Reaproveitamento de resíduos sólidos diminui custos das obras.
Além de reduzir o impacto ambiental, prática gera renda e aquece economia.
Construtoras devem gerir os resíduos sólidos
produzidos nas obras (Foto: Natália Souza/G1)
No Brasil, o lixo gerado pelo setor da construção civil é responsável
por cerca de 50% do volume total dos resíduos sólidos, segundo estudo da
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (Abrelpe). Com o grande impacto ambiental, a prática da
sustentabilidade deixou de ser apenas uma “preocupação opcional” e
passou a ser regulamentada no ramo.produzidos nas obras (Foto: Natália Souza/G1)
Para obter licença para obras acima de 400 metros quadrados concedidas pelos órgãos ambientais fiscalizadores, as construtoras devem apresentar, entre outras coisas, um Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) em cada projeto. A obrigatoriedade foi estabelecida em 2002, pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) através da resolução 307.
Com um canteiro de obras ecologicamente correto, onde latas de tintas usadas se transformam em lixeiras recicláveis, tampas de caixas d’água viram guarda-sóis e restos de madeira viram cercado para árvores, a construtora responsável pela obra do Conjunto Novo Jardim, localizado na Cidade Universitária, em Maceió, é um grande exemplo de que é possível ir além da prática sustentável imposta nas diretrizes do Conama.
Construtoras investem em canteiros de obras sustentáveis em Alagoas (Foto: Natália Souza/G1)
Através da consultoria de uma empresa especializada em serviços
ambientais, a construtora promove, semanalmente, palestras temáticas
sobre gestão de resíduos sólidos e conscientização sobre o meio ambiente
para os quase 700 funcionários da obra.De acordo com a bióloga Cynthia Diniz, 30, que é responsável pela gestão das palestras no Conjunto Novo Jardim, os encontros semanais são produtivos e o retorno pode ser observado tanto pelos funcionários, como pela construtora.
“Nosso papel é sensibilizar os operários por meio de palestras educativas e dinâmicas. Consideramos essa obra modelo, pois aqui os trabalhadores realmente levam a sério o reaproveitamento do material. Tem obra que os funcionários assistem às palestras, mas depois deixam para lá e aqui eles foram além", completou.
Segundo Cynthia, a empresa de consultoria sugere soluções sustentáveis para os resíduos que não teriam mais utilidade e são transformados em ferramentas de trabalho ou utensílios das residências. "Muitas ideias nós pesquisamos e sugerimos, outras a própria construtora orienta e eles também contribuem compartilhando o conhecimento deles", afirmou.
Economizamos cerca de 50% nos custos da obra com a reutilização dos resíduos sólidos"
Kalyne Gonçalves
Além dos guarda-sóis de PVC, lixeiras seletivas feitas a partir de latas de tinta e cercados das árvores, os tonéis também se transformam em caqueiras e calhas para telhados das casas.
A assessora de qualidade da construtora, Kalyne Gonçalves, 19, afirma que com o reaproveitamento dos resíduos sólidos, a empresa economiza até 50% nos custos com compra de matéria-prima.
"Antes comprávamos uma placa de acrílico no formato A4 por R$ 54 e hoje, com a reutilização do PVC, compramos a R$ 15. Colocamos placas de identificação das casas ou de sinalização de velocidade permitida no residêncial e entregamos chaveiros para os proprietários e acaba sendo um diferencial", afirmou.
Mudança no comportamento
De acordo com Kalyne, é notável a mudança no comportamento dos funcionários após a implantação do PGRCC. “Observamos que eles chegam a tomar iniciativas próprias. Aprenderam as cores de cada lixeira seletiva, não jogam lixo no chão, ou seja, mudanças importantes no comportamento que eles acabam levando para o ambiente familiar também”, afirmou.
Joís Francisco compartilha com família o
aprendizado do trabalho. (Foto: Natália Souza/G1)
As lições foram absorvidas com louvor pelo chefe da central de
qualidade, Joís Francisco dos Santos Filho, que já repassa o que aprende
no trabalho para sua esposa e os três filhos. “Não conhecia o programa e
depois das palestras começamos a fazer a separação do material
reutilizável para contribuir com o meio ambiente. Até os vizinhos eu
procuro orientar sobre a melhor forma de separar o lixo”, disse.aprendizado do trabalho. (Foto: Natália Souza/G1)
De acordo com o proprietário da empresa de consultoria ambiental, Mateus Gonzalez, apesar da fiscalização intensa dos órgãos ambientais, o estado ainda apresenta um número pequeno de construtoras que aderiram ao programa.
“Todas elaboram o programa, pois é obrigatório, mas nem todascolocam em prática. Hoje trabalhamos com 22 obras que implantaram efetivamente o PGCS, prédios e casas. Acredito que no total é um número baixo, levando em conta o total de obras que existem no estado, mas graças à cobrança dos órgãos e da própria conscientização dos proprietários das construtoras, esse número vem aumentando", afirmou.
Através de parcerias, artesão produz peças com
resíduos sólidos de obras. (Foto: Natália Souza/G1)
Geração de rendaresíduos sólidos de obras. (Foto: Natália Souza/G1)
Além de promover sustentabilidade, a obra do Conjunto Novo Jardim também gera renda e aquece a economia local. Há oito anos no mercado de produção utensilhos de plástico, o artesão Gerônimo Manoel de Oliveira, encontrou nas obras do Estado, a principal fonte de suas matérias-prima.
"Eu sofria antes para comprar a matéria-prima das fábricas, porque o custo era muito elevado. Foi quando eu fui a uma obra e vi o desperdício de material que ia para o lixo e sugeri uma parceria. Eles me doam o material e eu o transformo em produtos como guarda-sol, placas, chaveiros e vendo para as construtoras por um preço mais barato que o do mercado", contou.
Além de sustentar a família com suas obras de arte, Gerônimo também gera renda para outras cinco de famílias de funcionários da sua empresa. De acordo com o artesão, hoje em dia ele é procurado pelas construtoras devido a sua prestação de serviços. "O tubo de PVC é mais resistente que o acrílico e meu diferencial é o acabamento dos produtos. Antes, fabricávamos 240 lixas por dia, hoje nossa capacidade é de 1100 lixas", contou Gerônimo, que destacou ainda que suas máquinas de corte são feitas por ele mesmo.
Para Mateus Gonzalez, todos ganham com a prática sustentável, que deve virar tendência entre as construtoras. "Acho que hoje estamos conseguindo fechar um ciclo, onde a construtora economiza, pois usa menos matéria-prima e gasta menos com o transporte dos resíduos que iriam para os aterros sanitários, reduz o impacto ambiental, além de gerar renda para as pessoas que estão trabalhando e ganhando dinheiro com a reciclagem do material", afirmou.
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