MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 6 de junho de 2021

É precoce apostar num vencedor na eleição de 2022 sem saber quem estará na final

 



Charge do Benett (Folha)

Carlos Pereira
Estadão

Em pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de janeiro de 2021, foi perguntado “quem estaria fazendo mais pelo Brasil no combate ao coronavírus: o presidente Jair Bolsonaro ou o governador de São Paulo, João Doria”. Uma maior parcela, 46%, escolheu o governador Doria.

Mesmo diante dos desgastes provenientes dos sucessivos erros na gerência da pandemia, que levaram à morte mais de 456 mil vítimas da covid-19, 28% das pessoas ainda atribuíram ao presidente Bolsonaro o papel mais relevante no combate da pandemia.

RESULTADOS ESTRANHOS – Esses resultados são contraintuitivos, especialmente quando se observa que das 40 milhões de pessoas (19% da população) que já se vacinaram com a primeira dose ou das 20 milhões (9,5%) que se vacinaram com as duas doses, em torno de 65% receberam a vacina Coronavac, 33% a da AstraZeneca e 2% a da Pfizer.

Ou seja, sem a tenacidade do governador Doria e da eficiência do Instituto Butantan, apenas 6,6% da população teria sido vacinada até o momento com a primeira dose e somente 3% com as duas doses.

Por mais inusitado que possa parecer, em vez de almoçar com o governador Doria do PSDB e ajudá-lo em uma campanha de nacionalização de seu nome, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (presidente de honra do PSDB) preferiu almoçar com o ex-presidente Lula.

VÁRIOS CANDIDATOS -Além de Doria, o PSDB possui pelo menos dois outros pré-candidatos à Presidência para as eleições de 2022: o senador pelo Ceará, Tasso Jereissati, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Pelo que se sabe, FHC também não convidou nenhum deles para almoçar nem os consultou sobre a pertinência do convite recebido para encontrar Lula.

A suposta justificativa de FHC para o encontro com Lula seria a necessidade de juntar forças em prol da “frágil” e “indefesa” democracia brasileira, que estaria sob ameaça iminente de quebra institucional com Bolsonaro. Para derrotar Bolsonaro em 2022, FHC já anunciou que votaria no petista no segundo turno e que também se arrependia de não ter votado em Haddad em 2018.

Estudiosos de governos populistas argumentam que, se a quebra da democracia não ocorrer num primeiro mandato, certamente ocorrerá num segundo.

TUDO SE JUSTIFICARIA –  Como Bolsonaro já deu inúmeras demonstrações do seu pouco apreço pelos procedimentos institucionais e valores democráticos, tudo se justificaria para evitar tal catástrofe. Afinal de contas, como diria o sociólogo francês Raymond Aron, a política “não é jamais uma luta entre o bem e o mal, mas entre o preferível contra o detestável”.

Entretanto, de acordo com a última pesquisa do Datafolha, Lula derrotaria facilmente Bolsonaro por 55% a 32%. Bolsonaro também perderia no segundo turno para Ciro Gomes (48% a 36%) e empataria tecnicamente com Doria (40% a 39%).

Seu governo é rejeitado por 45% da população; apenas 24% o aprovam. Para piorar, 54% dos eleitores dizem que não votariam na sua reeleição de jeito nenhum. Isso ainda sem levar em conta os efeitos negativos da CPI da Covid.

EVIDENTE FRAGILIDADE – Diante desses números desastrosos, fica evidente a fragilidade do presidente. É, portanto, no mínimo precoce que o centro democrático busque alianças ou sinalize apoio a alternativas supostamente “menos ruins” ou “menos preferíveis” no momento em que Bolsonaro dá sinais de perda expressiva de competitividade eleitoral.

Ceder ao argumento de que o governo Bolsonaro, especialmente a sua reeleição, representaria uma ameaça de ruptura democrática é pura chantagem contra uma candidatura do centro democrático. E o que é pior, significa se fiar em um salvador da pátria, com um contencioso moral para lá de questionável cujo partido levou o País para a pior recessão econômica da história, como o único capaz de derrotá-lo.

Não só o PSDB, mas o centro democrático como um todo, precisam encarar seriamente o desafio de encontrar uma alternativa competitiva que rejeite as duas opções polares existentes e se coloque no jogo. Não é possível apostar num placar antes de colocar o time em campo.

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