Suspeitas graves de corrupção gravitam à volta das mais altas Cortes do País. Artigo do professor Carlos Alberto Di Franco, publicado pelo Estadão:
O
ministro Luiz Fux assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal
(STF) com um discurso promissor. Foi claro no seu apoio ao combate à
corrupção, na sua explícita desconformidade com o ativismo judicial, no
seu deferente respeito pela independência e legítima autonomia dos
Poderes da República e no seu renovado compromisso com a liberdade de
imprensa e de expressão.
O
novo presidente da Corte não ficou em conceitos abstratos ou em meras
declarações de ocasião. “Não permitiremos que se obstruam os avanços que
a sociedade brasileira conquistou em razão das exitosas operações
contra a corrupção autorizadas pelo Judiciário, como ocorreu no mensalão
e tem ocorrido com a Lava Jato.” Sua gestão, ao menos no que dele
depender, não será marcada pela retórica da tergiversação, pelos
malabarismos processuais e pelo juridiquês que oculta o rosto perverso
da impunidade. Simples assim. Será pró-Lava Jato. A sociedade entendeu o
recado: os eventuais excessos ou pecadilhos da Lava Jato não justificam
seu escancarado desmonte.
Fux
criticou a judicialização da política e o excesso de ações que o
Supremo julga por ano. Ao dizer que o Judiciário não é “oráculo”,
defendeu a tese de que Executivo e Legislativo resolvam seus conflitos
internos, sem que o STF atue verticalmente, e prometeu uma “intervenção
minimalista” em matérias sensíveis: “menos é mais”, disse com sabedoria e
pragmatismo. “Conclamo os agentes políticos e os atores do sistema de
Justiça a darmos um basta na judicialização vulgar e epidêmica de temas e
conflitos em que a decisão política deva reinar.” Foi certeiro.
A
liberdade de imprensa e de expressão e a defesa das minorias também
mereceram destaque no discurso de Fux. “O Judiciário não hesitará em
proferir decisões exemplares para proteger minorias, liberdade de
expressão e imprensa, a preservação da nossa democracia e do sistema
republicano.” Trata-se de oportuno contraponto à surpreendente retórica
de seu antecessor. De fato, em debate promovido pelo site Poder 360, o
ministro Dias Toffoli espraiou-se em descabida comparação entre
atividades da imprensa e do Judiciário. Depois de se referir ao fato de
que toda empresa de comunicação tem seu editor, explicou: “Nós, enquanto
Judiciário, enquanto Corte, somos editores de um país inteiro, de uma
nação inteira, de um povo inteiro”. Declaração explícita de
autoritarismo. Autêntico AI-5 informal do Judiciário.
Recentemente,
sob o pretexto de combater as fake news, na contramão da Constituição, e
assumindo o papel de polícia, promotor e juiz da própria causa, a Corte
Suprema minou as garantias básicas do cidadão – da liberdade de
expressão ao direito de defesa. Pessoas foram presas sem culpa formada e
blogs foram censurados. Há crimes? Cumpra-se a lei. Aplique-se o Código
Penal. Mas não se use um remédio que seja capaz de matar a liberdade.
O
ministro Luiz Fux tem a nobre e árdua missão de recuperar a imagem do
STF e contribuir, de algum modo, para a recuperação do prestígio do
Poder Judiciário perante a sociedade. A crise de credibilidade do
Judiciário é acelerada e preocupante.
O
noticiário, infelizmente, não tem trazido boas notícias para uma
população que vê nos juízes sua derradeira esperança. Pincei, ao acaso,
dois episódios exemplares. Existem muitos outros. Infelizmente. A
desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia Maria do Socorro Barreto
Santiago, ex-presidente da Corte, está presa, denunciada na Operação
Faroeste. Trata-se de denúncia do Ministério Público Federal contra 15
investigados na operação que apurou esquema de compra e venda de
sentenças em disputas de terras na região oeste da Bahia. Isso mesmo,
amigo leitor: venda de decisões judiciais e sob o comando da presidente
do Tribunal de Justiça. A desembargadora, certamente, continua recebendo
integralmente seus honorários.
Setembro
não fechou e outro escândalo abala o Judiciário. O juiz da 7.ª Vara
Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, aceitou denúncia
contra 26 pessoas por suposto envolvimento em esquema que teria
desviado, entre 2012 e 2018, R$ 151 milhões de recursos repassados pela
Receita Federal ao Sistema S – Sesc, Senac e Fecomércio – do Estado, por
meio de contratos fictícios de advocacia. A força-tarefa da Lava Jato
do Rio investiga ainda suspeita de desvios de outros R$ 204 milhões pelo
esquema.
Entre
os réus estão o advogado Eduardo Martins (filho do presidente do
Superior Tribunal de Justiça, ministro Humberto Martins), o também
advogado Tiago Cedraz (filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de
Contas da União), o ex-ministro do STJ César Asfor Rocha e seu filho,
Caio Rocha, os advogados Cristiano Zanin e Roberto Teixeira, que
representam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a advogada Ana
Tereza Basílio, defensora do governador afastado do Rio, Wilson Witzel
(PSC), além do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e da ex-primeira-dama
Adriana Ancelmo.
Resumo
da ópera: suspeitas graves de corrupção gravitam à volta das mais altas
Cortes do País. As instituições brasileiras estão no limite, não têm
gordura para queimar em termos de credibilidade.
Boa sorte, presidente Fux.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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