Cineasta vai receber homenagem do Cine PE, neste domingo (29).
Festival lembra 50 anos de carreira, marcada pela criação do Cinema Novo.
Em entrevista ao G1 por email, Diegues, no entanto, não soube definir essas cinco décadas de labuta cinematográfica. “Nunca trabalhei como quem constrói uma obra. Sempre fiz meus filmes pensando no tempo presente e no que eles poderiam significar para os outros naquele momento”, comentou.
Assim, Cacá foi elaborando uma filmografia afinada com seus princípios e, talvez por isso mesmo, bastante premiada, como os filmes “Orfeu” (1999), “Tieta do Agreste” (1995), “Veja esta canção” (1994), “Dias melhores virão” (1989), “Bye bye Brasil” (1979) e “Xica da Silva" (1976). Este último, inclusive, vai ser exibido durante o festival, na Mostra Especial da terça (1º), às 16h. A entrada é gratuita.
Com uma obra extensa, será que o cineasta nutre carinho especial por algum trabalho? Ele afirma que tem muito orgulho de tudo que fez, mas sempre evita relações edipianas com os seus filmes. “Assim que eles ficam prontos, passam a pertencer aos outros – os espectadores que os reconstroem em seu imaginário”, explicou.
Ele também comemorou a restauração das películas que está sendo feita pela Cinemateca Brasileira e pelo Centro Nacional Francês da Cinematografia. “É como uma forma de permanência de meus filmes, uma celebração de sua existência. Mas o que me interessa mesmo é o próximo, o filme que vou fazer em seguida", declarou.
Incansável
Disposição e empolgação não faltam a Cacá Diegues, hoje com 71 anos. Os últimos dois filmes que chegaram às telonas foram “O maior amor do mundo” (2006) e “Deus é brasileiro” (2002). Neste período, também dirigiu, em parceria com Rafael Dragaud, o documentário "Nenhum motivo explica a Guerra" (2006), que conta a história do grupo cultural AfroReggae, formado na favela carioca de Vigário Geral depois da chacina de 1993.
Agora, ele se prepara para retomar as filmagens de "O Grande Circo Místico", ainda sem data definida para começar. O projeto foi interrompido em 2010, quando Diegues se dedicou à produção de "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos" ,primeiro longa-metragem brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro.
Baseado no poema homônimo de Jorge Lima, o "O Grande Circo Místico” fala sobre as histórias de amor de uma família circense, durante os cem anos de existência do Grande Circo Knieps. O ator Lázaro Ramos já está confirmado no elenco, como o mestre de cerimônias do circo. O poema ficou famoso, em 1983, quando inspirou Naum Alves de Souza a roteirizar um espetáculo de dança com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo. O cineasta informou que vai usar as canções dos dois compositores. Só não sabe ainda quais.
Nunca vivi, como cinéfilo ou como cineasta, um período do cinema brasileiro tão rico em alternativas"
Cacá Diegues, cineasta
"Nesses meus 50 anos de carreira, nunca vivi, como cinéfilo ou como cineasta, um período do cinema brasileiro tão rico em alternativas, tão diverso como o próprio país o é. Nunca vivi um momento em que se estivesse fazendo tantos filmes como agora, vindos de regiões, gerações e estilos bem diferentes entre si”, comemora.
No entanto, ele mantém os pés no chão. “A economia do cinema é uma coisa muito frágil, a qualquer momento ela pode claudicar e acabar com todo esse entusiasmo pelo que está sendo feito. Acho mesmo que estamos correndo esse perigo”, complementou.
Enquanto a cinematografia nacional segue tentando existir como atividade permanente, sendo feita pela diversidade de estilos e tendências de seus cineastas, Cacá Diegues faz a sua parte.
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