento que a instituição pediu.
* Com informações de Aline Souza, da TV Gazeta